"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Um terrorista-bombista não foi eleito vice-presidente do Parlamento e o taberneiro teve um choque de frente com a realidade e com a democracia, uma deslealdade para com o segundo partido, disse ele, depois de na legislatura anterior toda a sua bancada se ter literalmente cagado para a lealdade e boicotado a eleição do presidente do Parlamento, deputado oriundo da bancada maioritária. E depois foi comovente ver um bronco saído da série interminável produzida pelas jotas partidárias, alçado líder de grupo parlamentar, bem sucedido na vida à pala do cartão do partido, ao telefone com o taberneiro a alinhavarem acertos de contas com o voto privado dos deputados das respectivas bancadas. E ainda mais comovente foi ver a segunda figura da hierarquia do Estado, eleita inter pares, a explicar-se na bancada do partido da taberna no fim do plenário, depois de na anterior legislatura ter sido enxovalho, na eleição e na legislatura, pelos apóstolos do taberneiro.
No final do habitual chorrilho de mentiras em alta gritaria o taberneiro disse que ele e o partido da taberna é que iam "cumprir Abril" sendo efusiva e longamente aplaudido de pé pela bancada do grupo de excursionistas que chefia para gáudio dos capitães de Abril presentes nas galerias.
O PS meteu Carlos Costa no Banco de Portugal; o PS meteu Marcelo na Presidência; o PS meteu José Pedro como segunda figura do Estado. Do que é que o PS se queixa concretamente?
Tentar transformar a discussão de uma moção de confiança proposta pelo Governo na discussão de uma comissão parlamentar de inquérito decidida por um partido da oposição; às claras, na cara do Parlamento e com todo o povo a assistir pelas televisões, propor uma negociata de bastidores para evitar a moção de confiança levada a plenário pelo Governo; na 24.ª hora disponibilizar-se para responder a todas as dúvidas dos deputados, depois de duas semanas a fugir às questões levantadas, pelos deputados e pela comunicação social, enquanto se desviava para canto com respostas a perguntas que nunca ninguém colocou ou a enrolar conversa em questões de resposta directa; propor uma comissão parlamentar de inquérito nos modo e no tempo decididos pelo objecto da inquirição - o primeiro-ministro; depois de todos os expedientes dilatórios frustrados, começar uma operação concertada de atribuir culpas ao maior partido da oposição por causa das trafulhices cometidas pelo líder do partido no Governo e primeiro-ministro.
Quem tem medo de uma comissão parlamentar de inquérito ao ponto de provocar uma crise política e ir a eleições? O que é que Luís Montenegro e Hugo Soares têm a esconder dos portugueses? O que é que o PSD teme do deslindar deste modo de vida que é governar a vidinha não pelo mérito profissional mas pela posição que se ocupa, que se ocupou, ou que se venha a ocupar na vida política? É que as inquirições nas comissões parlamentares de inquérito são como as cerejas, uma trás da outra, e mais gente vai aparecer por arrasto, daí os 15 dias propostos.
Um Governo de manhosos, suportado por uma bancada parlamentar de manhosos, um partido de manhosos.
Luís Montenegro, primeiro-ministro sem saber ler nem escrever, que até há coisa de um ano o único contributo para a cousa pública tinha sido desempenhar o papel de "ponto" de Passos Coelho e, como o profissional que fica dentro de uma caixa na boca do palco e dá as dicas aos actores quando se esquecem das falas, profissionalmente dava as dicas pré-acordadas com o primeiro-ministro para este poder discorrer longamente quão boa e maravilhosa era a sua governação, ao invés da oposição que o confrontava com questões incómodas, continua na boca de palco, escondido no guião pré-estabelecido, captado pela lente do fotojornalista da Agência Lusa Manuel de Almeida. Está politicamente morto e ninguém no partido tem coragem de lhe dizer.
O Parlamento foi desafiado por Bacelar Gouveia a clarificar a lei para impedir prescrição do denominado Cartel da Banca. Propõe o constitucionalista "lei interpretativa" para sublinhar o que a lei já prevê: que processos ficam suspensos em Portugal enquanto são apreciados no Tribunal de Justiça da UE. No Reino Unido os bancos assumiram o "erro", em Portugal não, contestaram a investigação, litigaram em tribunal. Partindo daqui podemos apostar que este apelo vai entrar pelo parlamento a 100 e sair a 200, podemos até adivinhar quais os partidos que vão votar a favor e quais os que vão votar contra. E num país com um mínimo de cultura cívica e democrática, de exigência cidadã, estes partidos seriam fortemente penalizados nas próximas eleições.
