"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Com o país a crescer acima de média da União Europeia, a Segurança Social com um excedente de 5,46 mil milhões de euros, a dívida pública abaixo dos três dígitos - 98,7%, Portugal como o sétimo país mais seguro do mundo, o partido da taberna vai passar a campanha eleitoral a berrar nas ruas "Isto é monhés por todo o lado! Alguns até rezam virados para Meca!", "Um gajo quer sair à rua e não pode que é logo assaltado!", e o irmão gémeo Ilusão Liberal a martelar contra a carga fiscal, a AD - Anedota de Direita, contra o "gonçalvismo" que nos esbulha com impostos, coadjuvados pelos ex líderes partidários, agora comentadores "independentes", nas noites de domingo da televisão do militante n.º 1 e na CNN Portugal, mentira azar, a "carga fiscal foi de 38% em Portugal em 2022, abaixo da média europeia". Daqui até 10 de Março vai ser terrível com os "Goebbels" de pacotilha nas televisões.
A verdade é que nunca a área metropolitana de Lisboa foi tão bem servida de transportes públicos como com a "revolução" TML do passe mensal a 40 paus. Que tudo isto não foi concebido de raiz - interfaces, conjugação de horários entre os vários operadores e entre os vários tipos de transporte, do comboio ao bus passando pelo barco, até à mui tuga aversão ao transbordo, obrigando a linhas "costa-a-costa", Setúbal - Cacilhas ou Sesimbra - Lisboa, por exemplo, com quase duas horas de percurso, em determinados corredores em redundância com outras circulações, quando o indicado seria um transbordo em Coina ou Fogueteiro, em interface com o comboio, com uma viagem mais rápida e mais amiga do ambiente, é outra história. E vai levar muito tempo até ficar operacional, e vai levar muito tempo a mudar mentalidades, apesar das greves pelo meio, que este passageiro pedagogicamente explica, mas nada que os ilusionistas liberais, alguma vez alçados ao poder, não tratassem de resolver à maneira sul-americana do alucinado Milei, proibindo greves e manifestações. Os ilusionistas liberais agora metidos em grupo excursionista, chefiado por alguém que trocou os óculos pelas lentes de contacto para a campanha eleitoral e que nunca na puta da vida alguma vez meteu os chispes num transporte público. "Colapso dos transportes", diz o pantomineiro.
Do Chega ao irmão gémeo no Parlamento, Ilusão Liberal, passando pelo PSD da salgalhada Montenegro - Rangel - Pinto Luz, com a ajudinha do ressuscitado Cavaco, o argumentário da direita desmontado em vésperas de campanha eleitoral.
[Imagem "Midtown, 1970. From Mean Streets", Edward Grazda]
Cavaco diz que nunca teve amizade com Ricardo Salgado. Nem com Duarte Lima. Nem com Oliveira Costa. Nem com Dias Loureiro. Nem com Álvaro Amaro. Nem com Miguel Macedo. Nem com Fernando Fantasia. Nem com Teófilo Carapeto Dias. Nem com Arlindo de Carvalho. Nem com _________________________ [preencher em caso de necessidade].
Chegam hoje ao fim duas semanas sofríveis e penosas de campanha eleitoral para as eleições europeias, com três partidos e três candidatos genuinamente decididos e empenhados em discutir a Europa - Rui Tavares/ Livre, Paulo Sande/ Aliança, Ricardo Arroja/ Iniciativa Liberal, deliberadamente apagados dos ecrãs dos telejornais e do debate no prime time, e com os grandes do mainstream PS, PSD, BE, CDU e CDS, a tratarem os cidadãos como se fossem crianças ou atrasados mentais, quarenta e cinco anos depois do 25 de Abril.
Pode ser que para a próxima campanha eleitoral a coisa melhore.
"A coligação está em Setúbal para o comício da noite" e a imagem é a de um jantar num pavilhão, higienizado e insonorizado, onde só se entra por convite. Um comício.
A coligação está em Setúbal para o comício da noite e o Pedro Benevides está com ela.
"Setúbal é um dos 5 mais importantes distritos do país e pode vir a decidir eleições renhidas. Por outro lado é conhecido que é também aqui neste distrito que os eleitores mais flutuam no seu sentido de voto".
Flutuam entre o PS e o PCP mas isso o Benevides, Pedro, não disse. Se calhar porque ainda não era nascido, dou de barato.
E lá foi a coligação, com o Benevides, Pedro atrás, caçar votos flutuantes a Setúbal, por convite e ao jantar.
E "vai ser assim todos os dias no jornal das 7 até às eleições legislativas, fazemos a campanha nas redes sociais, Joel, com a tua ajuda".
E o Soares, Joel, de plantão às "redes sociais" selecciona o Paulo Gorjão, aliás, o Paulo Gorjão tem lugar cativo na selecção do Soares, Joel, o Paulo Gorjão está ele próprio de plantão 24 horas por dia ao Twitter, em cima da campanha do Partido Socialista e de António Costa, sem que o Soares, Joel explique ao pagode quem é o "internauta" Paulo Gorjão, aquele que não foi convencido por António Costa.
E o Soares, Joel, de plantão às "redes sociais" ainda selecciona mais, selecciona no Twitter Michael Seufert, que é deputado do CDS, aqui o Soares, Joel gaguejou, se calhar não era para ser dito, não que o Michael Seufert "brinca com o caso", mas que é deputado do CDS. Já fica com mais currículo, público e publicado, do que o "internauta" Gorjão.
