"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Confirmando o que aqui tinha escrito a questão não é [nunca foi] a qualidade do ensino mas o emprego garantido para toda a vida. Os stôres que estão colocados, colocados estão, os profs que estão de fora, de fora vão continuar, os stôres do sistema, com horário mínimo, salário máximo e responsabilidade miníma, vão continuar tranquilamente a coleccionar créditos para a reforma, os alunos… isso agora não interessa nada. Nuno Crato sabe muito da poda.
Na revisão do modelo de avaliação de professores dá-me um certo gozo ver Paulo Portas todo prenho de importância, insuflado como um daqueles balões com a figura do Noddy ou com um dos 1001 Dálmatas e que se vendem por aí nas feiras. Na guerrinha interna na “casa da direita”, onde não há pão e todos ralham e ninguém tem razão, Portas aproveita todas as oportunidades para fazer fosquinhas ao condómino PSD. Interpreta o seu papelinho, com a leveza que o guarda-roupa lhe confere, a martelar frases e ideias, sincopadas e cadenciadas ao estilo Twitter, em todas as ocasiões em que lhe aparece um microfone pela frente para tentar passar a ideia de que tem uma ideia e que lidera. E veste a pele e acredita que é importante e sente-se feliz assim e nós fingimos não saber que ele é um consumível descartável na multifunções Fenprof operada com profissionalismo pelo comissário Nogueira. E nós fazemos de conta que não sabemos que em código Pêcêpez CDS means Fascismo, e que esta é uma concertação contra-natura, e que mais cedo ou mais tarde o que o destino reserva a Paulo Portas, está escrito nas estrelas, é um kick in the eye. Assim o Comité Central decida.
E os profs lá vão cantando e rindo, ping-pongueados Avenida da Liberdade abaixo.
“Este sistema de avaliação o que faz é pôr os professores a espiar-se uns aos outros”, mais ponto menos vírgula foi o que Paulo Portas disse após uma reunião com Mário Nogueira da Fenprof.
Mário Nogueira. PCP. CCCP. Muro de Berlim. RDA. Stasi. Estou a fazer um esforço do caralho para não me mijar todo a rir.
O comissário político da guerrilha para a “Frente da Educação”, ameaça intensificar os combates e começar também a atingir alvos civis. Aplicar aos alunos aquilo que vem reclamando para a casta superior da sociedade portuguesa: a isenção de avaliação.
E quando a guerrilha passa a atingir alvos civis, deixa de ser guerrilha para passar a ser terrorismo.
O "outro" acusou uma vez José Sócrates de torturar a estatística até ela dizer o que ele queria que fosse dito; Garcia Pereira tortura o Direito até ele dizer o que o pagante do parecer encomendou.
Toda a argumentação de Garcia Pereira só é aplicada… na Administração Pública. Que no resto do país que não trabalha à sombra do Estado, o «basilar princípio da igualdade, constante do artigo 13º da Constituição» não seja aplicado nas empresas e nas relações laborais , e que «dois trabalhadores em situação exactamente idêntica” sejam classificados de forma diversa em função de um factor a eles completamente estranho e em absoluto arbitrário» não lhe diz – nem lhe interessa - absolutamente nada. A isto na Índia dão o nome de castas.
Por outro lado aqui está a solução; o ovo de Colombo dos sindicatos no privado: pagar ao doutor Garcia Pereira um parecer.
No teste de Inglês o puto respondeu que a capital da Escócia era Edinburgh. E a professora considerou a resposta como errada porque a capital da Escócia é Edimburgo. O puto que só tem 11 anos mas não é parvo, reclamou: “Sotôra, mas eu fiz tal e qual como na ficha que a sotôra deu!”. E a sotôra respondeu: “A ficha está errada”. Só que a ficha é um Print Screen do Google, fotocopiado e distribuído à turma pela professora. E o puto teve menos 1 ponto no teste e foi para casa pior que o Deus Me Livre. (Mas isto são contas a acertar na próxima reunião do director de turma com os encarregado de educação).