Presidente de clube, sob vigilância da UEFA e com as receitas futuras hipotecadas, proibido pelo antecessor de estar presente no seu funeral, faz comunicado a acusar os rivais de não marcarem presença no funeral onde não pode ir, nem de sequer enviarem uma nota de condolências pela morte de quem os considerava inimigos e não adversários, e que passou todo o consulado a instigar o ódio e a fomentar a divisão.
Chefe de partido pejado de malfeitores - de ladrões de igreja a ladrões de malas, passando por acusações de pedofilia, ódio racial, tentativa de homicídio, falsificação de identidade, violência doméstica, e um longo et caetera, aproveita suspeita sobre idoneidade do primeiro-ministro para avançar com moção de censura ao Governo no Parlamento.
Podem parecer coisas diferentes mas são a mesma coisa.
Os deputados que estão sentados ao lado do agressor de um árbitro de futebol num torneio infantil; os deputados que estão sentados ao lado de um devedor ao fisco com o nome na Lista Pública de Execuções e que usa identidade falsa; os deputados que estão sentados ao lado de um condenado por roubo de caixa de esmolas; os deputados que estão sentados ao lado de um detido duas vezes nos States por "fraud immigration"; os deputados que estão sentados ao lado de um arguido por prestar falsas declarações em tribunal; são os deputados que não querem estar sentados ao lado de um alegado ladrão de malas em aeroportos. Espectáculo!
E o taberneiro meteu Mário Soares a dizer coisas que Mário Soares nunca disse; e o taberneiro descontextualizou coisas ditas por Mário Soares para proveito da sua arenga; e o taberneiro acusou Mário Soares pela descolonização que o regime fascista não quis fazer e que esteve na génese da revolução que o havia de derrubar; e o taberneiro só disse as merdas que disse, diz, e há-de continuar a dizer, porque Mário Soares lutou para que isso pudesse acontecer. E esteja lá onde estiver Mário Soares deve estar satisfeitíssimo com o palavrório do taberneiro na evocação do seu centenário.
Depois de chumbado o nome proposto pelo PSD para o Constitucional, uma meritíssima juíza que acha haver "um conflito entre a vida intrauterina e o direito da mulher dispor do seu corpo", Hugo Soares, um bronco carreirista com zero de substância que acha que os direitos, o bem estar e a felicidade de terceiros, devem ser referendados, no caso da co-adopção e adopção de crianças por casais do mesmo sexo, proposta prontamente chumbada pelo tribunal Constitucional, e que enquanto líder da jota defendeu o fim da educação e saúde gratuitas, apareceu feito sonso com o "motivo de desprestígio das instituições" e que o chumbo de Maria Tomé "coloca em causa aquilo que é o normal funcionamento deste tipo de eleição", sabendo perfeitamente que as instituições se prestigiam aos olhos dos cidadãos quando as matérias são decididas e votadas às claras, sem arranjinhos de bastidores, com os deputados a votarem de acordo com o que a sua consciência lhes dita.
O guião seguido pelo Partido Republicano nos States, de a pouco e pouco ir minando o Constitucional com, entre outros, "juízes de visões conflituosas entre a vida intrauterina e o direito da mulher", até ao ponto da maioria republicana que o domina considerar Trump inimputável por crimes cometidos enquanto presidente, para já está a falhar em Portugal.
Nota: Post escrito ao abrigo da "liberdade de expressão" defendida pela segunda figura do Estado, José Pedro Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da República
Lucília Maria das Neves Franco Morgadinho Gago, Procuradora-Geral da República, aos 11 dias do mês de Setembro do Ano da Graça de 2024 em audição perante os deputados na Assembleia da República.
Na convocatória para a cercadura ao Parlamento, a páginas tantas, o taberneiro diz "dia 4 às 15 horas" enquanto faz com a mão direita o gesto três dedos e um zero que, em linguagem gestual, todos já vimos no canto do ecrã a tradução, significa "dia 4 às 15 horas" e não o símbolo White Power dos supremacistas brancos e, por coincidência e só por coincidência, também o símbolo do Movimento Zero nas polícias, aqueles senhores e senhoras que nos grupos WhatsApp, Telegram e contas fechadas no Facebook se dedicam a insultar imigrantes e gente de outras cores, para, mais rápidos que a própria sombra, os ditos zeros responderem ao apelo do chefe e gritado presente. Nas televisões, rádios, jornais, que andaram com o senhor ao colo e o engordaram, ninguém deu por nada, mesmo depois de elevados à categoria "Inimigos do Povo". Espectáculo!