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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

||| A Grécia como paradigma

por josé simões, em 13.02.15

 

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«(…) Todos aqueles que, por cá, dizem que “nós não somos a Grécia” ou são ignorantes ou apenas querem esconder o que estamos a caminho de ser: porque a Grécia não é um “caso” excepcional, é um paradigma e um laboratório. Nela podemos ver a antecipação e a forma extrema (isto é, aquela onde uma realidade ainda imprecisa se revela) da reconfiguração em marcha das sociedades ocidentais, onde já se começou a passar ao acto e a planificar a eliminação lenta, discreta e politicamente correcta dos supranumerários, cuja existência faz ascender ao vermelho as somas necessárias para manter os dispositivos de protecção. Velhos, reformados, doentes crónicos, deficientes, desempregados dificilmente recicláveis, imigrantes, segmentos da juventude não qualificada: todos eles representam heterogeneidades parasitárias que não podem ter lugar no quadro ideal de crescimento e produção de riqueza exigidos pelo capitalismo ultraliberal. Impõe-se, por isso, a sua eliminação. É o que está a acontecer, aqui e agora, diante dos nossos olhos: o campo como paradigma biopolítico, com as suas práticas de eliminação subtil, está em expansão acelerada; e da sorte funesta reservada às existências que são como empecilhos começamos a ter testemunhos cada vez mais frequentes. Até os mais distraídos já perceberam que é só uma questão de tempo para chegar a sua vez. E os que não forem eliminados servirão para alimentar uma regressão organizada às claras a formas de exploração que têm muitas afinidades com as que alimentaram a expansão do capitalismo no século XIX.»


[Aqui]

 

 

 

 

|| “Nós, europeus”

por josé simões, em 24.04.09

 

Passou despercebido um pequeno texto de António Guerreiro, publicado no caderno Actual do Expresso, faz amanhã oito dias. Pelo menos não dei notícias de ter sido referido quer nos blogues, quer no Twitter, quer noutros meios de comunicação. E reza assim:

 

«E, de repente, Nietzsche é um convidado clandestino

 

O slogan de Vital Moreira – “Nós, europeus” – tem um autor intempestivo, secretamente convocado e retocado para uma festa que não é a sua: Friedrich Nietzsche. Foi ele quem escreveu, em “Para Além do Bem e do Mal”: “Nós, bons europeus, temos as nossas horas de nacionalismo, momentos em que nos deixamos mergulhar em velhos amores e seus estreitos horizontes.” Quem são os “bons europeus”? São os que recusam a “pequena Europa” burguesa e reaccionária, os que combatem a “infecção nacionalista”, os “herdeiros encarregados de obrigações milenares do espírito europeu”. Para o discurso político, é difícil integrar os “bons europeus”, tanto mais que, em Nietzsche, tal adjectivo não é conforme à moral cristã e platónica. Evocar o “Nós, europeus” é muito mais fácil; mas é preciso que não se descubra que quem assim falou teve também estas palavras para designar quase a mesma coisa: “Nós, os sábios” e “Nós, os imoralistas”. Nietzsche, como teórico da ideia europeia, só clandestinamente pode entrar na festa eleitoral que aí vem. Gente respeitável e pouco dada à loucura não convive facilmente com quem abraça cavalos numa praça de Turim.»

 

Sexo, género e incorrecções políticas

por josé simões, em 18.08.08

 

“Num editorial do «Público», José M. Fernandes cometia a proeza de denunciar a «political correctness» no modo de entender a diferença sexual, sucumbindo ao mesmo tempo aos persistentes preconceitos que envolvem tal questão. Falando do «sexo feminino» e do «sexo masculino», faz esta injunção irónica: «desculpem lá os puristas esta forma antiquada de referir as ‘questões de género’.» E mais à frente fala das «guerras de sexos, ou de género», como se a categoria não abolisse os termos dessa guerra ancestral. Ora, o que o nosso homem manifestamente recusa é que o género seja uma construção cultural que não se refere às determinações biológicas do sexo e surja como uma historicização dos termos da diferença sexual, libertando o masculino e o feminino do existencialismo. E recusa não por meio de argumentos teóricos ou empíricos mas não aceitando sequer a linguagem dos «puristas». É fácil de ver que o purismo está precisamente do seu lado, como acontece com todos os bravos da «political incorrectness», que inventaram o fantasma de um puritanismo alheio para glória eterna das suas concepções puritanas e, às vezes, alarves.”

 

António Guerreiro na Actual do Expresso este sábado.