"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Diz que o sistema político está velho e cansado, os protagonistas são velhos, subentende-se, porque não se percebe como é que um sistema novo, povoado por novos, não vai filmar e publicar uma conversa privada, deliberadamente mal legendada [maturidade por integridade] para direccionar indignações. Isto é-nos dito por aqueles que passam a vida a dizer-nos que temos de trabalhar, trabalhar, trabalhar, manter uma vida activa, o trabalho liberta, opsss, trabalhar até sempre, porque a esperança de vida aumentou e coise. A esperança de vida aumentou só para trabalhar, trabalhar, trabalhar, coisas da política é mandar os velhos... trabalhar, e deixar isso por conta dos novos, eles é que sabem bué, quando devíamos estar gratos aos velhos, como os que aparecem no clip com as legendas manipuladas, que continuam na política activa, pela forma didáctica como passam a informação e a memória, do que foi o fascismo, a ideologia dos velhos, mesmo que em idade para irem à tropa. A ausência de memória é pasto para os totalitarismos.
O grau zero da política é um gajo, doutor gajo, querer ser primeiro-ministro e não perceber o funcionamento do sistema parlamentar constitucional, ou um gajo, doutor gajo, querer sem primeiro-ministro e equivaler partidos fascistas, xenófobos e racistas, a partidos que reivindicam melhores salários, melhores pensões e reformas, mais saúde e educação, mais Estado social? [Ou ambas].
Por duas vezes a bancada do PCP ficou imóvel e muda enquanto o Parlamento aplaudia, primeiro Augusto Santos Silva, depois Lula da Silva, na condenação da invasão russa da Ucrânia. O PCP só quer a PaZ! A PaZ! a PaZ!
A Transparência Internacional acusa Bolsonaro de criar o “maior esquema de corrupção institucionalizada” no Brasil, vai daí o Ventas convida o mal-formado para Portugal e manda metade da bancada do Chaga para o Parlamento, de cartazes na mão xingar Lula, a outra metade de bandeira na Ucrânia para ver se a gente se esquece de que quando o energúmeno chegar também chegam Le Pen e Salvini, os amigos do Ventas financiados por Putin.
Incidentes programados e preparados para que resultem em confrontos de rua entre facções políticas opostas, mas avisar antecipadamente que os incidentes preparados, a acontecerem, serão culpa do poder político que nada fez para os evitar e até os propiciou. A seguir nos próximos dias se 90 anos depois esta treta ainda pega.
Ontem tivemos no Parlamento um veterinário eleito deputado a comportar-se como se estivesse num chiqueiro ou num montado enquanto invocava a "liberdade de expressão" como escudo para desrespeitar a casa da democracia. Atrás de si uma pirralha, acabada de chegar do Twitter onde largou que um condenado não devia entrar na casa da democracia, emborcava garrafas de água e chamava "senil" à presidente em exercício, ela, suspeita de plagiar um discurso da italiana Meloni e que contra a lei teve como assessor o pai, suspeito de desviar dinheiro de uma IPSS, de a levar à falência e deixar 50 trabalhadores sem salário. Como diriam os espanhóis, yo no creo en sospechas, pero que las hay, las hay. O resto da bancada gesticulava, praguejava, largava apartes, fazia sons imperceptíveis com a boca em grande animação taberneira. São só 12, as últimas sondagens dão-os multiplicados por três. O último a sair apague a luz.
[Na imagem a capa de Maio da revista Texas Monthly que era o que tinha aqui mais à mão]
Em que medida é que o escrutínio e a transparência contribui para afastar os mais qualificados do governo, das empresas públicas, da administração pública, do que quer que seja? Maior qualificação é sinónimo de maior apetência para a vigarice e a trafulhice? E se o é devemos olhar para o lado, fingir que não vimos, desculpar qualquer coisinha, para que assim os mais qualificados aceitem vestir a camisola do governo, das empresas públicas, da administração pública, do que quer que seja? O senhor Silva espalhou-se ao comprido, reset e nova entrevista.
Colégios onde a propina inclui ballet, natação, equitação, educação musical, apoio ao estudo, vulgo explicações, mas deixa de fora os manuais. É a direita da igualdade de direitos.
Em pouco tempo Luís Montenegro está a conseguir a proeza de aparecer várias vezes no telejornal a falar sobre tudo e sobre nada e sem que nada de substancial saia do que fala, coisa que até há bem pouco era pelouro de Marcelo. "Luís Montenegro disse", é contar as vezes por telejornal e nos noticiários na rádio. Luís Montenegro disse que "o Governo está em roda livre. Apesar da maioria absoluta, temos hoje um Governo onde reina a confusão e a discórdia", porque enquanto Luís Montenegro diz e diz que disse, Luís Montenegro não diz que confusão e discórdia é os deputados do PSD recusarem acatar as instruções do líder Luís Montenegro e do líder do grupo parlamentar para elegerem um protofascista vice presidente da casa da democracia. Compreende-se, ambos têm o mesmo Passos no passado, até há bem pouco tempo tratavam-se por camarada na rua de São Caetano à Lapa, e o intruja não ficou fascista de um dia para o outro.
O Ventas e o Chaga não são contra a imigração, o Ventas e o Chaga são contra a imigração legalizada, aqueles que vêm para o nosso país à procura de melhor qualidade de vida, para si e para os seus, a qualidade que não encontram no país de origem, tal e qual a diáspora portuguesa desde sempre, aqueles que trabalham mais do que lhes é exigido sem respingar, aqueles que descontam e pagam impostos e contribuem para a sustentabilidade da Segurança Social. O Ventas e o Chaga, na sua cruzada contra a imigração, o que pretendem é que Portugal seja uma imensa estufa em Odemira, um olival em Beja, um amendoal no Alqueva, de trabalho escravo, sem direitos nem garantias, de mais-valia absoluta para o empregador, os financiadores anónimos do Chaga.
Não é nenhum burro e muito menos um matacão, é licenciado em Direito, com 19 valores, e doutorado em Direito Público, sabe antecipadamente que os projectos que insiste em submeter a discussão serão vetados por manifesta inconstitucionalidade, mas insiste e insiste e insiste e voltará a insistir. O paladino da verdade e da justiça, interprete do sentir do povo, contra a corrupção e a imoralidade. Intruja e charlatão que é joga com a genuína indignação da iliteracia jurídica dos pobres de espírito, aqueles que acreditam piamente naquilo que apregoa. É um jogo jogado em duas frentes, a sua, a do conteúdo para atingir a forma, a dos aios e escudeiros, apenas meia dúzia de degraus acima da turba na capacidade de raciocínio e interpretação, mascarados de intelectualidade no chorrilho de salamaleques de escrita,no ataque à forma para destruírem o conteúdo.