"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A RTP está a entrevistar os vários líderes partidários a seguir ao telejornal da 1, a propósito das eleições antecipadas que aí vêm.
Ontem, na entrevista ao taberneiro, líder do partido da taberna, foi "o combate à corrupção", "a bandidagem", "a corrupção", "a malandragem"; "o combate à corrupção". Siga. E seguiu para hoje, com o delegado de turma do Ilusão Liberal a dizer querer um "departamento de eficiência governamental", e não há sequer a hipóteses de ser lapso porque o disse duas vezes.
Presidente de clube, sob vigilância da UEFA e com as receitas futuras hipotecadas, proibido pelo antecessor de estar presente no seu funeral, faz comunicado a acusar os rivais de não marcarem presença no funeral onde não pode ir, nem de sequer enviarem uma nota de condolências pela morte de quem os considerava inimigos e não adversários, e que passou todo o consulado a instigar o ódio e a fomentar a divisão.
Chefe de partido pejado de malfeitores - de ladrões de igreja a ladrões de malas, passando por acusações de pedofilia, ódio racial, tentativa de homicídio, falsificação de identidade, violência doméstica, e um longo et caetera, aproveita suspeita sobre idoneidade do primeiro-ministro para avançar com moção de censura ao Governo no Parlamento.
Podem parecer coisas diferentes mas são a mesma coisa.
Na televisão pública, o taberneiro, assumido primeiro candidato presidencial para 2026, teve mais tempo de antena para comentar a na véspera anunciada candidatura de Marques Mendes que o próprio Marques Mendes. Um dia como outro qualquer na televisão.
Qual é o "pensamento político" de António José Seguro? O totósismo [de totó] político.
Qual é o pensamento político de Luís Marques Mendes? O chico-espertismo.
Entre o taberneiro e o almirante em quem votavas? É este o dilema do centrão do "sentido de Estado" e do "pensamento político", há 40 anos entretido na produção de elites medíocres, com percurso profissional tão elaborado quanto o pode ser da jota até uma secretaria de Estado, intervalado a tratar da vidinha, pela porta giratória até uma empresa onde se acede pela meritocracia do cartão do partido, completamente desligado da realidade, do sentir das pessoas, empenhado em fazer jus ao popular "atrás de mim virá quem de mim bom me fará".
Parafraseando Zeca, "no comboio descendente mas que grande reinação, uns dormindo outros com sono, e os outros nem sim nem não".
Depois do partido a bater no fundo da mala, a televisão do militante n.º 1 convida o taberneiro para lavar a imagem e continuar a lançar números falsos e a inventar factos na hora. Ah e tal falsificouusurpou o grafismo do jornal do militante n.º 1 para divulgar notícia falsa sobre violações e vomitar ódio sobre imigrantes. Bem vistas as coisas parece ter sido pouco.
O apóstolo alegadamente roubava malas nos aeroportos para alegadamente vender o conteúdo num site de roupa em segunda mão para o qual alegadamente tinha criado uma conta de email cujo endereço alegadamente era o seu próprio nome e o ano de nascimento, o mesmo email que alegadamente disponibilizou ao partido para efeitos do oficio de deputado para o qual foi eleito. O apóstolo confrontado na televisão com as imagens captadas pelas câmaras de segurança dos aeroportos onde alegadamente fanava as malas invocou em sua defesa que as ditas imagens alegadamente foram manipuladas por inteligência artificial, o que alegadamente diz muito da alegada inteligência natural de quem profere semelhante sentença.
O Messias confrontado pelos alegados jornalistas na porta do grupo par[a]lamentar, habituado que está a despejar enxurradas de vacuidades e pós-verdades inventadas ali mesmo na hora, disparou que não ia fazer o mesmo que o PS fez com o Sales e que o PSD com o deputado que atropelou uma criança alcoolizado, alegadamente o olho do cu e a Feira de Castro, e raspou-se rapidamente e em força dali para fora, desperdiçando aquele tempo de antena gratuito, para grande frustração dos alegados jornalistas que não perceberam o upgrade que é passar de um deputado alegadamente larápio de caixas de esmolas para outro alegadamente vendedor de roupa de marca online.
No dia em que milhares desciam desde a Alameda até ao Martim Moniz num protesto contra o racismo, a xenofobia, e a instrumentalização política das forças da ordem, a televisão do Correio da Manha, sem til, optou por cobrir uma contra manifestação convocada pelo líder do partido da taberna, contra a imigração e, alegadamente, em solidariedade com as polícias, onde as ramonas da polícia eram em maior número que os contra-manifestantes.
O taberneiro, que tem como financiadores e patrocinadores do partido Carlos Barbot, dono das tintas com o mesmo nome e com negócios no imobiliário; Cruz Martins, "facilitador" de negócios na área do imobiliário, administrador de empresas da mesma área, e com o nome nos Panama Papers; Eduardo Amaral Neto, dono de sociedade de consultoria e investimentos imobiliários; Miguel Félix da Costa, sociedade gestora de participações nas áreas do imobiliário; Salvador Posser de Andrade, administrador da antiga empresa imobiliária do Grupo Espírito Santo; e como vice-presidente Diogo Pacheco Amorim, consultor imobiliário, e o deputado eleito Ricardo Regalla, também consultor imobiliário; o taberneiro que chegou a propor no programa do partido a venda da totalidade dos edifícios propriedade do Estado, é o mesmo que quer garantias de que a nova lei dos solos vai ser impermeável à corrupção e à fraude.
O ponto já não é ser papalvo e votar nesta trupe, é gostar de ser gozado por meia dúzia de chico-espertos.
Os conselheiros de Estado vão dizer ao Presidente da República, a pedido deste, se deve ou não convocar um Conselho de Estado para se aconselhar com os conselheiros de Estado sobre um pedido feito por um conselheiro de Estado. Esta coisa é professor catedrático de Direito, e esta coisa não tem pejo em truncar as funções presidenciais e as competências do Conselho de Estado para responder à agenda de ódio de um partido populista de extrema-direita. E foi nesta coisa que mais de metade do Partido Socialista votou para um segundo mandato, a mesma mais de metade que tem problemas com o "pensamento político" de putativos candidatos presidenciais.
Na convocatória para a cercadura ao Parlamento, a páginas tantas, o taberneiro diz "dia 4 às 15 horas" enquanto faz com a mão direita o gesto três dedos e um zero que, em linguagem gestual, todos já vimos no canto do ecrã a tradução, significa "dia 4 às 15 horas" e não o símbolo White Power dos supremacistas brancos e, por coincidência e só por coincidência, também o símbolo do Movimento Zero nas polícias, aqueles senhores e senhoras que nos grupos WhatsApp, Telegram e contas fechadas no Facebook se dedicam a insultar imigrantes e gente de outras cores, para, mais rápidos que a própria sombra, os ditos zeros responderem ao apelo do chefe e gritado presente. Nas televisões, rádios, jornais, que andaram com o senhor ao colo e o engordaram, ninguém deu por nada, mesmo depois de elevados à categoria "Inimigos do Povo". Espectáculo!