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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

|| Só boas notícias

por josé simões, em 05.05.11

 

 

 

 

 

O património natural e ambiental comum fica como e onde sempre esteve, para usufruto da comunidade e não de uma elite endinheirada; a Câmara Municipal deixa de receber as licenças de construção e os IMI’s e com isso fica substancialmente reduzida a margem de manobra para o clientelismo; os construtores civis e os empresários da hotelaria e restauração deixam de ganhar mais-valias pornográficas a coberto da criação de emprego, na grande maioria trabalho sazonal e mal pago, e sobre o qual nunca ninguém se preocupa em confirmar, à posteriori, a relação entre o que foi prometido e o efectivamente realizado; as holdings bancárias ficam com o circuito entre a entidade que faz o estudo de impacto ambiental, a que financia o projecto, a que constrói e a que comercializa, quebrado; and, last but not the least, personagens como João Lagos deixam de aparecer, a custas do dinheiro dos contribuintes, a pavonear-se em tudo o que é revista cor-de-rosa como grandes divulgadores da imagem de Portugal no estrangeiro e como fomentadores do turismo.

 

Só por causa disto já valia a pena o FMI ter vindo há pelo menos 15 anos.

 

Adenda: «lamentando assim que o país perca este “importante evento por estar à beira da bancarrota”». De lamentar é que um presidente de Câmara não perceba que um dos factores que colocaram Portugal à beira da bancarrota seja precisamente este tipo de negócios entre o Estado e o sector privado.

 

 

 

 

 

 

 

|| R. I. P.

por josé simões, em 13.01.11

 

 

 

 

 

Deviam ter aproveitado a ocasião para descerrar uma placa com os dizeres: “Aqui jaz o património natural/ ambiental comum, morto às mãos de um autarca do Partido Socialista e dos PIN”:

 

«Carlos Beato, presidente da Câmara Municipal de Grândola foi distinguido com a Medalha de Honra da AHRESP – Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, pelos “louváveis e relevantes contributos em prol dos sectores representados por esta Associação e consequentemente do Turismo”»

 

(Na imagem Rudolfo Valentino em câmara ardente via Hulton Archive/ Getty)

 

 

 

 

 

 

 

O homem não vive neste país! (ou Mário Soares é um "anjinho"?)

por josé simões, em 12.02.08

 

 
Escreve hoje Mário Soares no Diário de Notícias numa cónica intitulada O General e o Bastonário:
 
“(…) o do novo bastonário da Ordem dos Advogados, dr. Marinho Pinto, que disse conhecer casos de tráfico de influência escandalosos e negócios suspeitos entre políticos, de sucessivos governos, empresas e empresários que actuam em Portugal. Trata-se de benesses e de concessão de favores que são "recompensados", depois, por chorudos lugares de gestão nessas mesmas empresas. E de negócios e empreendimentos milionários que implicam favores do Estado e concessões das autarquias, que se sobrepõem às regras públicas do ordenamento do território com o pretexto de potencial interesse nacional (PIN).

O grave é que tudo se passe na maior impunidade, sem que as instituições do Ministério Público, policiais e de controlo investiguem os rumores que circulam ou, se o fazem, as investigações não são divulgadas para terem, ao menos, a consequente sanção moral. A comunicação social às vezes fala e escreve. Mas como não há resposta o silêncio é suposto fazer esquecer. Será assim?”
 
Não terei certamente o prazer de ver um comentário, como dizem os monárquicos, do senhor Mário Soares neste meu blogue, mas ainda assim vou distribuir as parcelas e cada qual que faça a soma, a subtracção, a divisão ou a multiplicação conforme lhe aprouver. Com uma certeza porém: o resultado será sempre o mesmo; não há matemática ou aritmética que resista.
 
