"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Passos Coelho chamou para o cargo [governador do Banco de Portugal] Carlos Costa, um homem com um passado profissional longo e credível e um distanciamento da política notório [...]".
Passam uns quantos cheques sem cobertura e têm o nome escarrapachado no sítio do Banco de Portugal e impresso em papel atrás do balcão de todas as lojas do país.
Atrasam-se num pagamento, qualquer que seja o motivo, que o Fisco só vê números de contribuinte não vê corações, e ficam com o nome em exposição no online das Finanças.
Injectamos 23,8 mil milhões na banca nos últimos 12 anos e a lista dos ladrões é "segredo de Estado", não autorizada a consulta pelo escudeiro dos banqueiros, em flagrante desrespeito pelos representantes eleitos pelas vítimas do roubo em eleições livres e democráticas, e que ainda se dão ao luxo de pagar com o dinheiro dos seus impostos o principesco salário a quem, no Banco de Portugal, devia ter por princípio último zelar pelos supremo interesse dos contribuinte e não por fechar os olhos ao fartar vilanagem dos banqueiros.
Como diria o malogrado "camarada" Arnaldo Matos, "é tudo um putedo".
A gente sabe que a vidinha custa a todos mas o ordenado que se recebe justifica andar de cabeça baixa, ver o nome enxovalhado na praça pública enquanto se lhe aponta a porta da rua como serventia da casa e se percebe que só não se leva com a vassoura porque o estatuto não o permite?
A verdade é que se Carlos Costa não tem sido o biombo da direita radical PSD/ CDS na resolução bancária ao BES já os ditos aqui andavam, nas "redes" e nas avenças semanais nos jornais e televisões, há muito a invocar a sua nomeação pelo Sócras para Governador do Banco de Portugal e que era tudo farinha do mesmo saco, à imagem do que aconteceu com Vítor Constâncio.
O excelentíssimo senhor Governador do Banco de Portugal consegue gastar 8 561 [oito mil quinhentos e sessenta e um] caracteres na mensagem de Ano Novo onde perora desde o crescimento da economia à sustentabilidade do Estado social, passando pela dimensão do Estado que temos comparativamente com a riqueza que criamos [um "viver acima das nossas possibilidades" dito de outra maneira para não agitar fantasmas] até ao endividamento público e privado e aos baixos níveis de investimento empresarial, sem nunca referir a transformação da dívida privada em dívida pública ocorrida na Europa nos últimos 7 anos; sem nunca referir o resgate dos bancos privados pelos contribuintes [o maior e mais importante durante o seu mandato] através da carga fiscal e desviando recursos do Estado social, essenciais a sectores como a saúde, educação e a segurança social; sem nunca referir as privatizações ao preço da uva mijona de sectores estratégicos do Estado; sem nunca referir uma economia assente na distribuição de mais-valias milionárias aos patrões e accionistas, assente nos baixos salários e precariedade e sem investimento reprodutivo. Chapéu, excelentíssimo senhor Governador!
O Governador do Banco de Portugal, que não vê motivos para abandonar o salário o posto, reconduzido no cargo pelo primeiro-ministro, que não via necessidade de discutir em conselho de ministros o sector bancário, dos bancos resolvidos de cruz via e-mail com os pés de molho a partir do Algarve.
O que o Governador do Banco de Portugal tem, sem vir consignado em lei ou num qualquer estatuto, é o poder da palavra. Não para ser o Donaltim boneco ventríloquo de alguém ou de algum Governo mas para fazer valer o interesse público e as boas regras de gestão. O poder da palavra, senhor Governador, não é preciso uma estrela de xerife colada ao peito ou uma farda de polícia, é só o poder da palavra.
"A credibilidade do Banco de Portugal". Carlos Costa faz-de de desentendido e desvia o foco com um "defender a reputação" do Banco de Portugal quando o que está em causa é a reputação do Governador do Banco de Portugal, nada de misturas, galdeiragem à parte, como diz o pagode. A reputação do Governador que aceitou ser reconduzido no cargo depois do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BES, com conclusões nada abonatórias para a sua pessoa, assinadas pelos representantes dos partidos que o reconduziram; a reputação de quem aceita ser reconduzido no cargo a poucos meses das eleições; a reputação de quem já Governador do Banco de Portugal não colocou o lugar à disposição do novo poder político. Não há "confiança do público na eficácia e na diligência da supervisão bancária" que resista a governadores desta estirpe.