"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Não podemos, no cont’nente, votar nas eleições para o Assembleia Legislativa Regional da Madeira, região integrante do Estado Português, mas podem, os residentes na Região Autónoma da Madeira, eleger deputados para o órgão legislativo do Estado Português, vulgo Assembleia da República.
Não podem, os deputados cont’nentais, apresentar propostas e votar o Plano e Orçamento do Governo Regional da Madeira, mas podem, os deputados ao parlamento nacional pelo círculo eleitoral da Madeira, votar e influenciar o Orçamento do Estado.
Isto dá pano para mangas e devia ser objecto de um amplo debate nacional.
Nota: Quem diz Região Autónoma da Madeira diz Região Autónoma dos Açores.
«Nas últimas duas décadas, o país seguiu por caminhos divergentes. Em 2004, “Lisboa” (Lisboa e a Península de Setúbal) exibia um PIB per capita acima da média europeia (105, 8%); o Norte (os distritos acima do Douro) só chegava a metade (58, 8%). O Norte é hoje equivalente ao Sul italiano ou ao Leste alemão»
Muito bonito o raciocínio do historiador Rui Ramos no Expresso (sem link), não fora a manipulação, por via da omissão, dos factos uma “pequenina” falha na interpretação das aspirações autonómicas do “povo” do Norte, o que quer que isso signifique: Quer o Norte de Itália, quer a Catalunha, quer a Flandres quer mesmo a antiga Checoslováquia, com a separação entre a República Checa e a Eslováquia, querem/quiseram mais autonomia, e até a independência, pelo facto de serem as regiões mais ricas e desenvolvidas dos respectivos países. Ora se o “Norte” está a metade da média europeia, qual é o factor “invisível” nesta reivindicação regionaleira a cavalo do futebol? O leitor que tire as suas conclusões.
Nos anos 80, do encerramento de fábricas, do desemprego, da fome na Península de Setúbal, quando povo saiu para a rua com bandeiras negras numa tentativa de chamar a atenção para o fosso crescente entre os cada vez mais ricos e os cada vez mais pobres, no “Norte”, no Vale do Ave, o “povo do Norte” que sofria o mesmo flagelo na carne, entrevistado na rua dizia, com um encolher de ombros na abertura dos telejornais ,que o patrão - que tinha 10 Ferraris na garagem mas não pagava os salários ia fazer uma ano -, era um coitadinho vitima da crise e que não podia fazer nada e que o Estado isto e que o Governo aquilo. Povo do Norte. Povo do quê?
(Na imagem do filme Who Are You, Polly Maggoo, William Klein, 1966)
Alberto João Jardim precisa de ser metido na “ordem” e só há duas maneiras de o fazer: referendo no Cont’ nente - Sim ou Não à independência - e ganha o Sim e o bwana fica entalado, ou referendo na Madeira - Sim ou Não à independência - e ganha o Não e o bwana fica entalado. Do que é que estamos à espera?!
O Presidente da Republica, foi desafiado por Coito Pita do PSD Madeira, a dissolver a Assembleia Legislativa da Região Autónoma e convocar eleições antecipadas, caso a nova lei das Finanças Regionais seja promulgada.
Para o vice-presidente do PSD Madeira seria uma forma de “dissipar qualquer dúvida que exista sobre o que pensam os madeirenses e porto-santenses” sobre o que considera uma lei má e péssima.
Pelo que ficou subentendido na entrevista de Cavaco Silva à SIC, quando o Presidente referiu o “ruído excessivo” em torno da Lei, ela vai ser promulgada.
Nem a fiscalização sucessiva da sua constitucionalidade vai ser requerida…
Perante este cenário, alguém que não o Presidente da Republica, devia explicar ao PSD Madeira que Portugal não é um conjunto de Regiões como a nossa vizinha Espanha. Aliás, essa proposta até foi rejeitada em referendo, onde o PSD fez campanha pelo não.
Sabendo-se que a nova Lei também é contestada pela generalidade dos autarcas, o que fazer em seguida? Destituir todas as Câmaras Municipais descontentes e convocar eleições?
