"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A não ser que ande por ali em gestação um Estaline do século XXI que, à imagem de O Jovem Estalin de Simon Sebag Montefiore (Alêtheia Editores), também esteja a começar como ladrão de bancos.
O facto de que, desde Álvaro Cunhal, passando por Carlos Carvalhas, até Jerónimo de Sousa, nunca nenhum dirigente nacional do PCP ter passado pelo Bairro da Bela Vista em campanha eleitoral fala por si e desmente as declarações do secretário-geral dos comunistas: não rende votos; é um caso de polícia e não um caso social.
Estamos a lidar com os netos da primeira leva de imigrantes das ex-colónias, que aportaram a Setúbal nos finais de 60 em busca de melhores condições de vida, e que largaram muito suor e lágrimas e a quem a cidade muito deve e de quem nunca se ouviu falar, pelas melhores e pelas piores razões.
Os meninos querem carro topo de gama, roupa de marca e muito dinheiro na carteira. Mas não querem estudar nem trabalhar. O ideal seria um “maná” mas isso foi no Antigo Testamento e de temor a Deus só aquelas cruzes enormes que usam ao pescoço.
Veja-se o desgosto e a vergonha estampada na cara dos “mais velhos” quando referem a descendência.
Setúbal, oito e meia da manhã ao balcão do café “do Beto” à Avenida 5 de Outubro:
Um – Onte à nôte houve óterra vez mólháda da Bela Vista com a polícia…
O outro – Atão do tempo dos rês n’ havia as ruas dos órrives, dos sapatêrres, dos marcenêrres e assim?.. Agórra há o barre social! Q’ é onde os bandides e os malanderres se juntem todes…