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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

Mais-valia absoluta

por josé simões, em 22.11.23

 

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Começam a ser recorrentes as notícias das operações da Polícia Judiciária contra o combate ao tráfico de seres humanos usados como mão-de-obra escrava e semi-escrava em explorações agrícolas um pouco por todo o país, de tal maneira que já parece ser a mesma notícia repetida a espaços. Entretanto a rede é desmantelada, os implicados são julgados, condenados, expulsos do país, os libertados repatriados, coise. E é tudo muito bonito sendo que os desgraçados apanhados nestas redes, e com a vida interrompida e a passarem por situações que só eles sabem, não trabalhavam para a rede, as explorações agrícolas não eram propriedade da rede, os contratos de trabalho não foram negociados nos países de origem com a entidade empregadora. Percebemos todos ou nem por isso?

 

[Imagem de autor desconhecido]

 

 

 

 

Vai para a tua terra!

por josé simões, em 21.01.22

 

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Foi assim que Inês Sousa Real foi recebida no "mundo rural" de Beja pelos betos das touradas, descendentes e herdeiros dos agrários do trabalhar de sol-a-sol contratado de boca na praça da jorna. "Vai para a tua terra!". Agora imaginem os nepaleses, os moldavos, os africanos, os imigrantes contratados nas novas praças de jorna alentejanas.

 

[Imagem de autor desconhecido]

 

 

 

 

A filha da putice em todo o seu esplendor

por josé simões, em 29.06.18

 

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Na primeira página do jornal i "proprietários" do Alentejo e Algarve, podia ser "empresários", termo mais abrangente para "pantomineiros" e que substituiu o antigo "agrário" e "industrial", consoante o ramo de negócio, queixam-se da falta de mão-de-obra para hotéis e restaurantes da região. Não há quem queira trabalhar oito ou mais horas por dia, sete dias por semana, boa cara, maquilhadas, barbeados, penteadinhos e de sorriso nos lábios, que é assim que a hotelaria e restauração funcionam, por 188,68 euros por mês, valor do RSI. "As pessoas não querem trabalhar". Onde é que já se viu?!

 

 

 

 

||| A campanha publicitária mais bem gizada

por josé simões, em 03.03.16

 

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A campanha publicitária mais bem gizada desde os idos do vinil quando as editoras mandavam emissários a comprar singles e LP’s de norte a sul de Portugal nas lojas que forneciam os dados de vendas para o Top que passava depois na televisão única nas tardes de domingo.


"A polícia vai estar presente no lançamento do livro Alentejo Prometido, de Henrique Raposo, na próxima terça-feira, dia 8, na livraria Bertrand do Picoas Plaza, em Lisboa."


[Imagem de autor desconhecido]

 

 

 

 

||| Baby suicida

por josé simões, em 02.03.16

 

 

 

E se depois de toda esta agitação e propaganda, orquestrada, e desta massiva campanha publicitária, estudada e explorada até ao mais ínfimo pormenor, jogando até com as reacções instintivas-irracionais daquela minoria residual que pulula pelas caixas de comentários online, a que se convencionou chamar de "redes sociais" e que dá jeito invocar nos telejornais, por quem não percebe a ponta de um chavelho de internet, para mostrar que o rato é uma montanha, se ainda assim o livro de Henrique Raposinho for o flop que se adivinha, o alentejano-desnaturado-desenraizado-em-busca-da-boleta-perdida-no-bolso-da-samarra-do-avô-à-sombra-de-uma-azinheira-de-que-já-não-sabia-a-idade comete suicido para provar por A + B ou por relação Causa – Efeito que a sua imbecilidade, desmontada por quem sabe da poda [aqui com continuação aqui], tem afinal um fundamento científico?


Parafraseando: "baby suicida, telefono ao meu melhor amigo para me vir salvar, eu quero vomitaaaaar..."

