"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Carlos Moedas a confirmar a suspeita que paira na cabeça das pessoas desde o dia em que sem saber ler nem escrever lhe caiu a câmara de Lisboa no colo. Não faz a porra da ideia do que é governar uma cidade, não tem a mínima sensibilidade para os problemas dos cidadãos. Desconhece completamente os bairros que para além da da zona onde mora e onde vive o seu círculo de amigos. Não sonha nem quer saber o que é sair de casa às 5 da manhã para fazer os trabalhos que os outros não querem fazer, limpar a merda que os outros fazem, e regressar a casa já o telejornal está no ar. Não sabe nem procura saber o que é ser criado à solta no bairro, o dia todo na rua, o gang como única relação de parentalidade. Tudo se resolve à cacetada, com repressão, quando é precisamente essa cacetada e essa repressão que geram os motins e a revolta.
O "fenómeno" Moedas devia servir para o PS parar, fazer introspecção, autocrítica, a [dimensão da] porcaria que fizemos [fizeram] para um inepto e incompetente, mentiroso e propagandista, chegar a presidente da câmara de Lisboa. Infelizmente não é isso que vai acontecer.
Apanhado a mentir com quantos dentes tem na boca, amuou, fez birra, e saiu da sala. Como toda a gente sabe o pelouro de chamar aos outros mentirosos é exclusivo de Carlos Moedas que acumula com o de presidente de câmara. Ensaia uma fuga para a frente, "vamos lá desviar o foco para a segurança", um clássico da direita pantomineira. Saiu-lhe mal. É inconstitucional. O exemplo vem de cima, de outros dois sonsos, o chefe e o sub-chefe, Marcelo & Montenegro, que marcam conselhos de ministros decisórios com a presença do Presidente da República. Continua a mentir. Não se sai pior por causa da mãozinha dos "inimigos do povo".
Luís Montenegro mentiu, Paulo Rangel mentiu, Carlos Moedas mentiu, como antes tinha mentido a ministra da Saúde, e como antes tinha mentido o ministro da Educação. Isto não é um Governo, isto não é um presidente de câmara, isto não é um partido, isto é um episódio do Pinóquio.
Sai o Relatório de Segurança Interna a dar conta do aumento da criminalidade, com os principais indicadores a incidirem no tráfico de pessoas, auxílio à imigração ilegal, crimes de ódio e violência entre grupos, curiosamente o que a direita, alegadamente democrática, insiste em desvalorizar: a imigração ilegal fruto dos entraves colocados à entrada em quem procura trabalho legal; crimes de ódio e violência entre grupos, pelo normalizar de comportamentos inaceitáveis, em nome da liberdade de expressão, liberdade de associação, e do princípio "se os proibimos aqui, amanhã abrem na porta ao lado, portanto é deixa-los estar", e logo o inefável Moedas apareceu nas televisões a dizer não estar surpreendido com o relatório porque "já há dois anos atrás [como será há dois anos à frente ou há dois anos ao lado?] "dizia ao antigo ministro que havia maior criminalidade, que ele sentia na rua", o mesmo princípio de análise científica - "O Sentimento", que o levou a assegurar que as Jornadas Mundiais da Juventude tinham sido um sucesso estrondoso para a restauração lisboeta, e não o fiasco que foram, porque alguém que tinha hospedado em casa lhe contou que o Pinóquio nos Restauradores estava com fila à porta.
A facilidade com que Moedas aparece nas televisões, por si convocadas para perorar por tudo e mais alguma coisa, sem qualquer contraditório, nem uma única pergunta difícil da parte dos pés de microfone, como forma de esconder a incompetência com "o barulho das luzes", é na base do mesmo princípio de quem engordou e andou com Ventura ao colo e que agora procura um candidato mais fofinho.
Poderá Vossa Excelência, senhor Presidente do Conselho, por obséquio, desobrigar-se do cargo em que foi empossado, devolver a palavra ao povo para que este diga de sua justiça, ponha fim a uma guerra sem sentido em terras que não são suas, e possa andar na rua de cabeça erguida?
Este seu criado, Fernando José Salgueiro Maia, ao seu dispor.
