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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

||| Ó tempo volta para trás

por josé simões, em 12.04.14

 

 

 

Já nem vou pela 4.ª classe como escolaridade mínima e o saber de cor e salteado as linhas de caminho-de-ferro de Angola e as culturas agrícolas praticadas no Brasil, que era um país independente desde 1822, tudo a toque de reguada na palma da mão ou de cana da Índia nos nós dos dedos; já nem vou pelos índices de analfabetismo, por atacado na população e entre os homens e as mulheres, em separado, assim como o ensino separado para homens e mulheres; já nem vou pelo filho do doutor que havia de ser doutor e pelo filho do médico que havia de ser médico e pelo filho do arquitecto que havia de ser arquitecto e pelo filho do engenheiro que havia de ser engenheiro e pelo filho do cavador que havia de ser cavador e pelo filho do pescador que havia de ser pescador e pelo filho do carpinteiro que havia de ser carpinteiro e o do pedreiro e o do padeiro e de todas as artes e ofícios conhecidas à face de Portugal, do Minho a Timor; já nem vou pelo pão-nosso de cada dia que era o assinar com o dedo molhado num frasco de tinta para carimbo, marca Cisne; já nem vou pelos liceus para os filhos dos doutores e pelas escolas industriais e comerciais para os filhos da ralé, abertas contra vontade de Salazar, condicionado pela sua política do condicionamento industrial e porque eram precisos técnicos com mais do que a 4.ª classe e a saber mais do que contar até 100 e assinar o nome num papel selado e fazer trocos de tostões nas mercearias e tabernas, para trabalhar com as máquinas nas fábricas dos Alfredos da Silva e dos Mellos, com dois eles; já nem vou pelos cursos de lavores e de cozinha para mulheres, nas escolas industriais e comerciais para os homens que haviam de ir para as fábricas, higienicamente separadas dos machos por um muro ou por uma rede. Não. Este é o homem que no dia a seguir ao 25 de Abril andou a espalhar a revolução maoista pela universidade, a agredir adversários políticos, a praticar a caça ao bufo e a sanear os professores que até esse dia praticavam "a cultura de excelência" que tantas saudades lhe deixa:

 

«Durão Barroso elogia «cultura de excelência» nas escolas antes do 25 de Abril»