 

 

 

 

||| Mas isso sou eu que vejo política em tudo, claro

por josé simões, em 27.11.14

 

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Justiça poética é o Cante ser declarado património da humanidade precisamente no dia em que morre quem mais ignorou o Alentejo, as suas gentes, a sua cultura e as suas tradições. Mas isso sou eu que vejo política em tudo, claro.

 

 

 

 

||| O mundo é um sítio pequeno e as pessoas não são postes, estáticos, espetados no chão

por josé simões, em 27.11.14

 

 

 

e muito antes da lengalenga neoliberal da mobilidade e do incentivo à mobilidade;
e porque as coisas acontecem porque têm de acontecer e não por incentivo superior estatal, do Estado administrado por quem abomina o Estado por decidir superiormente da vida das pessoas;
e eu que nasci e sempre vivi em Setúbal e não falo charroco só porque não quero nem me apetece, porque sei o abecedário todo, fui criado a ouvir isto;
e porque estas coisas não têm nada a ver com cantar mas com trabalhar e sofrer e lutar e com consciência social e por passar a mensagem contra a lengalenga neoliberal da mobilidade;
e porque ainda hoje fico com pele de galinha de cada vez que oiço;
viva!


«O cante do Alentejo já é património mundial e UNESCO chamou-lhe "exemplar"»

 

 

 

 

||| 25 de Abril de 1974 – 25 de Abril de 2014, 40 anos de sons e palavras [39]

por josé simões, em 10.04.14

 

 

 

Alentejo, música vocal e instrumental – Michel Giacometti

 

[LP, vinyl]

 

 

 

 

 

 

||| Vou ali

por josé simões, em 30.12.13

 

 

 

 

 

E volto em 2014. Um bom ano novo para vocês também. ¡No Pasarán!

 

 

 

 

 

 

|| Million Dollar Question

por josé simões, em 29.06.11

 

 

 

Qual a relação entre as novas regras para os PIN que «foram publicadas no último dia do Governo Sócrates» e a campanha de promoção turística a decorrer em Espanha com o apoio do Turismo de Portugal?

 

Só duas pequenas notas:

 

* O Governo Sócrates/ PS foi mais eficaz na delapidação do património ambiental comum, porque muito mais abrangente, do que o anterior Governo PSD/ CDS, contudo só se fala no caso Portucale.

 

* Há muito que o Alentejo está conquistado. O litoral pelos alemães e holandeses, o interior e a raia pelos espanhóis (estes últimos os primeiros a perceber a potencialidade do Alqueva).

 

(Imagem de Robert Flynn via Johnsons Collection)

 

 

 

 

 

“Andar à boa-vida”

por josé simões, em 01.12.08

 

Eu nunca comi pão com azeitonas. No sentido de dias, semanas e quiçá até meses seguidos como única forma de matar a fome.

 

Vem isto a propósito de termos ido almoçar fora e no restaurante o empregado ter colocado em cima da mesa um cesto com pão e um pires com azeitonas, e um dos mais novos ter perguntado: “Então, não há nada para comer com o pão?” e da enxurrada de histórias que recebeu como resposta. Da parte de quem comeu “pão com azeitonas”.

 

Nas décadas de 30, 40, 50, 60 e até à entrada para a de 70 do século XX, “andar à boa-vida”, no Alentejo, significava ter 5, 6, 7 - e às vezes até mais -, filhos em casa com fome, e não ter trabalho, nem dinheiro para comprar comida para lhes pôr na mesa. Comia-se pão com azeitonas para enganar a fome.

 

Convenhamos que é substancialmente diferente da imagem associada ao “andar à boa-vida” dos tempos que correm. Se bem que cada vez mais ande por aí muito boa gente “à boa-vida”.

 

(Imagem fanada no Guardian)

 

 

 

Memoria media

por josé simões, em 16.09.07

 

aqui havia dado conhecimento deste excelente trabalho de José Barbieri.

Continua, revisto e actualizado em novo formato: revista / video on-line, passando a incluir uma secção da memória oral africana.

