"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
- Que violência chama violência e quem quem passa a vida a insultar e agredir verbalmente os outros só pode esperar a retribuição, é uma questão de tempo. E depois lá virá o Calimero com o dia negro e o atentado à democracia e a liberdade e o coise e tal quando dos maiores atentados que se podem fazer à democracia e ao Estado de direito democrático são as agressões a jornalistas e a coacção à imprensa, mas isso não é merecedor de condenação ou reparo.
- Que Joseph Goebbels inventou tudo o que havia para inventar em matéria de propaganda e agit-prop e que agora é só ir buscar e remasterizar porque há sempre uns pobres de espírito dispostos a tudo papar.
E foi um processo em crescendo. Começou com a insinuação de fraude eleitoral. Passou para a fraude dos ciganos inventados. Uma perseguição automóvel do Bloco de Esquerda. Uma incursão em território religioso que correu mal e passou ao lado da generalidade da comunicação social. Até uma tentativa de apedrejamento por ciganos verdadeiros com cartazes da candidata que o vai remeter para a terceira posição nas Presidenciais numa luta ombro-a-ombro com o candidato comunista. Tipo a facada do Bolsonaro, mas como os ciganos modernos não usam facas os ciganos inventados estavam lá atrás preparados para que tudo corresse pelo melhor. E o melhor tinha de ser hoje, o penúltimo dia de campanha, porque se fosse amanhã, o último dia, não servia para nada porque não era notícia em lado nenhum por causa do "dia de reflexão".
Percebem?
[A montagem de Bernie Sandres na recepção cigana ao Ventas é do Nuno Alexandre]
A arte da agit-prop de direita em passar para a opinião pública um Governo com um cadastro de 4 anos de inconstitucionalidades, mentira e manipulação como um Governo honesto, fiável e de boa-fé.
Para a semana o primeiro-ministro vai às compras a uma mercearia em Massamá e, por coincidência, vai lá estar, também às compras, um jornalista e um fotógrafo. E Pedro Passos Coelho vai pagar em cash. Por causa das coisas.
Primeiro foi o elogio do enorme feito que foi o Governo ter sido feito sem que nada transpirasse, às mijinhas como é(ra) da tradição, para a comunicação social. Só no próprio dia e depois do conhecimento prévio do Presidente da República. Um bom começo, escreveu-se e disse-se por tudo o que é poiso de paineleiros e politólogos. Estava tudo embalado de boca cerrada e de 5.ª velocidade metida e eis senão que, transpira por todos os poros e sem que tenha sido dado cavaco prévio a Cavaco Silva, uma colossal fuga de informação sobre um colossal desvio nas contas públicas. Se formos todos burros [atenção ao “se”] ficamos desde já preparados para a má nova que é o Governo não conseguir cumprir os objectivos acordados [por causa de] e para o colossal novo imposto que vai ser suado pelos portugueses [por causa de]. Os 50% que sobram do 13.º mês?
(Imagem cartaz chinês de propaganda “Sing revolutionary war songs with fervor, and move forward in victory”)
Obviamente que ao PCP interessa a agitação de rua; ou melhor, agitar o descontentamento das pessoas. Mas dentro de certos limites. E os limites certos para o PCP são: desde que as manifs e os protestos sejam enquadrados pelas chamadas organizações de base; sejam elas os sindicatos, colectividades, ou outro tipo de organizações, (de preferência infiltradas por militantes do Partido, ou pelos chamados independentes, mas com ligações fortes à organização comunista. E a prova-provada (vox populi) é que em 34 anos de Democracia, o PCP, a primeira vez que convocou e organizou uma manif a solo, e sem a capa dos sindicatos foi no dia 1 deste mês.
O dilema do PCP em relação às manifs convocadas por sms e e-mail agora tão em voga é, exactamente o mesmo que tinha em 1974/ 75 com as manifs convocadas por grupelhos esquerdistas (léxico Hotel Vitória). Fomentam a agitação da qual o PCP pode vir a tirar proveitos, mas ao mesmo tempo pode vir a ser-lhes prejudicial se a coisa se descontrolar e com isso ganhar uma imagem negativa na opinião pública. É por isso que o PCP não comete erros de palmatória em apoiar “manifs” dos Verdes Eufémios, ou dos Anarkas-Okupas do Chiado, como fez por exemplo o Bloco pelas palavras de Miguel Portas (curiosamente um ex-PCP…), no caso do milho transgénico, sendo depois obrigado a vir desdizer-se devido ao impacto negativo da “manif”.
Sobre o comentário de Barão (última parte):
Pois. O problema é o mimetismo quase perfeito entre o líder partidário e o primeiro-ministro, ou entre o militante partidário e o ministro. E não me estou a referir especificamente ou exclusivamente a este / estes (deste) Governo. O mal tem tantos anos quantos o 25 de Abril. As peles confundem-se; principalmente em épocas de pré-campanha e ás vezes mesmo em campanha eleitoral. Onde é impossível distinguir o candidato do governante. Dá-lhes jeito… Os assobios não são mais do que levar por tabela. Fomentaram o mimetismo; os assobiadores aproveitam-se dele.