"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
É normal que passadas quase três semanas sobre as eleições Autárquicas 2009 o Diário de Notícias ostente na sua homepage, secção “Portugal”, uma sondagem datada de 6 de Julho (!), com gráfico e tudo, intitulada “Se as eleições para a Câmara do Porto se realizassem hoje, em quem votaria?”?
(Na imagem October 1914, Mobile, Alabama, Seven year old Ferris. Photo by Lewis Wickes Hine)
Em Setúbal o PCP teve o mesmo comportamento com a substituição de Carlos Sousa por Maria das Dores Meira… mas, também em Setúbal, o PS resolveu candidatar Teresa Almeida, ex-vereadora do Urbanismo e co-responsável com o seu camarada de partido e ex-presidente da Câmara Mata Cáceres, pela entrega de tudo o que era palmo de terreno livre às mãos dos patos-bravos e pela consequente descaracterização total e absoluta da cidade, pelo caos urbanístico e arquitectónico, e pela perda de qualidade de vida dos seus habitantes. O povo que não é burro, fez-lhe um manguito e preferiu votar na CDU. Ter uma presidente de Câmara substituta a ter uma cidade prostituta.
Prefiro mil vezes ter um executivo camarário que durante 4 anos não mexa uma palha a outro que de braço dado com as clientelas “financiadoras-partidárias” das construtoras e a pretexto do desenvolvimento e da modernidade descaracterize urbanística e ambientalmente uma urbe não descansando enquanto existir um palmo de terreno livre para urbanizar respirar.
Como base para um trabalho que disseque os últimos 30 anos de poder autárquico em Portugal e aborde as promiscuidades entre o poder político as construtoras o futebol os “artesãos” do Direito e o nada que sobra para a qualidade de vida das populações, o Porto-cale é muito mais “excitante” que Lisboa. Arrisco mesmo, a cidade mais excitante do país.
(Na imagem October 4, 1923, Washington, D.C. Danish athletes at the Pension Office Building via National Photo Company.)
Insinuar que no Porto-cidade, o "factor FC Porto" - sim, ao contrário do que possa parecerr não é o "factor Benfica" - é determinante na escolha para presidente da Câmara, apesar de não serem 6 milhões os eleitores; ou que o Porto pode ser uma nação mas o Benfica é um Universo; ou que o apoiante Pinto da Costa caminha a passos largos para o tri-campeonato das derrotas ao lado do PS. Ah, Bruxelas é outro campeonato…
Pegando nas “provocações” da entrevista, faço a minha provocação: o “Noroeste peninsular” – cidades pujantes e com identidade própria como Aveiro, Braga, Guimarães ou Vigo – cabe ou quer caber todo dentro do Porto? Ou dito de outra forma, isto não é a recuperação do discurso futebolêz-regionalista de má memória: o Porto, como a Alemanha em 39, necessita de um “espaço vital”?
(Na imagem 1917, J. Reynolds, performing acrobatic and balancing acts on high cornice above 9th Street N.W)
Viver no país onde os cidadãos votam no candidato que lhes oferece bilhetes para um concerto de Tony Carreira. É mau – o candidato e o Tony; seja qual seja o candidato, seja qual seja o Tony.