Casamentos mistos
Estava para ali a fazer um zapping e vou cair na RTP1, numa reportagem qualquer que abordava “o fenómeno” dos casamentos entre soldados portugueses integrados em missões de paz sob a égide da ONU, e autóctones dos países onde estavam destacados; na Bósnia, no Kosovo, ou em ambos, não tomei muita atenção ao pormenor. Assim como não tomei atenção ao nome do jornalista que assinava o trabalho.
E não tomei atenção por uma razão muito simples: é que me vai faltando a paciência para este tipo de reportagem-idiota; apresentada como se fosse assim um feito histórico a atirar para o sobre humano. Uma coisa assim “do outro mundo”.
Uma nação que enviou centena e meia de moinantes (*) a dar quatro voltas à Terra dentro de uma caravela (e mais não deram porque entretanto a Terra acabou), e que, dentro da caixa craniana, em vez de um cérebro levavam um caralho e foram fazendo filhos em todos os sítios onde aportavam, e, por via disso, inventaram e disseminaram há já 500 – quinhentos – 500 anos o mulato e o mestiço; numa nação que teve o casamento misto instituído por decreto no século XVI (Afonso de Albuquerque; vice-rei da Índia); grande feito ir ao Kosovo e vir de lá casado com uma loura que até tem um curso superior! Poupem-me!
Até parece que estamos a falar de um inglês que casou com uma indiana, ou de um alemão que deixou descendência no Ruanda ou no Burundi. Isso sim é que era motivo de reportagem!
(Foto de obra de Jeff Koons roubada na Reuters)
(*) Ver Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa