"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Somos já um grande partido do poder local português!", com ponto de exclamação e tudo. A foto do ungido em todos os cartazes do Minho ao Algarve e ilhas adjacentes rendeu 3 câmaras municipais, a maior com menos inscritos e menos votantes que a maior freguesia do concelho de Setúbal, onde ficou na terceira posição, a milímetros da castigada CDU. "Chega triplica câmaras". O triplo de zero é zero. No tempo do velho de Santa Comba, por quem tanto suspiram, iam para o canto da sala com umas orelhas de burro enfiadas na cabeça, depois de lhes ter sido aplicada uma dezena de reguadas em cada mão, pela inépcia à disciplina "Aritmética", e iam "ter de lidar com isso".
O partido da taberna ganhou as autárquicas, o CDS ganhou as autárquicas, e o Ilusão Liberal ganhou as autárquicas, disse-o a Mariana "angolana", já a noite ia alta.
Na RTP tivemos o momento caricato da noite com João Almeida, um palerma que nasceu para a política ao andar a abanar o rabo atrás da Zezinha Nogueira Pinto com a cara cheia de furúnculos, o Taxa, apóstolo do taberneiro, desprovido de cérebro, que andava à nora no estúdio a declarar a vitória na Moita ia a contagem com meia hora, e que após a aparição do chefe começou a repetir o que tinha acabado de ouvir, e o ilusionista liberal MAL, aquele que depois de ver manifs pro Hamas em todos os panfletos inventados na net só já lhe falta responder aos mails do príncipe da Nigéria, a medirem pichas para verem quem era o maior partido autárquico e quem tinha ganho mais que o outro.
Agora é que vai ser! Correm com os "monhés" da restauração e entregas, correm com os brasileiros da construção civil, correm com os "pretos" dos PALOPs das limpezas, e agora Albufeira vai para o infinito e mais além com o trabalho de merda e mal pago que os algarvios não querem fazer a ser feito pelos próprios algarvios. Junte-se-lhe as freguesias do Montijo e Palmela que deram a vitória ao partido da taberna, das adegas vinícolas e das estufas das multinacionais holandesas, alimentadas por mão-de-obra barata oriunda do hindustão e sudeste asiático, e isto vai tudo entrar nos carris, agora é que "eles" vão ver o que é doce. A ignorância é tramada.
Ou nunca meteu os chispes em Paris e Londres ou o que ele quer é outra coisa completamente diferente e que não tem nada a ver com qualidade de vida. E é precisamente por aqui, por esta concessão de vida, de cidade e de urbanismo, que a gente vê, ou devia ver, o que vai dentro destas cabecinhas. Uma urbe para os tops e para os rankings, uma cidade a correr, com qualidade zero na vida concreta dos cidadãos que a habitam.
Carlos Moedas esteve uma hora à espera da abertura dos telejornais para dizer que está muito consternado, que lamenta, que está em permanente contacto com o Presidente da República e com o primeiro-ministro, que coisas de descarrilamentos e acidentes na Carris são pelouros destes dois camaradas de partido, titulares de outros órgãos de soberania. Não disse nada Carlos Moedas assim como nada disse o vereador da mobilidade e transportes, se calhar não há. Marcelo, que uma vez chegou mais rápido que o INEM ao descarrilamento do 25 na Rua de São Domingos, desta ficou por casa, que encontros com Moedas só por acaso, em campanhas eleitorais, de visita a feiras do livro. Entretanto Moedas é convidado pelo primeiro-ministro para participar no Conselho de Ministros já agendado, que é coisa que está toda ligada, Conselho de Ministros - elevador da Glória - Carlos Moedas - eleições autárquicas. Começou ontem a campanha eleitoral em Lisboa. Caiu-lhe um descarrilamento no regaço, é o que há.
Desde este lugar sem história, Até um lugar na história, Vão apenas dois minutos, No elevador da glória
Quando familiares e vítimas estrangeiras do descarrilamento do elevador da Glória descobrirem a rapidez da justiça portuguesa, as poupanças com manutenções, o outsorcing, e outras maneiras de alguém ganhar ganhar dinheiro que é de toda a gente, vai ser um belo cartão de visita para Lisboa e para o país. Bem pode o xerife wannabe Moedas gritar por mais polícia na rua para desviar as atenções dos lisboetas, e desviar turistas de Lisboa. Espectacular passar férias numa cidade sem polícia onde o crime anda à solta na rua, é o "mayor" quem o diz a toda a hora.
Tony Carreira, Cristina Ferreira, meio Governo e Paulo Portas, na apresentação oficial da candidatura de Carlos Moedas. Conseguir juntar o pior da música, o pior da televisão, o pior da política. Chapéu!
Carlos Moedas na apresentação da recandidatura à presidência da câmara de Lisboa que agora é que é, vamos ter mais câmaras de vídeo vigilância e guardas nocturnos e tudo!
Marcelo, Presidente do Estado laico, na celebração dos 50 anos da diocese de Santarém, falou, falou, falou sobre a destruição das barracas pelo Ventura wannabe de Loures para não dizer absolutamente nada.
Jaime Nogueira Pinto, o advogado de Salazar n' Os Grandes Portugueses, no Público escreve umas merdas sobra "A nação portuguesa". "O estado novo combate o analfabetismo".
Se Portugal não fosse um país Lisboa centrado, com escapadelas pontuais ao Porto, as próximas autárquicas tinham o foco das televisões em Setúbal onde vai acontecer a mais maravilhosa/ fantástica/ inusitada disputa da história do poder local em democracia.
Carlos Sousa, o eleito presidente pela CDU, que há 24 anos pôs fim a década e meia de marasmo, caos urbanístico e arquitectónico, desordenamento do território, compadrio, pato-bravismo, promiscuidade entre poder político e futebol, do PS de Mata Cáceres, aparece agora como mandatário, o homem que vai dar a cara pela candidatura do Partido Socialista, tendo como oponentes declarados a sua ex vereadora da Cultura, e sucessora na presidência da autarquia - Maria das Dores Meira, agora como candidata independente, e André Martins, actual presidente da edilidade, e ex vereador do Ambiente no executivo que arredou os socialistas da governação da cidade por um quarto de século.
E é este o drama do PCP, ser o municiador de talentos para outros, desde o PS ao Bloco passando pelo PSD, enquanto definha nas urnas. O PCP está para a política como o Vitória da cidade está para o futebol e para os grandes.
[Imagem "Aspecto do edifício da Câmara Municipal de Setúbal, aquando do incêndio de 1910", Américo Ribeiro]
Adenda: ontem o inefável Santana Lopes abriu os telejornais. Mas isso não tem a ver com a Figueira da Foz, tem a ver com um vírus que contamina a política portuguesa chamado "amiguismo lisboeta"
O Correio da Manha faz primeira página com uma alegada sondagem que dá 46,2% a Carlos Moedas contra 27,1% de Alexandra Leitão numa corrida à câmara de Lisboa, e na autarquia do Porto 29% a Manuel Pizarro, numa disputa com Pedro Duarte, que se fica pelos 26%. Lá dentro, Carlos Rodrigues, "director-geral editorial" e alegado jornalista, explica a alegada sondagem - o universo nacional a opinar sobre uma determinada câmara municipal onde só votam os residentes, tipo uma sondagem europeia sobre quem deveria ser o próximo inquilino na Casa Branca em Washington.
A primeira função já foi cumprida - os que lêem as gordas ao balcão do café, a segunda, que é a replicação em todos os telejornais desta "sondagem fidedigna", está em curso. Percebem agora porque é que Correio da Manha não leva til?