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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

|| Praia com vista para a capital

por josé simões, em 06.01.13

 

 

 

Enquanto via o documentário "Arrábida – da serra ao mar" dei comigo a pensar que não é de todo descabido poder estar um dia em Tróia estendido na toalha e a admirar a bela paisagem de… Lisboa.

 

A herança que vamos deixar às gerações futuras, como agora se costuma dizer para justificar o saque e o esbulho ao bolso do cidadão, já que é de saque e esbulho ao património comum dos cidadãos que se trata.

 

E quando não houver serra onde é que encaixamos os argumentos que servem para manter as pedreiras e a cimenteira em actividade? Nas mais valias pornográficas de meia dúzia de accionistas com a justificação dumas centenas de postos de trabalho pagos a salários inferiores aos da média europeia, e mais um osso para roer na forma de um mecenato migalheiro, ao futebol da cidade e a uns quantos espectáculos musicais em dias de festa – com a cumplicidade do poder autárquico, para manter o povo distraído, da pedra e do cimento, e respeitosamente grato a quem paga o circo?

 

[Uma das pedreiras da Arrábida na imagem]

 

 

 

 

 

 

|| Se acreditarmos com muita força as coisas passam realmente a ter acontecido como desejamos?

por josé simões, em 08.06.10

 

 

 

E depois fazem do Seagull o que ele nunca foi.

 

O Seagull era a discoteca dos betos, por opção da gerência e pela situação geográfica, onde só se ia de carro ou de mota, nos anos do desemprego e das bandeiras negras na cidade de Setúbal. Não é difícil  adivinhar quem tinha carro e mota para ir ao Seagull.

 

No Seagull tocava pop-rock beto-manhoso, desde o mais comercial dos Human League, passando pelo pelos Cheap Trick até ao Paradise by the Dashboard Light de Bat Out Of Hell do Meat Lof com um “live the kids alone” dos Pink Floyd pelo meio, com toda a gente a cantar em coro no meio da pista de dança.

 

No Seagull fumavam-se uns charros à socapa, que beto não é santo, e apanhavam-se umas bebedeiras de caixão à cova e volta e meia morriam uns e umas nas curvas da Figueirinha.

 

No Seagull faziam-se uns engates com aquelas betinhas mais prá frentex, filhas herdeiras das “boas famílias” das elites fabricadas e enriquecidas nos anos 40 na cidade à roda das industrias conserveiras, da Sapec e outras trafulhices, e que como eram boas filhas de “boas famílias” eram ratadas pelas costas à má-língua pelos outros betos, também eles filhos de “boas famílias”, porque as “boas famílias” eram quase todas da mesma família e convinha ser cavalheiro e manter as aparências.

 

No Seagull o porteiro tratava mal quem não era da família e de “boa família” e depois lá dentro a família também contava e não era liquido que só pelo facto de se ter entrado o tratamento fosse melhor no acesso ao líquido.

 

Ao Seagull ia-se como se ia para a escola, calça de ganga, polo e sapatinho “vela” sem peúga, mas convinha ser calça Wrangler e polo Lacoste, e na falta do sapatinho “vela” sem peúga uns All Star lavados estava muito bem, se bem que bem bem era John Smith branco. Tudo muito beto “in”.

 

Ao Seagull iam os betos e ilhas adjacentes, à Cubata ia o povo mainstream e os freaks do underground iam ao Chora que tinha a melhor música do distrito e arredores, mas onde ninguém ia por causa dos “drogados”, das raparigas “mal comportadas” e dos cabelos compridos.

 

O Seagull era uma discoteca absolutamente banal que fez história pela situação geográfica. Ponto final.

 

Não me venham cá com produções baratas de Hollywood que eu frequentei o Seagull. Até demasiadas vezes para o meu gosto. E  já gastei mais caracteres com esta treta do que o que estava programado.

 

(Imagem Enoch Powell addressing Don McPhee, 1974, Belfast)

 

 

 

 

O PS Setúbal e a Arrábida (II)

por josé simões, em 09.10.07
Paulo Valdez, vereador do PSD na Câmara de Setúbal, pediu escusa de votar a moção camarária condenatória da decisão do Governo em prolongar a vida útil de laboração da cimenteira Secil em pleno coração do Parque Natural da Arrábida. Alegou conflito de interesses, uma vez que é funcionário do grupo Semapa que detém a fábrica.
O mesmo não aconteceu com o vereador do PS Ilídio Ferreira, que apesar de ser funcionário da cimenteira não se inibiu de votar contra a moção, a favor da continuação do esventramento da serra.
 
