|| Não se riam que o caso é sério
Uma vez, aqui há uns anos, largos, muito antes do Istagram para a posterioridade, numa aldeola ali para os lados de Bragança e de que não me recorda agora o nome, fui dar com uma barbearia, daquelas à antiga, com cadeira elevatória de alavanca, barba com pó de sabão e navalha amolada mesmo ao lado da orelha do cliente, e que tinha dois calendários na parede de cada lado do espelho, um com a Nossa Senhora de Fátima, em cima de uma oliveira adorada pelos pastorinhos, outro com a Samantha Fox, atrás do "airbag", adorada pelos clientes. Sagrado e profano, religiosidade popular e essas coisas assim.
Vem isto a propósito do paganismo da Igreja Católica, abençoado e estimulado pelo Vaticano, mais os seus santos para cada dia do ano e para todos os fenómenos, explicáveis ou não, à face da terra, do ar e do mar, e do culto pela imagem, para explicar de modo palpável coisas do etéreo, e dos turbilhões que gera na cabeça dos fiéis. Um pormenor em relação às outras duas religiões abraâmicas.
E se um homem primeiro, cardeal depois, um gonzo do Papa, o representante de Deus na terra, e que não funciona sem o olhar, sem o palpável para agarrar a Fé, se tivesse refugiado numa barbearia de uma aldeia de Trás-os-Montes?
[Samantha Fox na imagem de autor desconhecido]