"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Em quem votou Américo Amorim nas Presidenciais de 2006 e de 2011? Em quem vai votar nas Presidenciais de 2016, o homem a quem 2 – dois – 2 milhões de pobres não superam a fortuna e que em 2009, quando já estava no Top of the Pops dos mais ricos, não teve pejo em despedir 195 a ganhar o salário mínimo nacional, por antecipação ao que a crise global iria «certamente evidenciar»? Em quem vota Américo Amorim?
Dos 195, a ganhar o salário mínimo nacional, e das suas famílias já ninguém se lembra, o que vende jornal, assanha a inveja e faz Prós e Contras na televisão é o senhor Américo em primeiros no top of the pops dos mais ricos de Portugal.
Disse o senhor Coelho com baritonidade [de barítono, inventei agora mesmo] filosófica na Assembleia-geral da ONU em Setembro de 2011, depois de se alcandorar no poder e antes de meter mãos à obra de desmantelar o Estado e destruir a economia. E o senhor Amorim viu. O senhor Amorim que ainda "a crise global" vinha em cascos de rolhas já via oportunidades a nascer de cada vez que a caminho de casa pontapeava uma pedra da calçada e ela ia atingir alguém a caminho do trabalho. Oportunidade, por exemplo, para se livrar de 195 unidades descartáveis, porque as pessoas antes de serem pessoas são números, danos colaterais na ascensão ao n.º 1 no top of the pops do dinheiro a perder de vista. 195 unidades descartáveis, 195 danos colaterais que ganhavam o salário mínimo nacional e por isso ficaram mais pobres, confirmando as teorias dos Joões Césares das Neves e dos Camilos Lourenços e de outros que saltitam entre as televisões e os jornais e a bloga e o tuita e o feiçe coiso, de que os pobres não devem ter aumentos salariais e que o salário mínimo nacional é um disparate que só faz mal aos pobres. Trabalhassem eles de borla para o senhor Amorim e não eram despedidos, burros. E burros, que nem portas de mola enferrujadas, não conseguiram "ver no desemprego uma oportunidade para mudar de vida", como também disse o senhor Coelho, com baritonidade filosófica, na tomada de posse do Conselho para o Empreendedorismo e a Inovação em Março de 2012. E assim, e agora, das 195 unidades descartáveis, e das suas famílias, ninguém fala, e o assunto é a fortuna que o senhor Amorim soube fazer, face ao "impacto da crise global", e pelas oportunidades que conseguiu ver, e agarrar, para agarrar de novo o que já foi dele, o n.º 1 no top of the pops do dinheiro a perder de vista, cilindrando tudo e todos à sua volta.
Ocupa o 212.º lugar. Não sei se subiu ou desceu no ranking. No ranking desceram de certeza 195 cidadãos e respectivas famílias. E nem estou a incluir a auto-estima.