Quando era criança, usava-se muito uma expressão que nunca compreendi muito bem o sentido: “Já chegámos à Madeira, ou o quê?!”.
Já aqui deixei escrito anteriormente que para acabar de vez com a chantagem manhosa do separatismo, promovida por Alberto João e seus esbirros de cada vez que se fala em transferências para a Região, se devia esclarecer duma vez por todas esta questão em referendo.
Uma simples pergunta: “Concorda com a Independência da Região Autónoma da Madeira?”.
A este propósito, elucidativa a sondagem publicada na edição de hoje do “Diário de Noticias”, com as respostas dadas quer no Continente quer na Madeira.
E se fosse Alberto João Jardim a demitir-se e a antecipar eleições, em vez de tentar pressionar o Presidente da Republica?
“O que o PS está a fazer é ressuscitar a actuação da FLAMA dos anos de 74, 75 e 76. Depois não se queixem do que pode ocorrer. Quando digo que Sócrates está a ressuscitar a FLAMA é porque tenho informações. Estejam atentos à actuação do SIS na Madeira”.
Quem assim falou foi Coito Pita, vice-presidente da bancada PSD, no Parlamento Regional da Madeira, a propósito da discussão da alegada inconstitucionalidade da Lei das Finanças das Regiões Autónomas.
FLAMA – Frente de Libertação da Madeira, organização clandestina separatista que lutava pela independência do arquipélago nos anos de 1974 a 1976.Recorria a ameaças pessoais, intimidações e atentados à bomba, criando um clima de terror e instabilidade nas ilhas durante os anos da sua actuação.
Nem é preciso ser bom aluno a matemática para saber somar dois e dois:
- Com a chegada de Alberto João Jardim ao poder a FLAMA cessou actividades.
- Coito Pina, aquele que diz que se está a ressuscitar a FLAMA, em 1993 num comício do PSD em Chão da Lagoa, gritou: “Contra Lisboa, Contra Portugal!”.
- Existe uma foto de Alberto João envergando uma t-shirt da FLAMA.
- Alguns dos suspeitos como operacionais da organização são hoje militantes do PSD Madeira.
De cada vez que se negoceia um Orçamento de Estado, lá vem o fantasma do separatismo.
Sócrates já disse “BASTA!”, mas pelos vistos o basta, não basta.
Partilho da opinião que deveria ser proposto um referendo à população do arquipélago sobre a questão da independência, para arrumar de vez com esta questão e colocar definitivamente o “soba” Jardim e a sua corte de bajuladores no lugar que lhe compete.
Entretanto foram feitas declarações gravíssimas que põem em causa a unidade nacional, tal como consta na Constituição da República. Feitas não por um qualquer Zé da Esquina, mas por um deputado, num Parlamento Regional. Se sabe o que sabe, não o devia ter dito onde disse, mas nos locais apropriados que são os Tribunais, o SIS, a Policia Judiciária ou a Procuradoria-geral da República.
Agora a bola está no campo do Governo, e o Presidente da República como representante máximo da unidade nacional, também devia ter uma palavra sobre o assunto; há que esclarecer estas afirmações, doa ao PSD que doer.
Nota: Marques Mendes vai à Madeira apoiar Jardim. Leia-se: Prestar vassalagem.
O mesmo Marques Mendes que excluiu Isaltino e Valentim em nome da credibilidade do rigor e da transparência, exclui-se agora da oportunidade de ouro de chamar à razão os seus boys nas ilhas.
Ou vale tudo só pelo poder?
Haverá alguém de bom senso no PSD que explique a Marques Mendes que vai ficar muito mal na foto para a opinião pública, com esta atitude?
Os cidadãos estão fartos dos carnavais de Jardim e principalmente de verem o dinheiro dos seus impostos esbanjado sem pudor e sem controlo.
Com beija-mãos desta natureza não se espante de não subir nas sondagens; e de Sócrates também não descer.
Post-Scriptum – Luís Marques Guedes, líder parlamentar do PSD, instado a comentar as declarações do seu camarada de partido sobre a FLAMA e o separatismo, responde “não vou comentar política local”.
Importa-se de repetir?! Focos de separatismo são politica local?