 
 
Em Abril de 2006 o Governo PS decidiu reestruturar os serviços prisionais. Uma das prisões incluídas no rol foi a do Pinheiro da Cruz com a sua fantástica frente atlântica e praia de areias brancas. Isto apesar de em 2000 ter sido considerada como uma das melhores da Europa.
 
Por uma daquelas coincidências das democracias, quis o destino, pela cruz dos eleitores nos boletins de voto, que houvesse um executivo camarário em Grândola da mesma cor política do Governo da Nação – o que é mais que meio caminho andado para disparar a construção por tudo o que seja palmo de terreno livre –, e logo se anuncia um projecto turístico para os “melhores quilómetros de frente atlântica” (sic); por oposição ao conservadorismo (literalmente) camarário PC no litoral alentejano e Costa Vicentina; não fazem nem saem de cima. E desculpem a minha franqueza, mas em matérias de protecção da natureza e conservação do património natural, a haverem eleições autárquicas específicas para a área eu votava no PC.
 
 
Este sábado o Expresso na coluna Sobe e Desce colocava Ricardo Salgado do BES a subir:
 
“Não é todos os dias que um grupo económico consegue que o Governo reduza a reserva ecológica nacional (REN) e autorize a construção de oito mil camas residenciais, três mil turísticas e três campos de golfe no litoral. A Comporta não será a mesma – vamos a ver se fica melhor”
 
Leram bem 11 000 – onze mil – 11 000 camas. Numa área pouco maior que a Avenida da Liberdade em Lisboa, com uma biodiversidade fantástica, e onde agora existem arrozais e sapais. Como já devem ter percebido a Comporta (a que o Expresso se refere) pertence ao concelho de Grândola, a tal Câmara PS. O promotor do empreendimento é o mesmo que se posiciona na linha da frente da grelha de partida para o Pinheiro da Cruz. Aquele que anda metido numa alhada por causa dos sobreiros na Herdade Portucale, e com os ministros do CDS à mistura.
 
Avança o autarca de Grândola com o mesmo parlapiêt do Governo. Que se vão criar não sei quantos mil postos de trabalho directos e mais não sei quantos mil indirectos. Não podia estar mais de acordo! Na fase da construção vai ter um impacto fantástico em economias como a da Moldávia, da Ucrânia e do Brasil, que é quem fornece a mão-de-obra, barata e submissa, feita à medida dos empreiteiros com poucos escrúpulos. Na fase do funcionamento pleno, ainda vai ter um impacto maior num concelho rural e envelhecido como o de Grândola, um autentico viveiro-fornecedor de técnicos especializados na área do turismo! As sisas e as rendas obviamente, e no ponto de vista da Câmara, têm um peso residual…
 
Neste fartar vilanagem de destruição e depredação do património natural a coberto do desenvolvimento das regiões, o autarca de Grândola ganha um aliado. O seu vizinho fronteiriço e presidente da Câmara de Alcácer do Sal, por coincidência também do PS, e que tem uma perspectiva sui generis da REN; em que tudo se resume a uma questão de burocracias:
 
“este processo arrastou-se durante muitos anos e só agora se conseguiu concretizar graças à nossa teimosia, mas também ao Governo, que tem tido alguma vontade de libertar estas questões burocráticas”
(link).
 
Entretanto a untouchable atlantic coast que andamos a vender aos bifes foi-se. E quando eles começarem a ver no logro que caíram também se vão.
 
Senhor Mário Soares, “o grave é que tudo se passe na maior impunidade” pelas mãos do partido que o senhor ajudou a fundar, “sem que as instituições do Ministério Público, policiais e de controlo investiguem os rumores que circulam”. “Será assim?
 
Post-Scriptum: Enquanto Ricardo Salgado subia no Expresso, a descer não se viam Carlos Beato, presidente da Câmara de Grândola, nem o ministro (?) do Ambiente (como é que ele se chama mesmo?!). Para o Expresso a REN também é sinónimo “questões burocráticas”?
Adenda: ler Big Show Berardo no Zero de Conduta