"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
52 anos de ditadura, mais de 130 mil presos políticos - crianças incluídas, 13 anos de guerra civil, mais de 500 mil mortos, mais de 6 milhões de refugiados e os milhares de mortos nunca contabilizados na travessia do Mediterrâneo no êxodo para a Europa. A alegria da celebração do fim do regime nos rostos dos homens e mulheres nas ruas das cidades sírias e nas ruas das grandes cidades europeias. O que vem a seguir vem a seguir.
[Imagem "A woman wears a Syrian opposition flag as people celebrate at the Place de la Republique, after Syrian rebels announced that they have ousted President Bashar al-Assad, in Paris, France, December 8. Reuters/ Piroschka van de Wouw]
Saudi Arabia's Crown Prince Mohammed bin Salman shakes hands with al-Assad before the Arab League Summit. [Bandar Algaloud/ Courtesy of Saudi Royal Court/ Handout via Reuters]
No dia 11 de Setembro, os "rebeldes sírios" por eles próprios: «O único interesse do Ocidente é proteger Israel». Esperemos que o Prémio Nobel da Paz saiba ler ou então que alguém lhe faça um desenho.
Dois anos de guerra, mais dois milhões de refugiados e 110 mil mortos depois, o problema são 1 300 mortos por armas químicas que, se tivessem sido mortos à metralhadora, à bomba ou à facada, não causavam incómodo por aí além na consciência ocidental.
A "linha vermelha" do Prémio Nobel da Paz é traçada à forma, não ao conteúdo.
Assim como o imperialismo soviético a ex-União Soviética, por via da sua invasão do intervenção no Afeganistão, ficará para todo o sempre associada ao nascimento dos talibans e dos mais de 30 anos de instabilidade de toda uma região, desde a data da derrota retirada até aos dias de hoje [isto sem contarmos com os 10 anos de ocupação], a Rússia do ex-serviços secretos Putin, nascido, criado e educado, debaixo da bandeira do "Internacionalismo", pelo suporte ao regime do genocida Bashar al-Assad, ficará para sempre ligada ao surgimento do terrorismo e do fundamentalismo islâmico onde ele não existia, numa zona onde a paz e a segurança se vivem sempre no fio da navalha, com Israel a sul cercado por todos os lados, e na fronteira da europeia [e membro da NATO] Turquia. Se calhar por causa disso mesmo.
Tal como em 1979, o PCP e o Avante! sempre do lado certo História. Some things never change.
Reza um Hadith que, ao sair em viagem pela Jihad, um marido deu ordem à sua esposa para esta não sair de casa. Algum tempo passado a mulher é chamada a casa do pai que tinha adoecido gravemente. Sem saber o que fazer a mulher escreve uma carta ao Profeta explicando a situação ao que este responde: "Irmã, teme a Alá e obedece ao teu marido", e a mulher não visita o pai. O estado de saúde piora, e ela é novamente chamada mas não comparece. O pai acaba por falecer, o próprio Profeta faz o seu enterro e diz: "Digam à filha deste homem que ele obterá o paraíso devido à obediência dela para com seu marido!". Ele, o pai, não ela, a filha. Um pormenor.
Asma al-Assad pode ser "uma de nós" mas é ao mesmo tempo uma mulher no Islão que jurou obedecer ao marido. Se houvesse uma preocupação, mínima, em perceber o mecanismo das coisas, evitavam perder tempo com causas perdidas.