"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Um jacobino do reviralho que, por proposta da vereadora comunista Odete Santos em reunião da Câmara Municipal de Setúbal realizada no dia 25 de Agosto do "Verão Quente" de 1975, destronou Santiago e o dia 25 de Julho, feriado municipal desde 1911 por imposição do Estado Novo..
Esta casa onde nasceu o insigne poeta Manuel Maria de Barbosa du Bocage a 15 de Setembro de 1765 foi adquirida pelo Visconde de Bartissol e por Elle doada ao Município no Anno de 1888
Bocage, Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas – Sonetos, Sistema J, Julho de 2000:
(…)
IV
Num capote embrulhado, ao pé de Armia,
Que tinha perto a mãe o chá fazendo,
Na linda mão lhe fui (oh céus!) metendo
O meu caralho, que de amor fervia:
Entre o susto, entre o pejo a moça ardia;
E eu solapado os beiços remordendo,
Pela fisga da saia a mão crescendo
A chamada sacana lhe fazia:
Entra a vir-se a menina… Ah! que vergonha!
«Que tens?» - lhe diz a mãe sobressaltada:
Não pode ela encobrir na mão langonha:
Sufocada ficou, a mãe corada:
Finda a partida, e mais do que medonha
A noite começou da bofetada.
(…)
(Na imagem postal ilustrado “Setúbal – Casa onde nasceu Bocage”, editor: Papelaria e Typographia de Paulo Guedes & Saraiva, ano de circulação desconhecido, do livro do ilustre setubalense José Manuel Madureira Lopes, “Setúbal à la minute – através do Bilhete Postal Ilustrado)
Andar a vasculhar a net à procura de uma imagem de Bocage para ilustrar o post e só encontrar imagens com o Elmano Sadino a segurar a cabeça com a mão esquerda e o cotovelo em cima da mesa, só me faz lembrar o meu pai que se me fartava de ralhar que em cima da mesa não se punham os cotovelos e “não tens força no pescoço estás com medo que a cabeça te caia? Desencosta-te!”. E a imagem de marca da cidade, isto se descontarmos as sardinhas, a Tróia do Belmiro que é de Grândola, as laranjas que são de Algeruz, e o Bairro da Bela Vista que são só pretos apesar de terem todos nascido cá, o Bocage ele próprio a segurar o capacete! Adiante que acabei por me habituar a ter força no pescoço, e não pôr os cotovelos em cima da mesa até que foi um treino que se me revelou bastante útil para comer bifanas na Adega dos Passarinhos e não sujar a camisa nas mesas bedunguentas de banha escorrida de dentro das carcaças e pelos queixos.
Em dia de aniversário e de feriado municipal, pena não ter calhado a uma segunda-feira, um sonetinho do dito cujo, daqueles que chateavam o prof. Maurício que era um fascista do caralho e que foi director da escola do mesmo nome do poeta, e que conseguiu morrer medalhado pela cidade. Enfim coisas da Democracia e da conciliação.
Hoje é feriado. Feriado municipal, ou o dia do Bocage como se diz por aqui. Calhou ser a um sábado, o que na escala de valores dos feriados, para a generalidade da população equivale a valer quase nada. Encaremos isto pelo lado positivo: para o ano calha a um domingo, e isso é que é mesmo para esquecer… a menos que para alguns seja dia de trabalho, e um feriado a um domingo, mais o subsídio de refeição, e mais aquelas contas todas sempre a somar, é grande ajuda para equilibrar o orçamento no fim do mês; que isto de morar em Setúbal tem muito que se lhe diga. Adiante…