"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Uma pessoa desequilibrada agride uma médica numa urgência psiquiátrica e o evento é apresentado no telejornal da RTP 1 como exemplo de agressão a profissionais de saúde num trabalho sobre as agressões no Serviço Nacional de Saúde [nos idos de Correia de Campos todos os dias nascia uma criança numa ambulância].
O que se espera da televisão pública é informação de qualidade e isenção que as televisões privadas não têm, subjugadas que estão à agenda da saúde privada [principal beneficiária da campanha cerrada de desinformação e ataque, em curso contra o SNS], pela dependência das receitas publicitárias, provenientes dos grupos económicos proprietários de hospitais privados, seguros de saúde, e com participação accionista nos media, quer pela orientação política e ideológica da redacção, nomeada pelo accionista, perante o qual responde através de resultados e objectivos pré estabelecidos pelo grupo, numa lógica de funcionamento em circuito fechado.
É por haver pena de morte nalguns estados dos Estados Unidos da América, ou por haver a Lei de Talião em algumas zonas do globo, ou a Charia nalgumas sociedades islâmicas que o assassino pensa duas vezes antes de premir o gatilho ou de espetar a faca? À direita no poder, do respeitinho pela autoridade, dava muito trabalho perceber e tentar corrigir as causas e as circunstâncias que levam a que alguém, em desespero de causa e de cabeça perdida, descarregue a sua raiva e frustração sobre o primeiro representante "deles" que lhe aparece pela frente quando, na maior parte das vezes, é o fruto de uma vida de trabalho, de sofrimento e privações, que vê esfumar-se na frente do nariz, vítima das circunstâncias, por causas que lhe são estranhas, e onde o único papel que lhe cabe é o de dano colateral das políticas da direita, do respeitinho pela autoridade, no poder.