"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O Parlamento foi desafiado por Bacelar Gouveia a clarificar a lei para impedir prescrição do denominado Cartel da Banca. Propõe o constitucionalista "lei interpretativa" para sublinhar o que a lei já prevê: que processos ficam suspensos em Portugal enquanto são apreciados no Tribunal de Justiça da UE. No Reino Unido os bancos assumiram o "erro", em Portugal não, contestaram a investigação, litigaram em tribunal. Partindo daqui podemos apostar que este apelo vai entrar pelo parlamento a 100 e sair a 200, podemos até adivinhar quais os partidos que vão votar a favor e quais os que vão votar contra. E num país com um mínimo de cultura cívica e democrática, de exigência cidadã, estes partidos seriam fortemente penalizados nas próximas eleições.
Diz que o Novo Banco deverá entregar 345 milhões ao "Estado", eufemismo para "contribuinte". Depois desta odisseia toda de injecções de dinheiro do contribuinte num banco que não ia custar a ponta de um chavelho ao contribuinte, um exercício simples de fazer era ir a um balcão do dito Novo Banco, pedir um empréstimo e prometer devolver 10% daqui a sete anos. E devemos dar-nos por felizes já que o acordo de capitalização ficou 485 milhões de euros abaixo do montante máximo previsto no contrato. Uns gajos porreiros, nem gastaram todo o dinheiro a que tinham direito e até já podem distribuir dividendos. A questão que se coloca é se isto é aproveitar a nossa lendária falta de jeito para a matemática, como todos os índices anualmente mostram, ou se é simplesmente a gozar com o cidadão.
"Uma página negra na justiça portuguesa", diz o excelentíssimo causídico, depois de ter andado a empatar um julgamento durante 10 anos com manobras dilatórias e recursos processuais. Uma "vergonha mundial", não os 10 anos empatados, uma coisa nunca vista nunca vista no "mundo civilizado", onde alguém naquelas alegadas condições, que podia ter entrado directamente no tribunal, optou por vir 100 metros pelo meio da rua em procissão para o prime time. E podia ainda ter invocado como exemplo do "mundo civilizado" os Estados Unidos, onde Bernie Madoff, preso em Dezembro de 2008, foi julgado e condenado em Junho de 2009, seis meses passados. Nem tempo teve para "apanhar" alzheimer.
Quando os juros elevados serviram para equilibrar as contas públicas e reduzir a divida, para a direita ilusionista liberal era o "ilusionismo socialista", agora que os juros elevados fazem disparar os lucros dos bancos, caladinhos, a esquerda tem ódio ao lucro.
A arte destes artistas consiste em meter os miseráveis e remediados a votarem neles enquanto repudiam outros miseráveis e remediados como eles.
Excessivo em Portugal é o salário mínimo nacional, o subsídio de desemprego - no valor a pagar e na duração temporal, a contratação colectiva de trabalho, as indemnizações a pagar por despedimento, o imposto a pagar pelas empresas, a protecção social aos cidadãos. Nos 90s até havia uma banda, os Excesso, cujo nome era precisamente inspirado nisto.
Há quem que com alzheimer perca um T2 na Brandoa para o banco e há o dono do banco com alzheimer que se perde nos quatro pisos, 45 divisões e uma piscina na Boca do Inferno. Coitado do banqueiro.
O publisher do falido Eco, o Pravda do partido RGA, Reunião Geral de Alunos, também conhecido por Ilusão Liberal, os do direito do mais forte à liberdade, queria o exemplo Nabeiro replicado na banca suíça e na "missão das autoridades financeiras do país", o que quer que isso signifique.
Enquanto as taxas de juro massacraram pessoas e famílias foi sem dó nem piedade, sempre a subir, "ai aguenta, aguenta", a partir do momento em que começou a ameaçar bancos com má gestão de risco foi accionado o travão. Para quem se governa, por quem se é governado ou, como na canção, "the system only dreams in total darkness".