"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Deu para António Costa finalmente proferir as palavras proibidas feitas palavrinhas mágicas: "maioria absoluta";
Deu para Rui Rio aparecer de gravatinha cor de fralda de bebé mudada, qualquer que se a a mensagem subliminar;
Deu para Catarina Martins explicar ao moderador, Carlos Daniel, o que está em causa e o que vai ser votado dia 30;
Deu para António Costa começar ao ataque, que é como quem diz à mentira, com "a alternativa à maioria absoluta ser crise atrás de crise e eleições de 2 em 2 anos" apagando em directo e a cores os anos entre 2015 e 2018, qual Estaline de tesoura em riste a cortar fotografias com o Trotsky;
Deu para Chicão, nascido em 29 de Setembro de 1988, recuperar a memória do sofrimento que foram os anos do PREC;
Deu para Ventura, líder de um albergue de neo nazis e fascistas saudosos de Salazar, invocar os países que nos ultrapassaram na União Europeia, os de leste que nos idos do matacão de Santa Comba tinham homens no espaço enquanto nós tínhamos uma autoestrada de Lisboa ao Casal do Marco, as estradas pejadas de carroças puxadas a burros e demorávamos 5 horas a chegar ao Algarve;
Deu para João Oliveira esfregar na cara de António Costa que os ganhos que exibe como trunfo para uma maioria absoluta só foram possíveis porque o PCP se chegou à frente, caso contrário tínhamos gramado com mais 4 anos de Governo da troika, com o PS a abanar a cabeça na bancada como os cães de feira que nos 70s se usavam na parte de trás dos carros;
Deu para Cotrim de Figueiredo dizer que acreditava no Pai Natal com as pessoas que sobem na vida a trabalhar;
Deu para Rui Rio afirmar que já reduziu despesa pública em empresas privadas;
Deu para Ventura recuperar a bisca das "fundações e organismos que absorvem recursos do Estado" lançada pelo Criador, Passos Coelho, nos anos do Governo da troika;
Deu para Rui Rio, líder de um partido que há 40 anos não faz outra coisa que desinvestir e retirar competências ao Serviço Nacional de Saúde, dizer que o SNS está em falência, depois de ter passado os debates anteriores a dizer que há funcionários públicos a mais;
Deu para Cotrim de Figueiredo passar todo o santo debate a dizer que António Costa não respondia às questões enquanto ele próprio ganhava o cognome de O Ilusionista por causa dos truques para fugir à questão flat tax;
Deu para Rui Tavares vestir a fatiota de Cotrim de Figueiredo e explicar aos telespectadores que com a taxa chata do Ilusão Liberal quem fica a ganhar são os mais ricos, para rombo nos cofres do Estado que asseguram serviços públicos gratuitos e universais;
Deu para Ventura voltar à carga com "o país em que metade trabalha para outra metade que não quer fazer nada" e "um país outro todos roubam e ninguém vai para a prisão", precisamente no dia em que se soube que a agremiação de bandalhos a que preside vai ser despejada da sua sede em Évora por não pagar a renda da casa há 8 meses;
Deu para António Costa fazer autocrítica: "o que faltou foi vontade política para viabilizar o Orçamento do Estado";
Deu para Chicão falar em três banca rotas desde 1995 apesar de nem uma ter havido e a que podia ter acontecido foi evitada;
No É Ou Não É de Carlos Daniel, que na RTP substituiu Prós e Contras de Fátima Campos Ferreira, sem os apartes imbecis e com menos interrupções a despropósito, esta semana subordinado ao tema "Que Estado Devemos Ter", apresentou um painel com Ana Gomes, Assunção Cristas, António Pedro Vasconcelos, Augusto Mateus e Carlos Guimarães Pinto. O BE e o PCP, partidos que defendem uma efectiva intervenção do Estado em todas as áreas, desde a economia à saúde passando pela educação, olímpicamente ignorados.
Um partido que nasceu anteontem numa rede social, e que nas últimas legislativas elegeu um deputado, com um representante num programa de televisão, num canal condenado à privatização caso algum dia chegasse a formar governo, com o argumento do "peso do Estado" na comunicação social e da "máquina de propaganda".
Um partido que nas últimas legislativas foi remetido para a cauda do Parlamento, e que a fazer fé em todas as sondagens e estudos de opinião vai pura e simplesmente desaparecer nas próximas eleições, com uma ex-ministra representante, que foi perorar sobre e tudo e mais um par de botas menos sobre o que interessava ouvir: o papel do Estado como trampolim e porta giratória público-privado-público para todos os quadros do partido a que pertence.
A menos que haja alguma espécie de Jorge Mendes do paineleirismo comentadeiro estas coisas não fazem um mínimo de sentido numa televisão pública. Ou se calhar até fazem, à luz do "marxismo cultural" que, segundo os minons da direita, domina o comentário político televisivo neste país dos sovietes.
O mesmo "marxismo cultural" que leva a que tenhamos todos os dias nas televisões fanáticos ideológicos que querem desmantelar o Estado em favor de interesses privados a acusar de "preconceito ideológico" quem defende papel forte do Estado. O mesmo "marxismo cultural" que anda há mais de 30 anos a desinvestir e a retirar competências ao Serviço Nacional de Saúde para depois vir invocar a ausência de resposta e a incapacidade do Serviço Nacional de Saúde como argumento para o entregar ao privado da saúde negócio. Convenhamos, isto é de génio!
O porco na chafurda, alimentado por Clara de Sousa no amigável Ana Gomes vs. Marisa Matias, quando ambas estavam prestes a concordar que as duas candidaturas podiam muito bem ser uma, assim do nada e a completo despropósito, a introduzir o Ventas do Chaga no debate. "Então o quer pensa? Então o que acha? Então o que..?".
O porco na chafurda, a levar uma lição de ética e humanidade dada por um calceteiro que o obrigou várias vezes a engolir em seco enquanto passava a mão pelo colarinho apertado pela gravata [as imagens estão lá para o comprovar], com Carlos Daniel a não perceber nada de nada da alegoria das pedras de várias cores trazidas pelo mar e ainda mais uma referência a Peniche, deve ser por causa do surf, Carlinhos tenrinho, que nem sequer sabes o valor do RSI caso contrário tinha-te ocorrido perguntar como é que alguém que o recebe consegue passar os dias inteiros do mês no café a beber cerveja, ou se calhar não perguntavas.