Ah! Não sei se tem alguma relação, mas a sotôra esteve nas duas manifs, é contra a avaliação e faz parte daqueles 99, 99% que aderiu à greve e grita palavras de ordem contra uma tal de Milu.
Isto aconteceu numa escola do distrito de Setúbal. Por motivos que me parecem óbvios – e não é para poupar a sotôra – não vou revelar qual.
Sinceramente que já cá vai faltando a paciência para o Mário Nogueira porta-voz da casta superior da sociedade portuguesa que não é passível de ser avaliada. E para os jornalistas amorfos, sempre diligentes de microfone permanentemente disponível, a paciência também já vai sendo pouca.
E não é só a mim que vai faltando a paciência, como se pode comprovar na sondagem que o Expresso hoje publica.
«Incapazes de deter Sócrates por outros meios não se coíbem de minar a autoridade do Estado Democrático pactuando com a desobediência às leis da República num caso que em nada o justifica.
Pois aqui fica uma promessa: se Sócrates tiver a coragem de enfrentar estas pressões, mantiver Maria de Lurdes Rodrigues e fizer cumprir a lei sem a desvirtuar eu votarei no PS em 2009 pela primeira vez na minha vida.»
Na “minha” empresa há, entre outros, o cargo de Director Administrativo, o cargo de Director Financeiro, e os respectivos chefes de sector, para só referir aqueles que me dizem directamente respeito.
Cada cargo é ocupado por uma, e só uma pessoa, independentemente de existirem nos quadros da empresa outros trabalhadores (detesto o termo “colaboradores”; soa a descartável) aptos, técnica e profissionalmente para os desempenharem.
Isto dá azo a que, num mesmo departamento, existam vários empregados nas condições exigidas pela administração para poderem ocupar o lugar de director de departamento.
Obviamente que o salário destes é inferior ao de director de departamento ou ao de chefe de sector. Isto é bom ao nível da produtividade e por consequência bom para a empresa. Obriga o que ocupa o lugar de director a não dormir em serviço porque há uma legião em stand by à espreita, e obriga os que estão em stand by a não dispersarem, sempre na mira de ocuparem o lugar imediatamente acima no escalão. E são/ somos todos avaliados, todos os dias, a todos os minutos, até ao mais pequeno gesto e/ ou atitude. E é legítimo que assim seja. E a isto costuma chamar-se competição.
Quando a empresa era uma empresa nacionalizada, os cargos de director e/ ou de chefe de departamento eram ocupados por amiguismo e compadrio. Político; que é o pior de todos. Com a privatização passaram a ser por habilitação académica e competência. E venha quem vier, leia-se partido político, isso não é tido nem achado porque no topo da escala de valores está a empresa.
Há meses que Mário Nogueira anda a dizer que é impensável e inaceitável vários professores terem a mesma classificação e só um poder vir a ocupar o cargo de professor titular.
A argumentação é de tal forma absurda que até se chega ao ponto de colocar em causa toda a estrutura base do sistema democrático português (negrito meu):
«Contrariamente ao que foi escrito na imprensa, este Governo não foi democraticamente eleito. A legitimidade do Governo, conferida pela escolha democrática do partido que propôs o primeiro-ministro, que escolheu e propôs, por sua vez, os restantes ministros, é coisa diversa. Maria de Lurdes Rodrigues não foi eleita. Foi escolhida por Sócrates.»
Santana Castilho hoje no Público
Ahahah!!! Eheheh!!! Ihihih!!! (Isto sou eu aqui a rir até às lágrimas)
Se eu no meu emprego, na minha empresa, no meu serviço, como lhe queiram chamar, discordar de um determinado trabalho ou serviço, ou até de uma norma, posso – porque tenho autonomia para isso – complicar, burocratizar, encalacrar, de tal forma os procedimentos que a coisa, já não digo não anda nem desanda: anda para trás.
Só que eu não trabalho para o Estado, nem numa Empresa Pública, nem sequer numa empresa nacionalizada, e, no dia seguinte estou no famoso “olho da rua”. Por sabotagem – com ou sem comas – aos objectivos da empresa.