Um fim-de-semana com as angústias da fé
“Chocam-me as provas de fé e cumprimentos de promessas que implicam um desmesurado e visível sofrimento físico e não entendo como a hierarquia religiosa condescende e não desautoriza esse excesso a roçar a desumanidade; irrita-me a vaidade terrena daqueles que, no santuário ou na procissão de Ponta Delgada, rentabilizam a ocasião para vincarem o seu posicionamento na pirâmide social; e, embora perceba que a programação organizada de manifestações de fé custa dinheiro e, portanto, reclama receitas, surpreende-me que a generosidade dos peregrinos seja explorada ao ponto de permitir a construção de uma nova e gigantesca basílica (ao que se noticiou, paga a pronto!), com capacidade para nove mil pessoas. Santo Deus, seria mesmo indispensável um tão descomunal “monumento”, que contrasta com a simplicidade extrema das raízes do culto de Fátima?
Gostaria, ainda, que estas impressionantes mobilizações de fé consagrassem a mensagem ecuménica do homem universal, em detrimento do retorno ao Deus vingador, que abre caminho ao “choque de civilizações”.”
Mário Bettencourt Resendes, Diário de Notícias hoje.