Aquela coisa “da corrupção”, ou do combate à, de que João Cravinho na entrevista à Visão se diz chocado com as tomadas de posição dentro do seu partido, tem só a haver quando alguém recebe uns dinheirinhos por baixo da mesa por uns negócios mais ou menos (i)lícitos; ou existem outros tipos de corrupção – politica, ética, moral?

O PS Setúbal e a Arrábida

por josé simões, em 08.10.07

 

Uma moção que contesta a concessão pelo Governo do prolongamento da vida útil da cimenteira Secil a laborar em pleno Parque Natural a Arrábida, foi aprovada por maioria pelo executivo da Câmara de Setúbal. O vereador do PSD Paulo Valdez que profissionalmente se encontra ligado ao grupo detentor da cimenteira pediu escusa de votar. Contra a moção votaram os vereadores eleitos pelo PS. Neste “contra a moção” deve ler-se a favor da continuação da laboração da cimenteira, defendida pelo vereador do PS Ilídio Ferreira.
 
Arquive-se esta tomada de posição para memória futura. É sempre bom sabermos – os habitantes de Setúbal em particular e os cidadãos nacionais no geral – com quem podem contar. Aqueles que tomam o partido do bem-estar das populações que os elegeram, e, aqueles que tomam o partido de lobies ligados a grandes grupos económicos, mesmo que isso implique a destruição do património natural, a perda da qualidade de vida das populações, e hipotecar a das gerações futuras.

A co-inceneração na Arrábida, "movimento de cidadãos" e outras lutas

por josé simões, em 13.04.07

Declaração de interesses: Sou contra a co-inceneração! Ponto final.

 

Pelo trissemanário O Setubalense tomei hoje conhecimento que o auto denominado Movimento de Cidadãos pela Arrábida (MCpA) vai realizar amanhã um pic-nic – “que pretende ser um período de festa e reflexão” – no Parque da Comenda.

Segundo João Bárbara, um dos dinamizadores do movimento, o pic-nic que conta também com o apoio da Câmara de Setúbal, pretende ser “um espaço de reflexão mas também de sensibilização da população para a Serra da Arrábida que continua a ser um ex-libris da cidade”.

 

Não entrando por esta inusitada aliança Partido Comunista-Bloco de Esquerda (vivemos em democracia e as pessoas/organizações politicas são livres de estabelecerem as alianças que bem entenderem) que é quem no essencial – núcleo duro – constitui o MCpA, estou mesmo a ver as conclusões a tirar depois de um barbecue ou de uma sardinhada, regada por um excelente tinto da Quinta do Alcube; passe a publicidade, mas uma vez que o tema é a Arrábida, é a única adega que me ocorre em terrenos do Parque Natural.

 

Agora mais a sério: o MCpA nasceu como reacção à política do então ministro do Ambiente José Sócrates de proceder à co-inceneração de resíduos tóxicos nas cimenteiras, onde se incluía a Secil, em pleno coração do Parque Natural da Arrábida.

E na sua génese – atrevo-me a avançar, sabendo de antemão as reacções que vão vir – está não a luta contra a co-inceneração, mas a luta política contra o (um) Governo.

Passo a explicar: se a Secil não existisse como cimenteira em pleno coração do Parque, o problema da co-inceneração nem sequer se colocava a Setúbal e aos Setubalenses. Continuava a haver um outro, mais antigo que a cimenteira – refiro-me às pedreiras, mas esse, e a meu ver, de muito mais fácil solução; mas que não implicava uma luta de cariz político…

 

Aonde quero chegar?

Onde é que andavam os senhores do MCpA nos idos de 1975/76 quando a Secil atingiu o auge da laboração e iniciou a sua expansão da beira do estuário do Sado para o interior da serra com a construção da Via Seca, com honras de inauguração pelo então Presidente António Ramalho Eanes?

Andavam nas lutas político-sindicais contra o então Governo, em defesa dos postos de trabalho, melhores condições salariais e a conversa do costume. Há época, a Serra da Arrábida podia muito bem ser delapidada, em nome da manutenção de uma empresa nacionalizada e dos seus operários. Se alguém se atrevesse a reivindicar o encerramento puro e simples da fábrica – e eu cheguei a tomar essa posição – era apelidado de louco; então e os postos de trabalho? – Respondiam-me. Então e a serra? – Argumentava infrutiferamente, eu.

 

(Nessa época a ecologia era uma coisa de uns quantos “malucos” alemães ou holandeses que por aqui apareciam em carrinhas Volkswagen-“pão de forma”, com autocolantes Nuclear? Não, obrigado! à descoberta da revolução, e nem o Zandinga, na melhor das previsões arriscaria o Al Gore mais o aquecimento global. Eu, e outros como eu, éramos as “vítimas” influenciadas por esse contacto com os filhos dos burgueses-capitalistas da Europa, que após terem atingido um elevado nível de desenvolvimento, queriam agora negar-nos a nós esse caminho, com as estórias da defesa da natureza e do meio-ambiente…).

