"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O partido que quer os centros comerciais fechados ao domingo e feriados, "mais qualidade de vida para os trabalhadores e para o povo", dá o exemplo e abre o mercado municipal do Livramento ao domingo, feriado municipal, dia de Bocage, dia da cidade de Setúbal. Espectáculo.
O post sobre a "rotunda do Lidl" gerou dois tipos de comentários, por e-mail para o blogue e por mention ou mensagem directa no Twitter:
- Pessoas do PCP, que abomina as PPP's, a defenderem as virtudes de uma PPP com o argumento de que não é uma PPP; - Discípulos e escudeiros de João César das Neves a jurarem a pés juntos que há almoços grátis.
Na imagem o prémio Secil para construções em betão armado, no Parque do Bonfim há mais de 30 anos, que é agora usado pelos cartilheiros do PCP de serviço às "redes" como exemplo para justificar a privatização do espaço público por uma câmara comunista, a exemplo do que se faz nos estados Unidos ou no Chile, que Portugal não seria na Europa logo a seguir à revolução de Abril. Outro exemplo a que recorrem é o das paragens de autocarros e as paredes da cidade com propaganda. A coluna vertebral direita é um bem precioso.
O triunfo do capitalismo consumista através da privatização do espaço público pelas mãos de uma autarquia comunista, Câmara Municipal de Setúbal.
São boas todas as explicações sobre esta parceria público-privado, as PPP's que os comunistas abominam desde que seja a pimenta no cu dos outros. Desde a autarquia estar falida e a cadeia de hipermercados pagar a requalificação, alargamento das vias e toda a operação urbanística de um supermercado que assim consegue duplicar a área comercial e triplicar o estacionamento da primeira construção, feita em terrenos de cheia numa alteração cirúrgica ao PDM efectuada por um anterior executivo PS, até à obrigatoriedade de ler No Logo de Naomi Klein, sobre como as marcas e as corporações se insinuam na cousa pública, nas instituições e no espaço público, até ao ponto de definirem políticas e prioridades que deviam caber ao decisor político, eleito em eleições livres e democráticas, para depois fazer uma redacção, como TPC [trabalho para casa], posteriormente lavrada em acta de câmara, truncada ou não pelo espartilho leninista da análise histórica ou por uma qualquer directiva emanada do centralismo democrático, já que isso agora é o que menos interessa, quando o leque, de uma extremidade à outra, cabe todo no mesmo saco. O PS começou, o PCP deu-lhe continuidade e o PSD não desdenha e até é capaz de aparecer a dizer que faria muito melhor.
Viva a rotunda do Lidl, viva! Pim!
[Na imagem a nova rotunda na confluência da avenida de Moçambique com as ruas Cidade Debrecen e Engenheiro Henrique Cabeçadas]
O Pê Cê Pê da oposição, perdão, do Porto, que não só aplaude a descida dos impostos como até acha que se devia ir "mais além"; o Pê Cê Pê no poder, perdão, de Setúbal, que aplica os impostos à taxa máxima [e até acha que se devia ir "mais além"?], indiferente ao desemprego, às falências, ao empobrecimento e à miséria nas famílias, numa das regiões do país mais castigada pela crise.
O Pê Cê Pê quer ser levado a sério?
[Imagem Scott King 'Brian', 2008, Porcelain Bust, Rooster Feathers, Rhinestone Collar, Paint]
Logo "a matar". Logo para arranjar um ponto que permita uma identificação rápida com as gentes de Setúbal. Logo a "queimar etapas". Logo direitinho ao coração:
Olhando para trás e para os 16 anos e quatro mandatos do socialista Mata Cáceres à frente dos destinos da cidade, e cingindo-me só (o que já não é pouco) pelo crime contra a cidade que foi a então “gestão” (“gestão” é eufemismo) urbanística, com louros a repartir por Teresa Almeida, ex-vereadora do Urbanismo, Arlete Facada assenta que nem uma luva.
Desconheço se os socialistas presentes se riram, e o jornal é omisso.
