"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Sabendo nós o conteúdo das escutas que "eles" querem que nós saibamos, na altura que "eles" muito bem entendem ser a indicada para se saber, e sabendo nós, daquilo que veio aos ouvidos do pagode, que tudo junto e por atacado não vale um caralho, não tem relevância criminal de qualquer espécie, que tudo não passa de uma corja de bisbilhoteiras e calhandreiras que "eles" são, e sabendo também nós que o que "eles" querem que nós saibamos é apenas uma ínfima parte das horas, dias, meses, anos que "eles" levaram a escutar a vida alheia, a pergunta, legítima, diria mesmo mais, legítima, que se impõe é se tiraram proveito disso, se souberam de negócios em primeira mão, de decisões políticas ainda em fase embrionária, se tiveram acesso àquilo que comummente se chama "inside information"? Pois.
E depois há dois pê-esse-dês e duas à-dês, o dos figurões, do mindinho ao cherne passando pelos do lugar cativo nas televisões, os que estão no Governo e os que se sentam no Parlamento, que sim senhor, que o é óptimo para o prestígio nacional, que o Governo apoia o Costa apesar das diferenças que são mais que muitas e coise, e o outro, o dos aios, escudeiros e minions de plantão nas redes, que o Costa não é digno de nada e muito menos de confiança, não estão a ver as notícias que saem todos os dias? Só não vê quem não quer, socialistas, se procurarem na minha timeline podem dar com os links.
A muito custo e depois de muito barulho, político e mediático, finalmente encontrado o "momento processualmente adequado" para ouvir António Costa na casa dos segredos, de onde saiu como entrou, foi só a ocasião se propiciar ao futuro do ex primeiro-ministro para se propiciar às habituais fugas ao segredo de justiça, agora com imagens e tudo, para lembrar à turba que eles ainda ali estão, o Costa, e por sua pessoa o Escária, os polícias, guardadores e desvendadores de segredos, a república dos juízes em roda livre, Bruxelas e tudo o mais. Nunca falha.
No denominado "dia da família" estar na hora do jantar na sede de um partido político para comentar a mensagem de Natal do primeiro-ministro, alguns com uma papeleta escrita lida em directo logo no minuto a seguir.
Augusto Santos Silva dizer que o Ministério Público deve um esclarecimento ao país sobre as buscas à casa de Rui Rio e à sede do PSD, "sustentando que foi cometido um crime em directo", para o PSD é diferente de Augusto Santos Silva dizer que o Supremo Tribunal de Justiça deve esclarecer depressa, antes das eleições, a situação penal do primeiro-ministro, "frisando que o caso abriu uma crise política". Percebemos todos? O PSD também percebe.
"Dois anos à espera [?] e agora o Costa demitiu-se e fica tudo fuuudido outra vez...", "É pá, porque é que o Costa se demitiu?", "Por causa lá daquela corja dele...", "Mano, nuuunca em tempo algum um ministro do MPLA se demitiu por causa dele quanto mais por causa de outros!".
Diz que está em causa a isenção e imparcialidade do governador do Banco de Portugal por ousar admitir regressar como primeiro-ministro a um Governo do Partido Socialista de onde tinha saído como ministro das Finanças para o banco que agora governa, digamos assim. É isso e os heterónimos do Pessoa, ou as personagens do Bowie.
Alguma vez iremos saber o que aconteceu no palácio de Belém no dia 7 de Novembro de 2023 entre as dez e meia da manhã, hora da saída de António Costa, e o meio-dia e vinte, hora da saída de Lucília Gago, 50 minutos depois de ter entrado para falar com Marcelo?