"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"O Governo refez as contas do Orçamento do Estado previsto para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e o saldo apresentado inicialmente como positivo é afinal negativo. O prejuízo será superior a 217 milhões de euros". Como, porque, porquê, a equação "Positivo - Neutro - Negativo" é aplicada a um serviço público tendencialmente gratuito? É todo um programa político onde só há um perdedor, o suspeito do costume, conhecido como "cidadão", ou "contribuinte", se bem que a melhor de todas, ainda que nunca invocada, seja "eleitor".
[Imagem "Britain's Prime Minister Margaret Thatcher and President Ronald Reagan share a laugh during a break from a session at the Ottawa Summit on July 21, 1981, at Government House in Ottawa, Canada"]
Para a alegada ministra da Saúde onze mortos não é o que correu mal é "o que correu menos bem". O governo com mais incompetentes por m2 na história da democracia é exímio na novilíngua. Onze mortos no currículo não é de uma ministra, é de uma serial killer. Mas podemos morrer todos descansados à espera da ambulância que a pedido de um partido que não existe - o CDS, enquanto o Diabo esfregava o INEM os meninos continuaram a ter a papeleta azul e as meninas a cor-de-rosa, coisa que apoquentava os portugueses.
A morte de uma grávida a caminho do hospital numa ambulância motivou a queda de uma ministra, depois de dezenas de horas com directos nas televisões e intermináveis comentários de especialistas - do palerma Ferrão ao chalupa Zé Gomes passando pela picareta falante mano Costa, sobre a degradação do Serviço Nacional de Saúde, o caos nos hospitais e o caralho. Isso foi antes do dia 21 de Março de 2024. Depois foi-se embora a irresponsabilidade socialista e veio o "sentido de Estado" AD. Agora morrem seis pessoas à espera de uma ambulância no espaço de uma semana e é o Amorim no Manchester, o dilúvio universal em Valência, interrompido pela goleada dos lagartos ao City, é as eleições na América e o regresso do homem cor-de-laranja. Montenegro, agora alçado ao poder, diz que "não temos a certeza de que as mortes foram causadas por falta de assistência", ele que na oposição tinha a certeza de tudo e de mais alguma coisa e até em três meses ia resolver a coisa de que tinha a certeza. Marcelo II, de cognome O Velhaco, na FOX News, também conhecida por SIC Notícias, para os pés de microfone, escolhidos a dedo pelo menor coeficiente de inteligência para desempenharem a função de jornalista, sai-se com um "eu não gosto de falar de problemas específicos da governação" . A puta da lata! Ou não ter a puta da vergonha na cara é isto. Só morreram seis pessoas à espera de uma ambulância, "qual é a pressa?", como diria o outro que agora se olha ao espelho e se vê com cara de Presidente . Ainda se fosse um badameco qualquer à sopapada dentro do ministério do Galamba na ausência do ministro, aí o caso já piava mais fino e motivava uma saída do velhaco para comunicar um ralhete ao Governo na abertura do telejornal. Isto não é a morte de seis cidadãos, isto é a morte da decência. Da decência em política e da decência em jornalismo.
Luís Montenegro mentiu, Paulo Rangel mentiu, Carlos Moedas mentiu, como antes tinha mentido a ministra da Saúde, e como antes tinha mentido o ministro da Educação. Isto não é um Governo, isto não é um presidente de câmara, isto não é um partido, isto é um episódio do Pinóquio.
Hoje assinalamos o Dia da Grávida. O Governo reafirma o seu compromisso em garantir que todas as grávidas têm cuidados assegurados e avançou com medidas como a Linha SNS Grávida. Tem como objectivo o atendimento direto, ao encaminhá-las para a urgência de obstetrícia mais próxima.
Em apenas 24 horas a lista dos doentes oncológicos a aguardar por cirurgia fora dos tempos máximos de resposta garantidos baixou de 9 000 para 2 300. Deve ser isto a que Leitão Amaro chama "governar com muita intensidade", o que nos tempos da "pós-verdade", assente nos pés-de-microfone dos media obedientes à agenda, não deixa de ser um feito assinalável.
[Imagem "Federico Fellini on the set of Satyricon" phorographed by Mary Ellen Mark, 1969]
No tempo do PS, e não foi há tanto tempo quanto isso, era "o caos nos hospitais", "a destruição do Serviço Nacional de Saúde", pior que o Deus me livre, agora, na normalidade adquirida e na tranquilidade nas televisões, a responsabilidade de tudo o que era pelouro do Governo passou a ser responsabilidade dos administradores hospitalares. Os agora "inimigos do povo" continuam a representar o papel de idiotas úteis que lhes foi atribuído. Pobres criaturas.