"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A Rússia, membro permanente do Conselho de Segurança das Organização das Nações Unidas, e com direito a veto, bombardeia Kyiv, a cidade onde nesse preciso momento se encontrava o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, com conhecimento da Rússia. Um dia como outro qualquer na boa fé de Putin.
Com uma guerra na Ucrânia se desmontou a faceta humanista e libertadora dos povos do PZP; com uma guerra na Ucrânia se desmontou a aura mediadora e procuradora de consensos do beato Guterres.
Podia António Guterres ter acrescentado que a Palestina não existe, que é uma criação do imperador Adriano depois de massacrar os sobreviventes insurrectos ao poder de Roma, por sua vez sobreviventes descendentes dos judeus revoltosos chacinados pelas legiões do general Tito que arrasaram Jerusalém, destruíram o templo numa acção militar que terminou no lendário cerco à fortaleza de Massada no ano de 73 d. C. . Mas António Guterres é um diplomata e não quis ferir sensibilidades.
Anormal seria que a ONU, organização nascida há 70 anos como resposta a uma Europa arrasada pela II Guerra Mundial e os seus 70 milhões de mortos, consequência do conceito alemão Lebensraum, 70 anos depois da sua criação e quando se debate qual o seu papel no século XXI, a sua reestruturação, a resposta aos novos problemas e desafios, e se parte para a eleição de um secretário-geral num processo nunca antes visto e cuja palavra-chave era "transparência", visse todo o processo posto em causa por um coelho búlgaro tirado da cartola alemã do... Lebensraum.
Entre o humanismo e a lucidez de António Guterres e o populismo demagogo de Nigel Farage, os tories optaram por Nigel Farage, numa fuga para a frente e numa tentativa de minimizar os danos da anunciada vassourada nas próximas eleições. [O passo seguinte, e depois do descalabro, é encostar à agenda xenófoba e racista de Nick Griffin...].
É já um clássico na Europa do séc. XXI, "casa onde não há pão e todos ralham e ninguém tem razão", e com a respectiva correspondência no lado de cá do canal, com o "socialista" Manuel Valls a trabalhar pelos enfants de la Patrie em modo Marine Le Pen.
Guterres porque é beato e intrinsecamente bondoso e acredita no amor entre os homens e dá a outra face, Durão que já foi Durão Barroso e que agora é José Manuel, porque daqui por uns anos "vamos" precisar de um "bom" candidato para Presidente da República, Sócrates porque só fez coisas boas e porque é intocável e porque é "O" José Sócrates e porque também podemos vir a precisar de um "bom" candidato presidencial, e Vítor Constâncio porque é um supra-sumo da esquerda bancária e usa gravata e acredita no código de honra dos homens que usam gravata e porque um banqueiro que usa gravata tem de estar acima de toda e qualquer suspeita e onde é que já se viu desconfianças entre homens de bem? Ninguém se "governou" e ninguém desconfiou da "governação" de ninguém.
Já paravam de insultar a inteligência dos portugueses, não?
Rebenta uma guerra. Daquelas guerras “à antiga”; com balas e bombas e tudo.
E mortos; muitos.
E refugiados; muitos.
E está ali um gajo num campo de fugidos à guerra refugiados, com a roupa que tinha mais à mão em cima do pelo, debaixo duma lona verde, a pensar na casa destruída e na família toda esfrangalhada e nos putos a ganirem com fome.
E chega outro gajo, todo engomadinho e de gravata de seda imaculada.
E atrás dele vem uma comitiva enorme de gajos todos engomadinhos e de gravatas de seda imaculadas.
E dizem que se preocupam e que são comissários e que lhe vão resolver o(s) problema(s).
O que é que o gajo que vive agora numa tenda pensa?