"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Matteo Salvini foi a Przemysl, cidade polaca a 10 km da Ucrânia, para uma operação de lavagem de imagem. Na estação, o Presidente da Câmara fez saber que não o receberia e explicou porquê, exibindo uma t-shirt com a cara de Putin igual a que Salvini usara em Moscovo.
No tempo em que as pessoas se encontravam nas colectividades e nos cafés para falarem umas com as outras e trocar ideias este personagem tinha sido internado compulsivamente num hospício, no tempo das "redes sociais" da cobardia anónima e o ódio acéfalo o personagem não só lidera um partido como é deputado eleito e arrasta atrás de si uma horda de alucinados que acredita piamente naquilo que o mestre diz.
Um partido pejado de genuínos e convictos anti-democratas invoca a democracia para pressionar e condicionar o voto democrático de deputados eleitos em eleições livres e democráticas, as mesmas que permitem a eleição de genuínos e convictos anti-democratas cujo fim último é acabar com a democracia.
Deu para António Costa finalmente proferir as palavras proibidas feitas palavrinhas mágicas: "maioria absoluta";
Deu para Rui Rio aparecer de gravatinha cor de fralda de bebé mudada, qualquer que se a a mensagem subliminar;
Deu para Catarina Martins explicar ao moderador, Carlos Daniel, o que está em causa e o que vai ser votado dia 30;
Deu para António Costa começar ao ataque, que é como quem diz à mentira, com "a alternativa à maioria absoluta ser crise atrás de crise e eleições de 2 em 2 anos" apagando em directo e a cores os anos entre 2015 e 2018, qual Estaline de tesoura em riste a cortar fotografias com o Trotsky;
Deu para Chicão, nascido em 29 de Setembro de 1988, recuperar a memória do sofrimento que foram os anos do PREC;
Deu para Ventura, líder de um albergue de neo nazis e fascistas saudosos de Salazar, invocar os países que nos ultrapassaram na União Europeia, os de leste que nos idos do matacão de Santa Comba tinham homens no espaço enquanto nós tínhamos uma autoestrada de Lisboa ao Casal do Marco, as estradas pejadas de carroças puxadas a burros e demorávamos 5 horas a chegar ao Algarve;
Deu para João Oliveira esfregar na cara de António Costa que os ganhos que exibe como trunfo para uma maioria absoluta só foram possíveis porque o PCP se chegou à frente, caso contrário tínhamos gramado com mais 4 anos de Governo da troika, com o PS a abanar a cabeça na bancada como os cães de feira que nos 70s se usavam na parte de trás dos carros;
Deu para Cotrim de Figueiredo dizer que acreditava no Pai Natal com as pessoas que sobem na vida a trabalhar;
Deu para Rui Rio afirmar que já reduziu despesa pública em empresas privadas;
Deu para Ventura recuperar a bisca das "fundações e organismos que absorvem recursos do Estado" lançada pelo Criador, Passos Coelho, nos anos do Governo da troika;
Deu para Rui Rio, líder de um partido que há 40 anos não faz outra coisa que desinvestir e retirar competências ao Serviço Nacional de Saúde, dizer que o SNS está em falência, depois de ter passado os debates anteriores a dizer que há funcionários públicos a mais;
Deu para Cotrim de Figueiredo passar todo o santo debate a dizer que António Costa não respondia às questões enquanto ele próprio ganhava o cognome de O Ilusionista por causa dos truques para fugir à questão flat tax;
Deu para Rui Tavares vestir a fatiota de Cotrim de Figueiredo e explicar aos telespectadores que com a taxa chata do Ilusão Liberal quem fica a ganhar são os mais ricos, para rombo nos cofres do Estado que asseguram serviços públicos gratuitos e universais;
Deu para Ventura voltar à carga com "o país em que metade trabalha para outra metade que não quer fazer nada" e "um país outro todos roubam e ninguém vai para a prisão", precisamente no dia em que se soube que a agremiação de bandalhos a que preside vai ser despejada da sua sede em Évora por não pagar a renda da casa há 8 meses;
Deu para António Costa fazer autocrítica: "o que faltou foi vontade política para viabilizar o Orçamento do Estado";
Deu para Chicão falar em três banca rotas desde 1995 apesar de nem uma ter havido e a que podia ter acontecido foi evitada;
1ª Tarefa: Deus Nosso Senhor deu-lhe o privilégio de travar a batalha de andar aos berros na televisão do Correio da Manha [sem til] para defender um dirigente desportivo;
2ª Tarefa: Deus Nosso Senhor deu-lhe o privilégio de travar a batalha por pessoas que querem pagar menos impostos;
Depois de uma semana de mobilização do exército de trolls ilusionistas liberais no Twitter e no Facebook em defesa de um curso universitário pago com recurso a empréstimo bancário a 30 anos, João Cotrim de Figueiredo deixa cair a ideia no debate com o salazarinho retardado. Afinal, quando a esmagadora maioria dos apoiantes e eleitores do partido RGA [Reunião Geral de Alunos] estão a terminar o secundário ou andam numa universidade, não era muito inteligente desatar aos tiros para os próprios pés. Também o saudoso Pedro Passos Coelho, pai desta gente toda, quando percebeu os anti-corpos criados arrumou a revisão constitucional do Paulo Teixeira Pinto no fundo de uma gaveta.
"O Rendimento Mínimo". "Os ciganos". "Os polícias que são agredidos todos os dias". "Os ciganos". "O salário dos políticos". "Os ciganos". "Andamos todos a trabalhar para pagar a quem não quer fazer nada". "Os ciganos". "Os refugiados de telemóvel na mão". "Os ciganos". "A corrupção". "Os ciganos". "A castração química". "Os ciganos". "O número de deputados". "Os ciganos". "A pena de morte". "Os ciganos".
Ontem foi Rui Rio num espectáculo lastimável a fazer o papel de idiota útil do ex-camarada, agora líder de um albergue de fascistas e neo-nazis com o nome de partido; hoje é António Costa, feito chico-esperto, a querer tirar dividendos da triste figura feita pelo líder do PSD na véspera, sem perceber, e sem que ninguém no Partido Socialista o chame à razão, que está a alinhar e a cumprir a agenda marcada por Ventura que, por estas horas, deve estar morto de riso com a dupla de parolos que lhe saiu em rifa.