"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Portugal não será o Chile da Europa", gritava-se nas manifs logo a seguir à revolução de Abril de 74, enquanto as salas de cinema esgotavam meses a fio para ver Chove em Santiago de Helvio Soto.
A casta que anos e anos a fio viveu acima das possibilidades dos Vaícia e dos Sudra e a quem, movida pela ganância e usura, perseguia a acenar com mãos cheias de euros e a prometer o paraíso na Terra por via do crédito fácil, de repente, viu-se na necessidade de ser resgatada financeiramente por uma divindade superior, Brama aka O Estado. Só que ao contrário de Brama aka O Estado que, ao ser resgatado, se viu obrigado a receber as visitas periódicas de Shiva aka A Troika, os Brâmanes querem, habituados que estão a pôr e dispor a seu bel-prazer em tudo o que respira e não respira nas duas margens e a montante e jusante do Ganges aka Portugal, receber a bênção de Brama mas dispensar Hans-Vahana aka a fiscalização de Brama aka O Estado.
Aliás, a gente não faz mais nada que ver filmes e séries passados em tribunais.
Segundo nos é dado a perceber as provas não são forjadas nem falsificadas, o que lá consta não é mentira, simplesmente as provas foram obtidas de forma ilegal.
Até podemos dar de barato «que as pessoas que estão no Ministério Público (…) são influenciáveis» e que o Ministério Público possa ser «muito condicionado e muito dirigido pela opinião pública». Mas depois, o que a história nos mostra, é que por erros processuais, ou por investigações deficientemente conduzidas, ou por excesso de garantismo da Lei, ou por haver a eterna discriminação “natural” entre ricos e pobres no acesso a advogados do sistema que se movem bem no sistema, a Justiça decide sempre em favor, chamemos-lhe assim, da opinião privada.
Parece que finalmente Jardim Gonçalves ganhou alguma vergonha na cara – não muita senão também se tinha demitido – e resolveu pagar a dívida do filhote. É sempre saudável saber, que num país em que as desigualdades sociais são cada vez maiores, assim como cada vez maior é o fosso entre ricos e pobres, e que estes últimos não param de aumentar sendo até motivo de vergonha para o Presidente, que há alguém que dispõe assim de 12 milhões do pé para a mão.
Agora o que todos gostávamos de saber era em que modalidade é que foi efectuado o pagamento. Foi em cash? Foi em géneros? Foi por transferência bancária? Foi através de cheque? Ou há por aqui outra “barriga emprestada”, e o banco de que Jardim Gonçalves é presidente concedeu-lhe um empréstimo para o pagamento da dívida?
Provérbio do dia é made in Setúbal: “Quem não tem dinheiro paga com o corpo”.
O “moço de recados” dos banqueiros portugueses, João Salgueiro, vem dizer “no passa nada!” e com ar cândido diz ser tudo uma “campanha de informação e desinformação”. Pois. Assim como aquela coisa dos arredondamentos nas taxas de juro, mais a taxa de utilização dos cartões Multibanco, e, agora, a contagem dos dias para efeitos de empréstimos: quando toca ao banco receber são 360, os dias do ano; quando é o banco a pagar a coisa pia mais fino, porque com o dinheiro dos accionistas não se brinca, e o ano como por artes mágicas passa a ter 365 dias. Não se terem lembrado que existem anos bissextos é que me dá que pensar… Em suma: tudo campanhas de desinformação.
No entretanto, o outro, o dois em um, porque consegue juntar na mesma pessoa dois anúncios de bancos diferentes: tem um pai rico e é dono do seu próprio banco, por via das mesmas artes mágicas que conseguem aumentar ou diminuir os dias do ano, vê uma dívida de 12 milhões de euros desaparecer. E essa é que é essa!
Safa-se um por 12 milhões. Que se danem 500 e respectivas famílias por 70% de 32 milhões. E o homem é católico, apostólico romano, temente a Deus e membro da Opus Dei…