"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"São pessoas de profissões muito, muito diversas. Desde os motoristas de táxi ou de Uber, pessoas que trabalham em ginásios, fisioterapeutas, dentistas, trabalhadores de circos ambulantes, feirantes, cabeleireiras, manicures, pessoas das profissões ligadas ao turismo. E aquilo que temos hoje é um grande número de pessoas que, de repente, não têm qualquer rendimento ou remuneração". Diz a Isabel Jonet que nunca viu nada assim, com os exemplos dados de profissões ditas liberais, do recibo verde, do fugir à factura para fintar o fisco. Lembrem-se depois quando vos vierem dizer que "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer" e que o mercado do trabalho deve ser liberalizado e desregulado, sem direitos, garantias e vínculo contratual, porque o Estado só atrapalha o elevador social e a livre escolha dos cidadãos mais as leis laborais e os sindicatos que são um entrave ao crescimento da economia e à criação de riqueza, na conta bancário do patrão e do accionista e do paraíso fiscal na Holanda.
E todos os anos os hiper e supermercados deste país se enchem de gente que enche a conta bancária dos Soares dos Santos e dos Azevedos desta vida - ia comprar um pacote de arroz comprou dois, vai um para o Banco; ia comprar um pacote de esparguete comprou dois, vai um para o banco; ia comprar uma garrafa de azeite, comprou duas, vai uma para o banco, sem que haja uma comparticipação das grandes superfícies para a causa, nem sequer o IVA das vendas que dispararam. A ganância é um poço sem fundo assim como a bocarra aberta o resto do ano a invectivar os malandros dos portugueses e os desgraçados dos sindicatos e as filhas da puta das leis laborais que só atrapalham a vida a quem quer criar riqueza e emprego.
Este foi o fim-de-semana em que os senhores Belmiros de Azevedos e Alexandres Soares dos Santos deste país ficaram com as contas bancárias mais recheadas graças ao espírito humanista e solidário dos portugueses e, lá do aconchego fiscal na Holanda, prenhes de patriotismo e preocupações sociais e propósitos de crescimento com muitos dígitos e recuperação económica para o país, vão continuar a insultar os compatriotas, de malandros e calaceiros para cima, enquanto exigem "reformas laborais" em benefício da rigidez patronal, eliminação das contratações colectivas e trabalho máximo para pagamento mínimo, que isto aqui não é a Alemanha para onde emigram os portugueses que não produzem nada em Portugal.
O ritual cumpriu-se este fim-de-semana os dois dias em que as contas bancárias de Alexandre Soares dos Santos e de Belmiro de Azevedo ficaram mais recheadas graças ao bom coração e aos espírito solidário do português anónimo sem que haja da parte do 2.º e 3.º homem mais rico de Portugal, respectivamente, qualquer contribuição para a causa. Lucro, lucro, lucro, a caridadezinha cumpriu a sua função, os escuteiros desempoeiraram as fardas e venderam calendários para 2016 e algumas consciências vão agora dormir descansadas. Até à próxima campanha.
Era que uma vez primeiro-ministro de um Governo do Partido Socialista uma das suas primeiras tarefas era a de restituir ao Estado uma das suas mais nobres funções – o social, e de meter mãos à obra para desmantelar o Estado paralelo ao Estado, criado nestes 4 anos de governação PSD/ CDS, com as transferências do Orçamento do Estado para as IPSS’s e outras organizações da caridadezinha, umas mais outras menos, heterónimos da Igreja Católica, assente no argumento, mentiroso, mais um, de que são quem está no terreno e que chega mais rápido às pessoas, sem perda de sinergias, por melhor as conhecerem, mas que mais não fazem do que duplicar funções e alimentar e engordar toda uma nova classe que se alimenta da nova indústria da miséria alheia.
Pessoas que recebem e gerem milhões, transferidos do Orçamento do Estado, duplicando funções ao Estado social [e gerando mais custos em salários para os contribuintes], os que já estão no Estado e na Segurança Social, os que trabalham para as IPSS e são pagos pelo dinheiro dos contribuintes, que o voluntariado não chega para as sobras por mais voluntario que seja, e que a pretexto ainda vão doutrinando e evangelizando no Estado laico.
Pessoas que se dedicam a organizar xis dias por ano o Dia do Hiper e do Supermercado, valendo-se do bom coração e da caridade cristã dos seus co-cidadãos, o dia em que os hipers e supers duplicam e triplicam as vendas, gerando milhões em lucros para os patrões e accionistas, sem que se dignem sequer a doar uma parte aos mais necessitados.
Ainda não percebi se a dona é mesmo desleixada com o visual e com a higiene pessoal ou se é estratégia de marketing para parecer mais chegada aos pobrezinhos e desvalidos do capitalismo financeiro a que presta vassalagem sempre que as oportunidades lhe surgem mas, no próximo Dia do Hiper e do Supermercado, sugiro que cada português de bom coração ou de caridade cristã coloque um frasco de champô dentro do saquinho porque parece que a oleosidade [com Cristiano accent] está a afectar a já por si fraca capacidade de raciocínio da senhora.
Este foi o fim-de-semana em que os senhores Belmiros de Azevedos e Alexandres Soares dos Santos deste país ficaram com as contas bancárias mais recheadas graças ao espírito humanista e solidário dos portugueses e, lá do aconchego fiscal da Holanda, vão continuar, prenhes de patriotismo e preocupações sociais e propósitos de recuperação económica e crescimento, a insultar os compatriotas, de malandros e calaceiros para cima, enquanto exigem reformas laborais, eliminação das contratações colectivas e trabalho máximo para pagamento mínimo.
Pleno emprego alcançado através da erradicação, ou censura, das "redes sociais", estão explicados os dígitos de crescimento económico da Turquia, China, Arábia Saudita e et cætera.
Desempregados a quem já não sobra dinheiro para a prestação da casa, mais água e luz, mas que ainda vão aguentando a dose diária de feice coise e tuita para a veia, os manhosos.
Desempregados recentes na bloga e no feice coise e no tuita, os calaceiros, à procura de informação e opinião isenta, fora do circuito da comunicação social câmara de eco e capturada pela agenda ideológica que caiu sobre a Europa.
Este foi aquele fim-de-semana em que, graças ao humanismo e à solidariedade dos portugueses, o n.º 2 e o n.º 3 no top 25 da lei da selva ficaram um pouco mais gordos para o ataque ao n.º 1.
Os pobres mais pobres, os remediados que se viram pobres, a classe média destruída, os 99% da população mundial que contribui para que este "estádio de desenvolvimento" [gloup] fique marcado pela apresentação de melhores condições de vida, em média melhores do que as que oferecia o anterior, para os 1% da população mundial, cada vez mais, mais 1%.
Ia comprar um pacote de leite comprou dois – um para casa outro para o saco; ia comprar uma lata de conserva comprou duas – uma para casa outra para o saco; ia comprar um pacote de massa comprou dois; um saco de arroz vezes dois; uma lata de salsichas vezes duas; e assim sucessivamente, vezes euros, vezes milhões de consumidores.
Há gente que consegue fazer fortuna com tudo. Até a explorar o lado mais humano dos seus co-cidadãos.