Desfrutem! (Aqui)

Partilha da riqueza Vs. derivas totalitárias

por josé simões, em 13.06.07

Estávamos em 1975 e no auge do denominado Verão Quente. No Alentejo as herdades eram ocupadas e davam lugar às Cooperativas e ao início da Reforma Agrária. O PC manobrava nos bastidores, mas não manobrava no “arame e sem rede”. Havia um descontentamento generalizado da população alentejana por décadas de explorações e humilhações, fomes, baixos salários e repressões, por tudo e mais alguma coisa. Quem tem família oriunda do Alentejo rural, sabe bem do que falo. O que o PC fez, não foi mais do que canalizar o descontentamento das populações, para servir os seus intentos. Aqui, os latifundiários e proprietários, têm tantas culpas no cartório da Reforma Agrária quanto o PC; com a sua mentalidade fechada e falta de visão empresarial. (Que se mantêm 33 anos após Abril, mas isso são contas de outro rosário).

 

Em plena etapa de ocupação dos latifúndios, lembro-me de ver na altura na televisão, uma reportagem num qualquer embrião de cooperativa. Um trabalhador agrícola discutia em directo com o camarada responsável pela ocupação da herdade. Dizia o camarada, mais ponto menos virgula: “Isto agora é tudo do povo. Vamos trabalhar em conjunto e para o bem comum. As casas são de todos, as alfaias são de todos, o trabalho é comum e os proveitos são de todos.” (Esqueceu-se de referir que antes mandava o patrão e agora mandava o Partido, por interposta pessoa; a sua.) O trabalhador respondia, também mais ponto menos virgula: “Isso é tudo muito bonito… mas há aqui uma coisa que não me entra bem. Ora se fui eu que comprei a enxada, porque é que ela há-de ser de todos? Até daqueles malandros que nunca compraram uma? Assim fico pior que antes! Antes a enxada era minha e agora passa a ser de todos!?”

(Esta situação pode ser comprovada nos vídeos que a RTP editou pelos 25 anos do 25 de Abril).

Vem isto a propósito da mais recente ideia luminosa, vulgo pancada, de Hugo Chávez. No seu programa Aló Presidente diz: “Aquele que tiver um frigorífico que não precise, coloque-o na Praça Bolívar, desprendam-se de algo, não sejamos egoístas. (…) Não tenho riquezas, mas tenho um dinheiro poupado de um prémio que me deram na Líbia de 250 mil dólares. Já doei parte para outra causa, mas o que sobrou vou entregá-lo ao povo.” E pelo meio apelos ao trabalho voluntário “ao sábado e ao domingo, para ajudar as comunidades”, (nada que também não tenha acontecido por aqui no PREC), “não há revolução socialista sem trabalho voluntário.

Por cá, e em 1975 nunca “chegámos à Venezuela”, apesar de já termos “chegado à Madeira” e no Continente… Mas as analogias e as comparações não deixam de ser interessantes. Porque as culpas no cartório do embrião de ditadura que está em gestação na Venezuela, não podem ser única e exclusivamente assacadas a Chávez. Ele apenas se movimenta no arame, sustido pela rede que foram décadas de opressão de ditaduras militares com o beneplácito dos Estados Unidos. A isto, juntar um factor que tem passado ao lado da generalidade dos comentadores, não sei se deliberadamente ou não, ou talvez pelo politicamente correcto: ditaduras militares comandadas por minorias brancas que oprimiram e exploraram as maiorias nativas. E Hugo Chávez é um índio, um nativo, que desde o início do seu percurso soube explorar até à medula esse pormenor.

 

As coisas em política nunca acontecem por acaso. Há sempre algo que conduz a algo, e na História há sempre dois lados. Um não pode servir para justificar ou desculpabilizar outro, mas, não vivem per si, nem nascem por geração espontânea.

 

Hoje o provérbio do dia é retirado da letra de uma canção de Sérgio Godinho: “A sede de uma espera só se estanca na torrente.