|| Somos todos brancos e obedientes ao Vaticano, é?
Assisti uma vez, num autocarro dos transportes públicos, a uma discussão, daquelas discussões que não lembram nem ao menino Jesus, entre uma puto preto, de kufi na cabeça, puto dali dos lados do bairro da Bela Vista, e uma velhota, com sotaque de quem fugiu da miséria da terra natal para a miséria da industrialização da península de Setúbal nos finais dos sessentas inícios dos setentas, ainda os filhos iam morrer a África. "Tu vai mazé prá tua terra!..", atirou-lhe com toda a força da idade a avozinha, ao mesmo tempo que, com o olhar, procurava apoio entre os outros passageiros. "Prá tua terra vai a senhora... Eu nasci em Setúbal e a senhora nasceu no Alentejo!", respondeu o puto, encostando-lhe o bilhete de identidade bem na ponta do nariz.
Lembrei-me logo disto a propósito da conversa de merda de uma luso-descendente, sobre a conversa de merda do magiar-descendente, e casado com uma italiana, que um dia chegou, pelo voto do povo, a Presidente da República Francesa:
"Declarações de Sarkozy «não visam portugueses»"
[Na imagem postal ilustrado "Nude Black Beauty Woman Guine/Bijagoz, Foto Alvão, 1ª Exposição Colonial Portuguesa, Porto, 1934"]