E foi só malhar no Costa todo o santo dia. O Twitter é um local tramado, para o Partido Socialista. Twitter fechado. O Soares, Joel volta amanhã.
E isto é só um exemplo assim com o pé que tinha mais à mão. E é assim todos os dias e a todas as horas em que há bloco noticioso com todos os temas e com todos os assuntos. Mesmo com sondagens marteladas mais de metade do trabalho de sapa da coligação está feito. Não é em vão que se é militante n.º 1.
Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças: "A solução de financiamento encontrada – um empréstimo do Tesouro ao Fundo de Resolução a ser reembolsado pela venda da nova instituição e pelo sistema bancário – salvaguarda o erário público".
Paulo Portas, vice-primeiro-ministro: : "É a mais aceitável das opções possíveis", [...] "basta" comparar com o caso BPN para chegar a essa conclusão. "O resultado da nacionalização do BPN foi que o contribuinte pagou milhares de milhões de euros. Isso seria uma tragédia", disse. Assim, diz, a medida de resolução que dividiu o BES num banco de transição (Novo Banco) e num banco mau (que ficou com os activos tóxicos) é "substancialmente diferente" e a "mais aceitável".
O Governo em peso, um ano depois: "Governo conta com venda do Novo Banco para financiamento do Estado este ano.
Necessidades de financiamento do Estado já atingiram valor previsto para todo o ano. Governo conta receber empréstimo de 3900 milhões ao Novo Banco e espera venda o mais depressa possível.
A descoberta de que os cartazes da coligação afinal não são mais do que a materialização, em formato agit-prop, do modelo económico que o PSD e o CDS têm para o país: um ror de desempregados, insípidos, incolores e inodoros, com um sorriso nos lábios, sempre ali à mão disponíveis para para aceitar um qualquer trabalho precário que lhes surja, prontamente descartados quando já não fazem falta, até surgir uma outra oportunidade de regresso para o banco de mão-de-obra barata que é a empresa de trabalho temporário que ganha mais com a sua imagem do que eles próprios, involuntariamente como figurantes no papel da massa anónima que faz pressão sobre os que estão empregados, com contrato e com direitos e garantias.
«A principal novidade é a obrigação, que passa a existir sobre todos os órgãos de comunicação social, de apresentar "planos de cobertura dos procedimentos eleitorais" a uma comissão mista que junta Comissão Nacional de Eleições (CNE) e Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), que tem de os validar, numa espécie de visto prévio.
Estes planos, que têm de ser apresentados antes de terminar o prazo para apresentação de candidaturas, devem incluir o "modelo de cobertura das acções de campanha das diversas candidaturas", assim como a previsão de entrevistas, debates, reportagens alargadas, emissões especiais ou "outros formatos informativos" de forma a assegurar a igualdade das candidaturas.
De acordo com a lei, estes planos têm que ser entregues "antes do início do período de pré-campanha". Ora, pelas novas regras propostas, o período de pré-campanha começa do dia a seguir a terminar o prazo da entrega das candidaturas. O que significa que os media terão que fazer os planos de cobertura sem saberem sequer quantos e quais os candidatos.
Tendo em conta os diferentes prazos para a apresentação de candidaturas às legislativas, presidenciais, autárquicas e europeias, os media teriam que planificar ao detalhe a sua programação com uma antecedência de pelo menos 30 a 55 dias. Hoje em dia, as TV são obrigadas a entregar à ERC a programação com apenas 48 horas de antecedência.
Quem não cumprir esta obrigação ou o plano apresentado incorre em coimas entre 5 mil e 50 mil euros, além de mil euros por dia no atraso do cumprimento, depois de notificado pela comissão mista para o fazer.»
Digital, novas tecnologias, internet mais rede sociais, e o Feiçe coiso e o Tuita e o diabo a quatro, nada de emails e chamadas telefónicas, papéis, muitos papéis, envelopes, CTT e avenças e portes pagos, uma Comissão Nacional de Eleições do tempo do Charles Dickens.
As pessoas queixam-se e têm todo o direito de se queixar, e os candidatos/ partidos políticos devem ter o bom senso, e o instinto político, para perceber até onde podem/ devem ir e quando o excesso de acções de campanha se vai virar contra a própria candidatura. E, correndo o risco de me repetir, a Comissão Nacional de Eleições devia ser constituída por gente nascida na segunda metade do século XX. No mínimo.
[Imagem "President Barack Obama visits a campaign office in the Chicago, Illinois, November 6, 2012", Brian Cassella/ Chicago Tribune]
Quando ouço aquele spot na Radar Lisboa onde, por cima de uma tema dos LCD Soundsystem cujo refrão é “on repeat, on repeat, on repeat, on...”, o locutor pergunta “Qual é a música que ouves em repeat?”, lembro-me sempre da CDU e das campanhas eleitorais. Vocês sabem o que é trabalhar em frente à sede do PCP e ouvir de manhã à noite a Carvalhesa em repeat, debitada através daquelas cornetas tipo feira, com um som para lá do manhoso? Tortura, não digo de Guantanamo e também não digo de Gulag, mas uma tortura Santa Margarida, e das vezes que tive de ouvir o Nelson Ned, em repeat ,cantar “O que é que você vai fazer domingo à tarde?”.
Este ano não houve Carvalhesa. Devem ter concluído que não era por causa disso que o povo ia a correr todo lampeiro fazer a cruz no respectivo quadradinho. Antes pelo contrário. Descobriram tarde, mas descobriram. E ainda bem para eles e ainda bem para nós.