Vou aos Paços do Concelho de Setúbal, vulgoCâmara Municipal, proceder ao pagamento de uma taxa com o pomposo nome de “Publicidade / Ocupação da Via Pública”; isto apesar do anúncio luminoso da empresa ao qual se aplica a taxa se encontrar afixado numa parede, a mais de 5 metros de altura do passeio, donde sobressai na melhor das hipóteses para aí 10 cms… Adiante.
Na recepção espero cerca de 15 minutos que o contínuo / recepcionista acerte a sua vidinha com uma senhora de idade, que, pela conversa, devia ser a sua excelentíssima mãe. Após o “acerto de contas” com o familiar, pergunta-me o meu primeiro e último nome, e indica-me uma sala onde, depois de entrar, retiro uma senha de espera; e espero. Depois de pingar o meu número no visor, sou atendido por um funcionário que digita qualquer coisa num PC, escreve um número numa tirinha de papel, e indica-me outra sala onde entro de tirinha de papel na mão, e onde, finalmente, pago a taxa. Com três notas e duas moedas. Dinheiro certo e sem trocos a fazer, o que não invalida que a funcionária some o montante com uma calculadora.
É a tradição… E quinta-feira há tolerância de ponto.
(Talvez seja eu que estou mal habituado, por, na minha empresa, um só empregado fazer este tipo de serviços, e em menos de um foguete…A sorte é que só lá volto para o ano).
“Os dados estatísticos oficiais sobre o consumo de água pela população apontam para um valor diário de 125 a 150 litros por pessoa. Imagine-se agora que era possível, sem alterar os hábitos, reduzir em 30 por cento o gasto médio. Pode parecer difícil mas Francisco Romão Costa, desenhador mecânico, propõe uma solução: o SRAP – Sistema de Reutilização de Água Potável.”
Engenho interessante.No Guia de Eventos, secção “A Fazer”, no sítio da Câmara Municipal de Setúbal. Aqui.
As intercalares para a Câmara de Lisboa, vistas deste lado de cá, da capital do deserto – Setúbal, tornaram-se num case study sobre como funcionam os partidos, das suas reais intenções e interesses no plano político, e do escalonamento de prioridades em relação às cidades e aos cidadãos; apostados que parecem em dar razão ao popular “eles querem é poleiro!” ou “eles querem é tacho!”. Não pelo que de concreto acontece em Lisboa, mas pelas implicações que tem em Setúbal.
Após as trapalhadas em que o PC se envolveu com a substituição de Carlos Sousa por Dores Meira na Câmara de Setúbal, a pretexto da desculpa esfarrapada das reformas compulsivas (que aliás começaram no “reinado” de Mata Cáceres, sem que ninguém pareça minimamente preocupado em falar no assunto…), o PSD que com Fernando Negrão a cabeça de lista, nas últimas autárquicas tinha atingido uma votação histórica na cidade, relegando o PS para terceira força política, crente de que poderia pela primeira vez conquistar a presidência da edilidade, pediu eleições intercalares. O PS, fragilizado, com Catarino Costa que nem aos próprios militantes parece agradar, e sem alternativa credível, obviamente recusou.
Agora que Fernando Negrão trocou a hipótese de ser presidente de Câmara duma capital de distrito, por um lugar de vereador na Câmara da capital do país, o PS enche os pulmões e vem pedir intercalares em Setúbal. Como seria de prever, o PSD está contra. E vai mais longe; acusa o ex-presidente PS, Mata Cáceres de também ter culpas no cartório pela situação financeira em que a Câmara de Setúbal se encontra – dívida superior a 100 milhões de euros. Só que o PSD finge esquecer que Mata Cáceres, no seu primeiro mandato à frente dos destinos de Setúbal foi eleito em coligação PS / PSD, deliberadamente com o objectivo de “correr com os comunistas” da Câmara de Setúbal, e, só não repetindo a graça no segundo mandato, não porque o PSD não o quisesse, mas porque o PS ganhou asas e resolveu ir a votos sozinho. Pelo meio foi votando a favor das propostas do PS, e viabilizando o gradual aumento do buraco financeiro. Foi o abraço do urso do PS ao PSD, que durou 16 longos anos. O resto é história; história municipal. E nos entretantos a cidade vai ficando adiada…O PC não quer; O PSD já quis; O PS agora quer, mas ao PSD não lhe apetece. Enfim, "nem o pai morre, em a gente almoça".