"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O keffiyeh, na "rua ocidental" símbolo da luta contra o capitalismo global e contra o imperialismo 'amaricano', canabilizado e comercializado pelo sistema que visa combater. Faz tanto sentido usar um keffiyeh como uma t-shirt do Che ou beber uma Coca-Cola. O homem que passou uma vida inteira ao largo da política explica.
O que começou por ser um problema português, "as tradicionais má organização e gestão portuguesa", "a má imagem que Portugal dava de si ao mundo", "o SEF entrega ao Deus-dará", pior ainda, "a ruinosa gestão socialista", depressa passou a ser um problema europeu, para já ser o caos nos aeroportos norte-americanos, canadianos e australianos. A seguir vão descobrir que a ganância das companhias aéreas e aeroportuárias despediu milhares de funcionários ao nível global, porque a margem de lucro do patrão e do accionista é sagrada e nada as obriga a aguentar uma quantidade de gente à espera que a pandemia passe, de barriga esticada a expensas de milhões em mais-valia acumulados ao longo de décadas, mais que não fosse pela civilização e respeito pelo próximo, em oposição à lei da selva, aquilo que os avaros, gulosos e gananciosos costumam apelidar de "caridade cristã" quando ao domingo se ajoelham para papar a hóstia.
Desinformação, racismo, fakenews, aquecimento global, blah-blah-blah, poluição, feminismo, pegada alimentar, igualdade, patati patatá, à cautela o melhor é ir tratando da vidinha, que custa a todos, enquanto não se faz um programa sobre precaridade, exploração extrema, total ausência de direitos e garantias, o capitalismo selvagem elevado à sua máxima potência, que sou uma mulher de causas, muito moderna, muito coerente.
"Words that read 'Capitalism is the virus' are seen at an abandoned building as the spread of the coronavirus continues, in New Orleans, Louisiana". Carlos Barria/ Reuters.
Naomi Klein em No Logo - O Poder das Marcas [em português] já havia demonstrado como os sucessivos cortes orçamentais pela agenda liberal e neo-liberal das administrações norte-americanas obrigaram as universidades a recorrer a subsídios e financiamentos de empresas privadas para sobreviver e, como a consequência da entrada das marcas globais no campus universitário, a adulteração dos currículos e dos cursos, direccionados e orientados consoante a vontade e exigência do pagador, a empresa ou a marca que os subsidia. Como disse uma vez a dona Manuela Ferreira Leite "quem paga é quem manada". Agora, e fazendo honra ao escrito por Marx em 1852 no Dezoito Brumário de Louis Bonaparte, assistimos à repetição da história em farsa, com os cortes orçamentais, na Europa a austeridade, a obrigarem os municípios aceitar o contributo das empresas privadas por forma a conseguirem manter as estradas minimamente aceitáveis e circuláveis.