"um Abril Moderado", assim mesmo, em maiúsculas. A sonsice da direita, chorona de um 25 de Novembro que não aconteceu, é uma coisa sempre surpreendente.
Que o amigo seja o mandatário nacional do Ilusão Liberal, os tais do "Fora com o Estado, schnell, schnell! Mais trabalho e menos subsídios do Estado! Mais transparência nos negócios e menos amiguismo!" surpreende quem quiser ser surpreendido.
Diz que Carlos Moedas é grande estadista por ter posto os pontos nos is e dizer preto no branco que a imigração faz falta, não podemos é "tolerar atentados contra a dignidade humana", e que a "imigração tem que ter regras, que garantam que quem entra no país tem contrato de trabalho e condições para viver com dignidade". E foi prontamente aplaudido, por unanimidade e aclamação, pelos compagnons de route que, desde pelo menos 2006, ano em que saíram dos buracos para os blogues, onde foi congeminada a direita ilusionista liberal, fã do 'amaricano' Tea Party e com fotos da Margaret Hilda na parede do quarto, sempre defendeu a virtude da iniciativa privada que criou os Uber, Uber Eats, Glovos desta vida, precisamente alimentados pelos imigrantes sem contrato de trabalho, sindicatos vade retro Satanás, coisa de comunistas, e sem sítio para dormir, que durmam empilhados uns nos outros que sempre se aquecem no Inverno. E nesta enxurrada orgásmica de aplausos temos alegados jornalistas, que não têm memória nenhuma do que era a direita liberal quando Passos começou a rabear com Manuela Ferreira Leite, moravam em Marte, taditos, mesmo aqueles que marcaram presença no congresso que havia de entronizar o barítono em Mafra.
Para assinalar o 25 de Novembro, esse dia lindo e maravilhoso que segundo a direita foi tão ou mais importante que o 25 de Abril na restituição da liberdade e da democracia ao povo português, a câmara de Lisboa convida José Miguel Júdice, o tal que nos idos do fascismo liderava um bando que considerava Marcello Caetano um perigoso esquerdista enquanto se entretinha a "incendiar Coimbra" e que, derrubada a ditadura, integrou uma organização terrorista ao lado do camarada chegano Pacheco Amorim, para debate moderado pela moderada Helena Matos, que já o 25 de Abril ia alto foi para o alto da Sierra de Estrela, a Maestra tuga, de armas na mão "combater os activistas burgueses, contra-revolucionários, que queriam instaurar um regime democrático em Portugal", agora escriba no online da direita radical, o Observador, palco de alucinados que fazem o Milei argentino parecer um tipo sensato, frente ao Álvaro, que em beleza podia ser militante do PSD mas agora que está no PS deixa-me [ele] estar. "Excelente iniciativa de @Moedas", deixa no Twitter Paulo Pinto Mascarenhas, ex dirigente do malogrado CDS e adjunto de gabinete de Paulo Portas nos idos em que andou a ministeriar pela Defesa e pelo Mar. "Espetáaaaaclooo!", parafraseando "o gordo" do Preço Certo.
Que não devemos alimentar radicalismos de minorias disse "o Moedinhas a funcionar" no paleio do 5 de Outubro, data que celebra a iniciativa de uns quantos radicais que mataram o rei e implantaram a República, depois de anunciar que a câmara de Lisboa vai comemorar o 25 de Novembro, o secretário de Estado do Governo que acabou com o... 5 de Outubro e o 1.º de Dezembro. Todas as datas contam, sublinhou. A manha da direita manhosa coadjuvada pela esquerda que lhe abre as pernas.
72 anos depois da publicação de As Origens do Totalitarismo temos a direita, que enche a boca de Hannah Arendt, a classificar o outro não como ser humano mas como alguém que professa outra religião ou que é proveniente de outra realidade cultural, com outros usos e costumes, e que por isso deve ser mantido à margem, de início. Sabemos como isto começa e sabemos como isto acaba. E também sabemos que a direita, que enche a boca de Hannah Arendt, nunca leu Hannah Arendt, ou leu e não percebeu, ou leu e percebeu até bem demais e enche a boca para fazer um bonito ou para parecer que é muito erudita. Ficam pior na fotografia que a fotografia que distorcem do outro, do diferente. 72 anos depois.