 

O Povo (com P grande), ao contrário do que possa parecer não é burro. E é por estas e outras como estas que, nas manifestações, concentrações e protestos do MCpA aparecem sempre meia dúzia de gatos-pingados, invariavelmente sempre os mesmos, e invariavelmente, os mesmos que andavam nas manifs. em defesa da Secil nacionalizada e do Poder Popular. E é também por isso que este novo meeting do MCpA não é inocente na escolha da data e da localização. O Parque de Merendas da Comenda, recebe aos fins-de-semana a visita de centenas de famílias Setubalenses, e não só, que ali se juntam para confraternizar em roda das habituais sardinhas assadas, febras e entremeadas. É quase impossível “achar” um lugar disponível para quem chegue depois das 11 horas da manhã.

Antevejo, a reivindicação por João Bárbara, do “sucesso” do pic-nic e da luta dos Setubalenses contra a co-inceneração!    

 

Saquear com o aval do Estado

por josé simões, em 25.02.07

 

Confesso que tive uma certa esperança e, uma pequena alegria interior, pela natureza, através da força do mar, estar a corrigir os anos e anos de barbaridades e atentados efectuados pelo homem, nas praias da Costa da Caparica.

 

Essa secreta esperança e alegria morreu hoje e, transformou-se numa tristeza a dobrar ao ler nos jornais que, a solução para travar o mar nas praias da Costa, passará por trazer pedras mais pesadas das pedreiras da Serra da Arrábida.

 

Tentar remendar um problema causado pelo constante desrespeito dos princípios básicos de ocupação do litoral e das dunas, agravando outro numa área protegida, num Parque Natural.

 

Depois da delapidação que a Serra da Arrábida sofreu (via pedreiras), com aval do Estado português, para a construção da Expo 98, depois de toda a destruição causada pelo saque legalmente efectuado pela Secil para alimentar a indústria cimenteira;  a rapinagem continua e, pelos vistos com a benção do ministro do Ambiente...

 

Custa-me muito dizer isto mas, agora a minha secreta esperança é estar um dia tranquilamente deitado na toalha em Tróia, desfrutando do meu banho de sol e... estar a vêr Lisboa!

O jornal "O Setubalense", os Setubalenses e a Arrábida

por josé simões, em 08.09.06

É no mínimo indecente toda a campanha que o jornal O Setubalense tem vindo a desenvolver em defesa dos proprietários de barcos de recreio/ motas de água, pretensamente prejudicados com a criação do parque Marinho da Arrábida e consequente implementação de novas normas.

Desde o nascimento do Parque, digam Vªs Exas qual foi a edição do jornal que não publicou nas suas páginas um artigo e/ ou uma reportagem em que o tema não fosse os marinheiros de fim-de-semana-de-verão.

Acaso nas páginas do jornal, alguma vez saiu publicado algo que fosse, uma entrevistazinha, uma reportagem de um parágrafo só, em que fosse pedida opinião a meia dúzia dos milhares de banhistas que frequentam as praias da Arrábida desde Albarquel a Sesimbra, sobre como é estar na praia sem o insuportável zumbir dos motores dos barcos, sem as acrobacias e diabruras palermóides das motas de água, sem o cheiro a gasóleo? Pois é...

E a constante perseguição aos roazes.

E a fúria dos proprietários vai toda canalizada, pela pena do jornalista, para a Policia Marítima, qual instituição Pidesca, cujo crime maior é fazer cumprir a Lei da República e do Estado de Direito!

Face à arrogância e prepotência com que alguém era tratado na praia pelos motoqueiros aquáticos, barqueiros e concessionários (sim, porque eles alugam as motas!), quando reclamava que a praia era para as pessoas, e que fossem fazer barulho pra lá da Anicha, até que as autoridades têm sido bastante corteses.

E depois são os coitadinhos que não podem exercer a arte da pesca junto à serra e à praia!

Nem é preciso apelar ao uso de muita inteligência para se perceber que é precisamente nestas áreas que os peixes nidificam e procriam. Aprende-se na primária ou no canal Panda.

Mas não! era um fartar vilanagem! Fazendo uma interpretação básica do velho ditado "tudo o que vem à rede é peixe", eram polvos tamanho da palma da mão, sarguetas e e chocos de aquário, nem os gudiões escapavam!

Que interesse e/ ou interesses defende um jornal, supostamente da cidade,  para fazer lobbie pela facção que desde sempre demonstrou não ter qualquer respeito pelo rio, pela serra, pelas pessoas?

Responda quem souber.