"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de todos os portugueses, apelou a que os indígenas passem férias no sul do país, que as outras regiões não estão necessitadas nem com a restauração e a hotelaria com a corda no pescoço e com o desemprego e a miséria a espreitar. No Algarve dos preços baratos, não fosse em Espanha serem ainda mais baratos, mesmo incluindo a gasolina para a deslocação e as portagens que não se pagam. No Algarve das ementas escritas em inglês, beef, french fries, bull fight, sports giant screen full HD, ex-rooms - chambres - zimmers. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de todos os algarvios
Depois de na quarta-feira, dia 11, a directora do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras ter dito que o estatuto a aplicar aos marroquinos que deram à costa no reino do Algarve era o da protecção internacional, na sexta-feira, dia 13, as televisões continuam com o "estatuto de refugiado" para aqui e o "estatuto do refugiado" para acolá e o "estatuto do refugiado" a convocar uns programas de "opinião pública", onde os matarruanos trogloditas, potenciais eleitores do CDS e do Chega, espumam ódio a cada telefonema, enquanto propagam fake news dos subsídios a pagar pelo bom povo português aos manhosos dos berberes, da raça lusitana em perigo se a moda pega, da invasão muçulmana que vai agora começar, da cristandade em perigo, da imigração ilegal que vem roubar os empregos e o diabo a sete, sem que ninguém questione por que cargas de água o "estatuto do refugiado" havia de ser concedido, se acaso Marrocos está em guerra, se Marrocos é um Estado pária, se Marrocos não tem assento nas organizações internacionais, se Portugal não tem relações políticas, e comerciais em todas as áreas, com o reino de Marrocos.
Se ao menos fizessem como o Governo do Partido Socialista de António Costa que aprovou a prospecção de petróleo na Costa Vicentina e no Algarce como medida de combate às alterações climáticas.
"Sigamos o cherne, minha amiga! Desçamos ao fundo do desejo Atrás de muito mais que a fantasia E aceitemos, até, do cherne um beijo, Senão já com amor, com alegria… Em cada um de nós circula o cherne, Quase sempre mentido e olvidado. Em água silenciosa de passado Circula o cherne: traído Peixe recalcado…
250 mil € do contribuinte, meio milhão, contas da autarquia, para reparar estragos provocados pelo mau tempo no Algarve, das câmaras, como não há igual no país, que embolsaram milhões de euros em sisas e licenças de construção em dunas e falésias e ribeiras e linhas de água e alterações ao PDM, que permitiram urbanizações em zonas de Reserva Ecológica e Reserva Agrícola Nacional, primeiras vítimas das intempéries.
Quando toca a mais-valias é toda uma clique que gravita à roda do centrão ligado ao poder democrático autárquico, quando toca ao prejuízo a rifa sai sempre ao suspeito do costume, o constituinte., É isto, não é?
A lengalenga d' "a herança que vamos deixar às gerações futuras" nunca é chamada a debate quando se trata de questões ambientais e de protecção da natureza. Continua o saque, a coberto do argumento da criação de riqueza – para meia dúzia, às custas do património comum de milhões; da criação de não-sei-quantos postos de trabalho, directos e indirectos – que nunca ninguém se lembra de pedir a inventariação, a jusante, e a confirmação, a montante.
Uma certeza: onde antes havia natureza, biodiversidade e ecossistema, passa a haver natureza morta, betão, e um ecossistema que começa no aparador da relva e no caddy e tem no topo da cadeia alimentar o dono da conta no offshore.
"Lamento que não tenha sido possível da parte do senhor ministro da Administração Interna uma declaração mais esclarecedora quanto à intervenção do Governo", disse.
Daqui por uns anos, e depois de concluído o projecto, o Algarve que vai aparecer para ser vendido, aos bifes e aos boches e aos amAricanos ricos e aos reformados holandeses, nos folhetos das agências, vai ser o Algarve com imagens e fotografias tiradas antes da construção do projecto.
A primeira tournée mundial de Sade Adu em 10 anos é vendida apresentada nos spots televisivos com imagens e sons de há 20 anos [atrás, como sói agora dizer-se]. Faz lembrar o Algarve nos folhetos das agências de turismo, com imagens de antes de ter sido tomado de assalto pelos construtores civis a soldo das autarquias e dos PIN de José Sócrates.
«No need to ask, He's a smooth operator,, Smooth operator, lai-lai-lai…»
E não lhes ocorreu colocar cabines de portagem, com pagamento automático, Via Verde, e portageiros, escudados na desculpa de mau-pagador, para o efeito renomeada de "problemas técnicos", porque há muitos nós e muitas entradas e muitas saídas e muita falta de vontade.
E cabines de portagem implica investimento que é coisa que está fora do horizonte visual deste Governo que só vê lucro no imediato, portageiros implica criação de emprego e direitos e encargos com a Segurança Social e, por enquanto, o pessoal do RSI só vai trabalhar de graça para as autarquias e IPSS.
Quando o trabalho escravo for extensível a toda a economia talvez, mas se calhar já é tarde. Para o turismo, para a economia, para o país.