"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Sempre me fez alguma confusão a maneira como alguma esquerda jurássica fala do Partido Republicanoamaricano (com a), do alto da sua suposta autoridade moral. Como se fossem uma cambada de incultos e analfabetos e onde o único princípio válido fosse a ausência de princípios.
E o que o Grand Old Party tem de melhor, penso eu de que, deve ser Abraham Lincoln, que lutou pela abolição da escravatura, e não anda por aí a alardear-se do facto nem a atirar com ele constantemente à cara dos amaricanos. Fosse em Portugal e outro galo cantaria. Estava encontrado “O Nirvana”. Às vezes sou tentado a concordar com o Henrique Raposo. Desculpem lá mas eu não quero ter nada a ver com esta esquerda.
Alguém me sabe dizer, s. f. f., quem era o primeiro-ministro de Portugal; quem eram os seus ministros; quem era o líder do grupo parlamentar do PSD, nos anos 80 do século XX, quando, na exacta proporção em que choviam fundos de Bruxelas, encerravam fábricas e empresas no distrito de Setúbal; as manifestações com bandeiras negras enchiam as ruas da cidade; D. Manuel Martins “O Bispo”, desmultipicava-se e desmultiplicava a igreja em acções de socorro aos carenciados; comia jaquinzinhos fritos em S. Bento a convite do Presidente do Conselho e, last but not the least, as auto-estradas floresciam que nem cogumelos e rasgavam o país de lés-a-lés?
“O ministro da administração interna serve para quê? Num país decente, num regime decente, Rui Pereira já estava com a carta de demissão na mão. O principal responsável pela morte daquela pessoa é das autoridades, a começar por Rui Pereira. Porque permitiram que os piquetes fora-da-lei actuassem de forma impune durante 3 dias.
E o Presidente anda a fazer o quê? Está à espera do quê para dar um grito? Democracia não é a abolição da autoridade. É a legitimação da autoridade.
Chama-se a isto estar “refém do passado”. Um passado comum que dá pelo nome de “buzinão”. O Presidente, então primeiro-ministro, pela célebre carga policial e pelas imagens que as televisões (à época já no plural) passaram até à exaustão. O actual Governo, à época na oposição, pela participação activa no “buzinão”.
Quando as pessoas não conseguem acertar contas com o (seu) passado, é nisto que dá.
E muito mais que corporativismo ou sindicalismo, salazarismo ou PREC, é à roda desta dualidade e/ ou ambiguidade passado-presente, oposição-governo que as coisas vão girando. E não só nesta situação específica. Para mal dos nossos pecados.
“Em vez de obrigar os senhores doutores que estão a ser pagos nos hospitais públicos a trabalhar depois do meio-dia, o Ministério da Saúde paga operações oftalmológicas no privado (e serão os mesmos médicos que estão de manhã no público?). Está certo. Faz todo o sentido. Obrigar a trabalhar dá muito trabalho.”
Ainda diria mais; uma operação oftalmológica, acordada esta semana entre o ministério da Saúde e o Hospital da Cruz Vermelha vale 900 euros. Entra hoje, sai amanhã. Uma operação oftalmológica em Cuba; tudo incluído (operação, avião e estadia), fica pela módica quantia de 1 300 euros; vinte dias de internamento, e, além das cataratas, um check-up completo que pode abranger operação às varizes e ao útero, e tratamento de dentes.
Alguma coisa vai mal…
(Foto de Yoshikazu Tsuno para a AFP, via Getty Images e fanada no Guardian)
Sobre este escrito de Henrique Raposo, que aliás assino por baixo, convém, a meu ver, acrescentar mais duas coisinhas:
- A primeira; o desastre ao nível ambiental.
Neste momento assistimos impávidos e serenos à desmatação de florestas inteiras para a plantação de cereais destinados aos biocombustíveis, principalmente na América Latina e no Sudoeste Asiático, com o consequente aumento de dióxido de carbono, principal responsável pelo efeito estufa e aquecimento global.
