"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"A agricultura paga bem. Quando tu trabalhas ganhas bónus. Por exemplo, num restaurante pagam 600/ 700 euros por mês, não há bónus não há nada, aqui na agricultura eles podem ganhar bónus e o ordenado chegar a 1000/ 1200 euros, depende do que uma pessoa quer trabalhar" diz no telejornal da televisão do militante n.º 1 um migrante búlgaro trabalhador nos campos de Odemira, todo cheio de si, de certezas e do mirabolante ordenado que são 1200€/ mês a trabalhar 12 horas por dia.
No Alentejo, no tempo da 'aceifa', nos idos do fascismo de Salazar e Caetano, o 'manageiro' chegava, metia um garrafão de vinho tinto à frente dos homens, no final da fiada antes de acabar a safra, e dizia "é para o primeiro que chegar aqui", e eles, na sua santa ignorância e no espírito competitivo de ser melhor que o camarada do lado, continuavam desalmadamente a dar à foice até ao pôr-do-sol.
Em comparação com o Tour de France, as imagens da Volta a Portugal, com o desordenamento do território, o fora de contexto, o caos e a cacofonia arquitectónica, o abandono de povoações e campos, a ruína de edifícios e casas, a "little Austrália" com eucalipto a perder de vista entremeado pelo negro e castanho dos incêndios, é uma coisa que nos devia deixar a todos profundamente envergonhados da merda que andamos a fazer com o rectângulo que herdámos dos nossos antepassados
Sintomático que os distritos mais afectados pela tragédia dos incêndios no Anno Domini 2017, devido à desertificação do território e à falta de uma exploração sustentada da terra e do meio ambiente, por via das Políticas Agrícolas Comuns assinadas a troco de 30 dinheiros para abate e abandono, convertidos em casario, barcos, parque automóvel e no deixar crescer do eucalipto, tenham sido aqueles onde Cavaco Silva teve as mais expressivas maiorias absolutas.
[Imagem "Ventosa, Vouzela, 16 de Outubro de 2017", Adriano Miranda]
No fundo a nova "reforma" da Política Agrícola Comum é mais do mesmo, quando os agricultores portugueses, em particular, e os europeus, em geral, eram pagos para não produzir e para manter a paz social nas auto-estradas e vias de comunicação entre a Espanha, França, Itália e a Alemanha. Agora os contribuintes europeus vão pagar 125 milhões de euros aos agricultores europeus afectados pelo embargo russo ou, como diz a comunicação social, a UE vai dar 125 milhões de euros aos produtores afectados pelo embargo russo. Quando a Argentina e o Brasil começarem a suprir as necessidades russas no campo da pecuária cá estarão os contribuintes europeus, perdão a União Europeia, para manter a paz social e a livre circulação de pessoas e bens nas auto-estradas e vias de comunicação entre o Pays-Bas, a França e a Alemanha.
Preocupamo-nos muuuuuito com a europeização da Ucrânia democracia na Ucrânia e a estalinização de Putin mas fomentamos o caos e a anarquia na Líbia e e no Iraque, negociamos com as cleptocracias africanas e as ditaduras árabes e fechamos os olhos aos atropelos aos direitos humanos na China. Se calhar é porque o dinheiro do contribuinte europeu não chega para tudo.
Cavaco Silva, O Avisador, quando nunca se enganava e raramente tinha dúvidas, pagou para arrancar olival. Filipe González, José María Aznar, José Luis Zapatero, e isto sim é consenso e visão e grandes opções estratégicas, muito diferente da "união nacional" passista que rima com passadista, pagaram para comprar terreno de olival arrancado em Portugal.
Despender 40 – Quarenta – 40 minutos de discurso no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, para falar do património histórico e arquitectónico, sem explicar porque é que uma percentagem dos milhões em fundos comunitários, nos idos em que era primeiro-ministro, não foi aplicada na sua restauração e recuperação; e a rever a história recente da agricultura portuguesa, sem eucaliptização massiva, desertificação e campos ao abandono, sem jipes nem casas com piscina nem plantações de fachada, para serem vistas da borda da estrada, como justificação para os subsídios distribuídos a eito pela clientela partidária para a desmantelarem e destruírem.
Nem défice, nem recessão, nem desemprego, nem crescimento económico, nem fome e miséria, que os oitenta e tal por cento de "auto-suficiência alimentar" [Stª Comba…Stª Comba…] não conseguem eliminar, nem Europa, nem nada. Depois da Casa Civil e da Casa Militar, a Casa Agrícola da Presidência da República, que ainda não tem Casa das Pescas porque, a desportiva no Guadiana, ali ao lado, não é relevante.
Este Presidente não existe, é um embuste. Um embuste ridículo.
Para que o Governo interfira na independência editorial da RTP recomende à televisão pública, os partidos que suportam a maioria recomendam ao Governo.
Com idade suficiente para ter apanhado a escola primária marcelista, que diferiu da salazarista por ter acrescentado a 4.ª classe à 3.ª, e sem espírito crítico suficiente para interpretar o que lhe foi lhe foi ensinado, limitou-se a absorver e a acreditar piamente. [Limitou-se, upgrade: limita-se, vide a fé cega na escola económica austríaca]. Por exemplo, a crença profunda no mito da ruralidade, de que já tinha deixado pistas durante a campanha eleitoral. Volta agora à carga, demonstrando uma profunda e gritante ignorância sobre o que é a agricultura, sobre o que é ser agricultor. Em Portugal e em Portugal no seio da União Europeia. Uma sachola e um ancinho, as couves e as batatas, a mulher em casa mais os filhos e os passarinhos nas árvores a cantar.
E do pagar para abater e arrancar, do subsidiar para não produzir, este paleio da auto-suficiência alimentar transporta-me inevitavelmente para outras auto-suficiências. Cheira a mofo de quase 100 anos.