"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Ao invés de andar por aí, com a complacência dos "jornalistas", a dizer baboseiras ao nível dos comentários nas caixas de comentários dos jornais online, devia o ministro explicar ao contribuinte se o dinheiro do contribuinte, ganho pela RTP com a transmissão dos jogos da Liga dos Campeões, chega para pagar a indemnização a Alberto da Ponte e ao restante Conselho de Administração, ou se a indemnização vai ser paga pelo bolso da incompetência dos ministros do Governo.
É que quando é prejuízo é sempre "o dinheiro do contribuinte" ou "o dinheiro dos impostos dos cidadãos" ou "o bolso dos portugueses" mas, quando toca a lucro, nunca é "o lucro do contribuinte", quando é ganho "o bolso do cidadão" nunca entra na equação, é "uma coisa qualquer" que se esfuma no abstracto.
Uma administração naïf que não percebe que a RTP não é para ser rentável nem viável nem para concorrer em pé de igualdade com as televisões privadas;
Uma administração naïf que não percebe que a RTP não é para promover nem para prestigiar, antes pelo contrário, é para descredibilizar ao olhos das audiências até ao ponto em que a opinião pública seja maioritariamente a favor da privatização que há-de ser pelo preço da uva mijona que os “investidores” a mais não estão dispostos por uma empresa que vale zero;
Uma administração naïf que nem sequer soube ver que foi nomeada e empossada por um Governo público ao serviço dos interesses privados:
«De acordo com um estudo de viabilidade pedido pela estação pública, o retorno ascende a 5,8 milhões de euros por ano, 2,8 de publicidade e 3,3 milhões de custos de oportunidade.
E se dúvidas ainda houvesse, a RTP não é para ser financeiramente equilibrada e sustentável, o serviço público de televisão nunca foi uma variável da equação, a RTP é para desmantelar e destruir, sair da frente e não atrapalhar [por concorrer em pé de igualdade com] as televisões privadas. A verdadeira face do Governo da direita, eleito em eleições livres e democráticas: ao serviço dos interesses privados em prejuízo do interesse público.
Descontando aquela parte do Conselho Geral Independente da RTP ser de nomeação governamental [do Governo que acha que os juízes do Tribunal Constitucional devem corresponder aos anseios da maioria que os nomeou], em alternativa à nomeação por dois terços da Assembleia da República, "o que não garantia pessoas genuinamente independentes mas antes pessoas de nomeação multipartidária" [não, não estou a gozar], não percebo como é que no affair Liga dos Campeões aparece sempre, mas sempre, em letras gordas os 18 milhões de euros pagos pela RTP e nunca, mas nunca, o quanto a empresa vai ganhar em audiências, as previsões das receitas com a publicidade e com os direitos de retransmissão e resumos, como se Alberto da Ponte, que era o melhor gestor do mundo e arredores, apesar de ter passado a vida a vender Heineken e Schweppes, passasse, em menos de um fósforo, a gestor incompetente e irresponsável.
A ideia não é ter um serviço público de televisão, com qualidade, uma empresa sustentável e competitiva, a ideia é destruir e desmantelar a RTP para dar margem e receita às televisões privadas.
"o calado vai longe", "a minha política é o trabalho", "tu não queres trabalho, queres emprego", "estás cá é para trabalhar, para pensar está o chefe" e, por contraponto ao "quem quer trabalhar arranja sempre trabalho" havia a subversiva, do reviralho, "o trabalho não azeda".