A segunda; salvo erro, foi Fidel Castro o primeiro dirigente político a alertar para o aumento do preço dos cereais pelo recurso aos biocombustíveis, e para as consequentes fomes que iria gerar nos países do terceiro-mundo e/ ou em vias de desenvolvimento. Mas na altura isso era mais do mesmo; ou seja, conversa anti-capitalista de velho comuna, e ainda por cima xé-xé…
Na perspectiva marxista-leninista da economia, deve ser encarada como uma medida, cujo objectivo último é eliminar mais um explorador na cadeia das relações laborais. Falando português corrente, o explorador tem nome: O Chulo.
Ao contrário do que se possa pensar, os cubanos podiam e podem frequentar os hotéis de luxo, aparentemente reservados aos turistas. Mais concretamente, as cubanas.
É absolutamente banal encontrar, nos lobbies & bares dos hotéis de Havana, jovens do sexo feminino, algumas com curso superior, que, para conseguirem equilibrar o orçamento, fazem uns “biscates” junto dos turistas, a troco de comissões pagas aos gerentes e recepcionistas, que assim fecham os olhos às penetras indígenas.
Ao abrir as portas dos hotéis aos naturais, Raul Castro elimina um parasita na cadeia de produção.
Vamos lá chamar os bois pelos nomes. Mau começo para o post. Vamos lá por os pontos nos is:
Quando se diz ou se escreve “a mulher de”, tem um sentido pejorativo; uma desconsideração à pessoa em questão e ao “de”; para o caso “o marido”. “Mulher” é aquela coisa que se tem ali à mão; submissa, sem vontade própria, e à qual se recorre para satisfazer as necessidades. Desde as mais básicas, às outras. Só não usa burka, aqui no Ocidente, porque pareceria mal; mas candidatos (no masculino) não faltam por aí.
(Foto via Ad Lib Studio)
A “esposa de” é alguém com vontade própria, personalidade. Uma entidade autónoma, com quem, por razões que a razão desconhece, e por mútuo acordo, partilhamos o dia-a-dia.
É por isso que Fernanda Tadeué esposa de António Costa. E se chama Fernanda Tadeu; não Fernanda Costa. E aparece na manif dos profs a gritar contra a ministra do Governo de Sócrates.
É por isso que Silda Alice Spitzer é a mulher de Eliot Spitzer. E se chama Silda Alice, com Spitzer no fim. E aparece ao lado do marido, com o ar mais desgraçado do mundo, na conferência de imprensa em que ele resigna ao cargo, depois de ter sido caçado a gastar balúrdios nas “meninas”.
Se tivessem olhado aos pormenores, teriam evitado polémicas parvas; que é só o mínimo que me ocorre para classificar o que poraqui tem acontecido.
(Esta era uma das razões que levava a minha avó, que nasceu no reinado de D. Manuel II, assistiu à implantação da República, aguentou o Estado Novo, e sobreviveu ao 25 de Abril, a passar-se completamente quando ouvia alguém falar na “mulher de”. “Mulheres são as putas!”; dizia.
Numa tarde de domingo; de carro desde Setúbal, a caminho duma seca no Fórum Almada. “Menos Mal Que Nos Queda Portugal”, cantavam os Siniestro Total nos anos 80. Menos mal que me queda la Fnac; vai o condutor pensando para com os seus botões.
A filha – 16 anos – lança a partir do banco de trás:
“Qual era a tua banda preferida quando tinhas a minha idade?”
“Talking Heads. Não… The Clash”, responde o pai.
“E a tua?”, agora para a mãe.
“Queen!”
“Eheheh!!! Não tem nada a ver!”.
“Pois… é o mesmo que gostar muito do Arrastão, mas acabar a casar por amor com a Atlântico…”; comentário do pai.
Parêntesis: esta foi uma piada que só o pai percebeu.
Outro parêntesis: ter como pai um dj de techno minimal, que veio do punk, é tramado para os putos. O choque de gerações deixa de se fazer, também, pela componente musical. Menos um ponto para os filhos.