"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
No denominado "dia da família" estar na hora do jantar na sede de um partido político para comentar a mensagem de Natal do primeiro-ministro, alguns com uma papeleta escrita lida em directo logo no minuto a seguir.
Augusto Santos Silva dizer que o Ministério Público deve um esclarecimento ao país sobre as buscas à casa de Rui Rio e à sede do PSD, "sustentando que foi cometido um crime em directo", para o PSD é diferente de Augusto Santos Silva dizer que o Supremo Tribunal de Justiça deve esclarecer depressa, antes das eleições, a situação penal do primeiro-ministro, "frisando que o caso abriu uma crise política". Percebemos todos? O PSD também percebe.
"Dois anos à espera [?] e agora o Costa demitiu-se e fica tudo fuuudido outra vez...", "É pá, porque é que o Costa se demitiu?", "Por causa lá daquela corja dele...", "Mano, nuuunca em tempo algum um ministro do MPLA se demitiu por causa dele quanto mais por causa de outros!".
Diz que está em causa a isenção e imparcialidade do governador do Banco de Portugal por ousar admitir regressar como primeiro-ministro a um Governo do Partido Socialista de onde tinha saído como ministro das Finanças para o banco que agora governa, digamos assim. É isso e os heterónimos do Pessoa, ou as personagens do Bowie.
Alguma vez iremos saber o que aconteceu no palácio de Belém no dia 7 de Novembro de 2023 entre as dez e meia da manhã, hora da saída de António Costa, e o meio-dia e vinte, hora da saída de Lucília Gago, 50 minutos depois de ter entrado para falar com Marcelo?
Este Orçamento do Estado para 2024 não é um bom orçamento mas é melhor que o orçamento que o antecedeu, e ainda melhor que governar por duodécimos. Mas este Orçamento do Estado para 2024, que não deve ser aprovado porque é um mau orçamento, já tem a missa rezada caso a direita se alce ao poder: um rectificativo enquanto não elabora a um pior que este, que é mau e que não deve ser aprovado, e ainda pior que os outros que o antecederam. A lógica do quanto pior melhor dos amigos do povo.
Com um currículo pejado de traições e intrigas políticas, que em tempos que já lá vão lhe tinham rezado um destino de Távora e o chão de Cascais salgado, na noite da demissão do primeiro-ministro resolveu fazer uma visita guiada ao Beco do Chão Salgado. Falta de noção de uma criança empossada Presidente da República, o azar dos Távoras que se abateu sobre nós.
Entramos agora no momento penoso, o dos comentadeiros horas a fio nas televisões, nulidades como Bernardo Ferrão ou Sebastião Bugalho que acrescentam zero ao barulho com análises e raciocínios dignos de um grão de bico no lugar do cérebro, entremeados por directos das portas da rua por portadores da carteira de jornalista a tocarem pívias a grilos.
O momento que antecede o tempo dos minions que agora começa, dos minions conhecidos e pagos nas televisões, e dos anónimos nas redes. Daqui até ao Carnaval, mais ou menos onde devem calhar as eleições, vai ser só chafurdice. Miséria.