"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Depois de 3 anos a ouvir dizer todos os dias que "Portugal não é a Grécia", no sentido de que somos muito melhores e muito cumpridores e de que não somos trafulhas e não maquilhamos as contas:
Era capaz de jurar que Antónis Samarás, da Grécia que não somos nós e que não cumpre nem faz cumprir, está ali na primeira linha da manif, de cabeça erguida e de braço dado com Mariano Rajoy, da Espanha que não é a Grécia, de braço dado com David Cameron, da Inglaterra que não é nada com nada, sem o peso diminuído e sem a desproporção equacionada, malgré o segundo resgate e a ameaça do terceiro. Em boa verdade não somos a Grécia, a começar logo pelos valores e pela coluna vertebral na hora de dizer "presente!".
Os 150 anos do Diário de Notícias mereciam um melhor director ou, vá lá, um director mais honesto e menos lambe-botas do poder instituído.
Ontem todos tão solidários e prontamente indignados no Twitter, de dedo no gatilho mais rápidos que a própria sombra, por Ana Gomes ter sido ela própria, sempre à flor da pele e a dizer o que lhe vai na alma.
Hoje todos ainda tão solidários e a leste das notícias e das declarações do imbecil Antonis Samarás depois do ex-ministro Adonis Georgiadi ter lança do a bisca.
O quê? Eu? O Samarás falou? Não sabia. Desconhecia. Hoje ainda não ouvi notícias... A direita nunca desilude.
O primeiro é um problema de semântica: nos media internacionais ele há a "esquerda democrática", a "esquerda moderada" e a "esquerda radical", mas não, não há a "direita trafulha", há a Nova Democracia.
O segundo é um problema de coerência colectiva: os gregos insistem em votar na "esquerda radical" e não perceber que o que é bom para a Grécia, a Alemanha União Europeia e os "mercados", não necessariamente por esta ordem, é votar na "direita trafulha", que lhes maquilhou a contabilidade e conduziu o país á beira do abismo em que se encontra.