"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Por cada pack comprado oferecemos um iogurte às famílias mais necessitadas", diz o comercial da Danone a passar nas televisões. Até admitimos que haja quem goste de brincar à caridadezinha, escusavam era de gozar com as famílias as pessoas.
E era organizada pelas senhoras das "boas famílias" em lanches de chá, à vez na casa de cada uma, como forma de ocuparem o tempo com qualquer coisa de útil para a sociedade, que desconhecia, pela inexistência, o Estado social. É, mas não é principalmente, a destruição do Estado social, até porque isso lhes está nos genes, é antes a criação e o fomento de milhares de desempregados, como primeira etapa para a miséria, que os devia fazer pintar a cara de preto, ao invés de aparecerem, com orgulho, a dizer que a caridade, rebaptizada de economia social, gera riqueza e dá emprego. Este Governo faz negócio com tudo, até com a miséria alheia. Já experimentaram alugar ou vender as próprias mães?
Caridade versus ausência de Estado. Faz lembrar o Islão. Há que fazer a Europa laica regressar ao aconchego da Santa Madre Igreja. Allahu Akbar. Deus, O Misericordioso.
[Imagem "Toast From The Jesus Toaster" by Paul J. Richards]
«[…] há o problema dos imigrantes que entram todos os dias pelas ilhas da Grécia, sobretudo os curdos e os afegãos. Pessoas miseráveis que não têm ambição nenhuma de trabalhar […] que vão demorar até se endireitarem.» Heil!
O trabalho de Isabel Jonet à frente do Banco Alimentar Contra A Fome é assim a modos como o da Madre Teresa de Calcutá e das Irmãs da Caridade no continente asiático, serve para de xis em xis tempo a sociedade capitalista [no sentido da sociedade em que vivemos] limpar a má consciência e continuar tranquila de pantufas no sofá no aconchego do lar. O resto é conversa de ir ao cu.
Aumentam-se as taxas e os impostos, confisca-se uma parte do salário, liberalizam-se os despedimentos, reduz-se a protecção no desemprego, destrói-se a economia e, por consequência, aumenta o exército de desempregados, que não é de todo indesejado pois vai servir como forma de pressão sobre os que têm emprego, mas que é necessário alimentar para manter a ordem e a paz pública.
E nada disto é novo, e tudo isto já foi inventado. Por volta do ano 70 a. C., era a plebs frumentaria, o exército de 40 000 desempregados do Império Romano que recebia pão gratuitamente do Estado. E veio sempre a aumentar [em 275 d. C. eram já 300 000] até à destruição do Império para a qual deram o seu contributo.
O problema é que a Direita tecnocrata que governa a Europa não estudou História, uma disciplina menor, estudou Economia e mal, só vê números à frente dos olhos, e no imediato.
Ainda sou do tempo do cauteleiro na baixa a oferecer um lugar garantido no Reino dos Homens, via “vigésimo”, que andava sempre amanhã “à roda”. E no Natal, alturas em que se celebra o Reino de Deus, cujos desígnios são insondáveis (que foi a maneira encontrada para justificar todas as vicissitudes do dia-a-dia), era um ver se te avias, era a “taluda”. Coisas aparentemente inconciliáveis, o Reino de Deus e as moedas de César, em alegre coabitação.
Ontem como hoje, “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus”. Bem pode José Barata Moura cantar.