"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A "Festa da Mangueira" era aquela festa muito em voga em Portugal até início dos anos 80 quando entravas na disco e a única mulher "in da house" era a que estava atrás do balcão a aviar copos.
Mindinho Mendes anunciou com ar grave e muita pompa e circunstância e grandes movimentos de mãos e fartura de gestos no tampo da mesa, e as televisões todas e os jornais todos repetiram todos a grande nova e o grande furo jornalístico que foi o acesso a uma carta do Banco Central Europeu, a outra face da moeda dos Estados não terem acesso directo ao crédito – o BCE empresta aos bancos que por sua vez emprestam aos Estados, e que é o BCE decretar que dinheiro dos contribuintes – ler "ir ao bolso ao contribuinte", "esbulhar salários e pensões", "esmifrar poupanças", só para recapitalizar bancos privados, bancos públicos não, never, nein, já-mé. E depois toda a gente de boca aberta comentou a grã descoberta de Mindinho Mendes e as televisões todas e as rádios todas fizeram todas no dia a seguir fóruns de debate mui participados.
Isto é a gozar, certo? Ou falta de assunto, certo? Ou aquela coisa da estação parva que chega com o calor?
Se o militante do Partido Socialista Vítor Constâncio fosse inteligente percebia que está a ser usado como granada de fumo para esconder Maria Luís Albuquerque, Passos Coelho, Paulo Portas e cinco anos de maioria PSD/ CDS, enquanto as tropas adversárias, numa manobra de diversão e de intoxicação da opinião pública, atacam o Governo do PS suportado pela esquerda no Parlamento. Mas isso era se o militante do Partido Socialista Vítor Constâncio fosse inteligente.
A independência do banco central, e do respectivo Governador, inimputável e isento de críticas – pressões inaceitáveis e inqualificáveis da 'esquerda totalitária', só se aplica a Carlos Costa, biombo da direita no Banco de Portugal, apesar das conclusões da Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES, renomeado pela direita para o Banco de Portugal, renomeação a pagar, com juros, pelos portugueses, durante os próximos muitos e bons anos. E a independência do Banco Central Europeu, e do seu Governador, também. Até ao dia em que o master fala e as voices escutam atentamente e dizem que sim e argumentam com o inevitável e insuspeito princípio do totalitarismo "manda quem pode" ler "manda quem paga" e a Alemanha é que paga pode.
No BCE a direita da 'escola alemã' não precisa de um biombo, precisa de um sniper.
"Um inquérito oficial à crise bancária na Irlanda entre 2008 e 2010, divulgado esta quarta-feira, apurou que o Banco Central Europeu (BCE) permitiu que os contribuintes suportassem uma parte "inapropriada" do seu custo."
Falemos então de austeridade e de despesismo e de viver acima das suas possibilidades e de cortar na despesa do Estado, social, antes de ser rebaptizado de “gorduras” e de não ter descontado o suficiente para a reforma que se recebe e de não se trabalhar bastante para a mais-valia, do patrão e accionistas, antes de ser rebaptizado de "crescimento económico. «Edifício custou 1,3 mil milhões de euros.».
Não sei o que é que Pedro Passos Coelho andou a fazer quando devia estar na escola e aprender porque é que começou a II Guerra Mundial, mas gostava de saber.
«Liberalização dos despedimentos; cortes salariais, diminuição do subsídio de desemprego, na duração e no valor a pagar; eliminação de apoios vários e de outros subsídios; aumento da carga horária; redução dos períodos de descanso e de férias; eliminação da contratação colectiva; privatização de todos os serviços públicos». "Reformas estruturais" são as palavrinhas mágicas e Mario Draghi veio da Goldman Sachs, do you know what i mean?
«A compra de 60 mil milhões de euros de dívida por mês por parte do Banco Central Europeu (BCE) é uma boa notícia para a zona euro, mas tem de ser complementada por acções noutras áreas, defende o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal, o polícia eficiente e esperto que nem um alho [apesar da barragem maciça de artilharia propagandística a mensagem não passou], que começou a dar pela tramóia logo em Setembro de 2013, que em Julho de 2914 jurava pelas alminhas que a situação de solvabilidade do BES era sólida e que em vésperas do resgate emprestava 3500 milhões de euros ao BES. Não fossem os malandros do BCE... Ricardo Salgado e/ ou os seus afilhados até eram perfeitamente recuperáveis para um quadro de honorabilidade, respeitabilidade e legalidade. O que lá ia, lá ia e não se falava mais nisso. Ninguém se demite, excepto a reforma compulsiva do desgraçado do Salgado, doutor. Ainda vai a tempo de medalha no Dia da Raça. O Governador eficiente e o Salgado, doutor. Não há nada que o tempo não apague.
«O Banco Central Europeu terá obrigado o BES a “reembolsar integralmente" o crédito contraído junto do banco central no mesmo dia em que suspendeu o acesso às suas linhas de financiamento, lê-se numa acta do Banco de Portugal divulgada no site de uma sociedade de advogados, a Miguel Reis & Associados.
A acta, datada de domingo, 3 de Agosto, dia em que foi anunciada oficialmente a intervenção no banco, diz que o BCE, do qual Carlos Costa faz parte, retirou na sexta-feira (1 de Agosto) o estatuto de contraparte ao BES, suspendendo assim o acesso do banco às operações de política monetária. Além disso, o BES ficou ainda obrigado a “reembolsar integralmente o seu crédito junto do Eurosistema, de cerca de 10 mil milhões de euros”.
A saída do programa da troika, malgrado o aumento da dívida, os défices "martelados", o aumento do desemprego, o êxodo da emigração, as falências das empresas, a degradação dos serviços públicos – desde a educação à saúde passando pela justiça, a baixa do custo do factor trabalho, a precarização laboral em benefício da rigidez patronal, o empobrecimento generalizado do país, seria sempre, desse por onde desse, uma saída limpa e o contrário o assumir pela troika, e pelo Governo do para o infinito e mais além que a troika, do fracasso das suas políticas e do falhanço de todos os objectivos propostos. Apontaram-nos a porta da rua e agora estão por vossa conta. Mas, como Deus escreve direito por linhas tortas, graças ao Tribunal Constitucional a partir de agora deixar-se-á de ouvir falar em saída à irlandesa para se começar a ouvir falar em saída à portuguesa, antes do tempo e tudo, como exemplo para o futuro. Temos pena de quem quer que se siga e da devastação económica e social que terá pela frente.