"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Interessante seria saber quantos dos abrangidos por esta medida, ou que a breve prazo venham a levar com ela em cima, são eleitores do partido da taberna, pela cruz no boletim de voto, ou por terem ficado em casa no dia das eleições. "É tudo uma cambada de ladrões!", "Querem é todos tacho!", "É tudo a mesma merda!", "A minha política é o trabalho!". Os malandros, manhosos, calaceiros do subsídio de desemprego, que ali se deixam ficar, porque sim e não por um azar da vida, que usufruem duma benesse do Estado, do nosso dinheiro, e não porque descontaram para isso, para o caso de se verem nesta situação. Quem vai procurar activamente emprego com o[s] filho[s] ao colo, o Governo que opta pelo mais fácil - cortar, ao invés de cumprir a sua função - responder às carências das populações, a infância roubada pela ausência de interacção com os outros da mesma idade.
O ódio da direita aos pobres na arte de conseguir com que os menos pobres achem esta uma medida justa e racional.
Cai uma avioneta em cima de um hipermercado e Marcelo chega lá primeiro que os bombeiros, descarrila um eléctrico no Chiado e Marcelo chega primeiro que a polícia [ia a passar...], pode haver erupção de vulcão nos Açores e Marcelo anuncia que vai a caminho. Marcelo chega às 17 horas do continente aos Açores para regressar ao continente às 17 horas dos Açores ao continente, não foi atrapalhar, foi "dar força" às populações. Marcelo é aquele gajo que vai na auto-estrada e pára para ver o acidente em sentido contrário, do outro lado do separador central, e com isso provoca um engarrafamento colossal atrás de si desde o tabuleiro da ponte até ao Casal do Marco.
Quando era puto havia no bairro um pateta, sempre "a rir sem ser por nada", como na canção do Zeca. Ouvia travar a fundo na estrada e estava lá para ver o acidente, falava-se que tinha afundado um bote na doca e lá ia ele a correr ladeira abaixo, uma pessoa foi colhida por um comboio e lá andava ele no meio da linha a espreitar por cima dos bombeiros, "mas que grande reinação", também como na canção do Zeca. Além de que marcava presença em todos os funerais e velórios mesmo não conhecendo o defunto. Era conhecido como o maluco do cemitério.
São manifestamente exageradas as notícias do harakiri político de André Ventura em resultado da ameaça dito-não-dito, seguida da desautorização recebida da parte do deputado único açoriano, que motivou mais um número circense de contorcionismo, como avançam alguns comentadeiros-opinadores com lugar cativo nos media.
Desvalorizar a acefalia seguidista dos eleitores do Chega, partido que não pode ser analisado pelo prisma dos partidos tradicionais da democracia, que vêem no líder um herói impoluto e incorruptível, justiceiro predestinado salvador da pátria. Parece que não aprendemos nada com Trump.
O líder do maior partido da oposição gastar vinte minutos de uma entrevista de quarenta e sete para se justificar justificar que um partido que vale 1% dos votos em urna, e do qual depende, qual Mephisto, para se alçar ao poder numa região autónoma, não é um partido neo-fascista e que até se modera quando chamado à razão.
Jorge Moreira da Silva, ex-ministro do Ambiente de Pedro Passos Coelho, considera uma traição o acordo nos Açores com o Chega de André Ventura, ex-camarada de partido lançado por Pedro Passos Coelho nas eleições autárquicas em Loures, era Jorge Moreira da Silva ministro. O circo nunca acaba.
"Oficialmente, a direção nacional do PSD não teve nada a ver com o acordo alcançado com o Chega nos Açores. Oficialmente, o entendimento cingiu-se ao plano regional. Oficialmente, Rui Rio e André Ventura não se articularam acerca das negociações.
PSD e Chega acertaram entendimento político ao mais alto nível, em Lisboa. Comunicado em que Ventura anunciou o entendimento final foi limado pelos sociais-democratas."
"O único problema passou a chamar-se Chega e não foi valorizado nem por Pedro Catarino nem por Marcelo Rebelo de Sousa ao ponto de entenderem que a solução de Governo apresentada pela coligação PSD/CDS/PPM (e que conta com o apoio do partido de André Ventura e do IL) devia ser rejeitada."
"Voltando a este lado do atlântico, temos a insistência de que qualquer entendimento com o Chega, que há meses aderiu oficialmente à família política europeia de Le Pen, Salvini e Wilders, é tão condenável como entendimentos com BE e PCP, que serão tão ou mais extremistas que este.
Esta banalização da extrema-direita, além de indecente e absurda, ignora a história política e legislativa do PSD, que foi acordando e aprovando com o PCP múltiplos diplomas que hoje moldam a nossa sociedade. A começar pela Constituição da República, aprovada por ambos em 1976.
A lista é extensa e abarca várias matérias, legislaturas e lideranças. PSD e PCP aprovaram juntos a Lei de Bases do Sistema Educativo (votada em 1986), a Lei-Quadro da Educação Pré-escolar (1996) e a Lei sobre a Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico (1988).
Aprovaram a Lei de Bases do Ambiente (1987) e a Lei de Bases da Política Florestal (1996). Votaram favoravelmente ambos a Lei-Quadro dos Museus (2004), a Lei de Bases do Voluntariado (1998) e Lei de Bases da Economia social (2013). Aprovaram o Estatuto do Cuidador Informal (2019).
Votaram a favor das leis da educação sexual e planeamento familiar e da protecção da maternidade e da paternidade (1984) e a Lei de Bases dos Cuidados Paliativos (2012). Aprovaram e propuseram conjuntamente a Lei dos direitos e deveres do utente dos serviços de saúde (2014).
Foram aprovando e redigindo juntos leis, votos e resoluções fundamentais sobre a transferência de Macau para a China (desde 1987) e sobre a luta pela independência de Timor (desde 1990). Aprovaram ambos a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (1997).
PSD e PCP (e BE, a partir da sua eleição) fizeram parte das maiorias que aprovaram a adesão nacional à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Descriminação contra as Mulheres (1980) e à Convenção de Istambul, que previne e combate a violência doméstica (2013).
Aprovaram as Convenção da @ilo (International Labour Organization) sobre a liberdade sindical e a protecção do direito sindical (1977) e a relativa às migrações em condições abusivas e à promoção da igualdade de oportunidade e de tratamento dos trabalhadores emigrantes (1978).
Aprovaram juntos as Convenções da ONU dos Direitos das Crianças (1998) e a Convenção Internacional sobre a eliminação de discriminação racial (1982). Aprovaram ambos a Carta Social Europeia (1992) e a Convenção-Quadro Europeia Para a Protecção das Minorias Nacionais (2001).
Votaram conjuntamente a favor da adesão de Portugal à Convenção Europeia dos Direitos Humanos (1978). Aprovaram a adesão aos pactos das Nações Unidas referentes aos Direitos Civis e Políticos e aos Direitos Económicos, Sociais e Culturais (1978).
PSD e a "extrema-esquerda" fizeram e aprovaram a Lei da Iniciativa legislativa de cidadãos (2003) e a Lei eleitoral para a Assembleia da República (1979). PSD e PCP aprovaram juntos o Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores (1980).
Muito deste quadro legislativo e constitucional teria a oposição do chega. Naturais, óbvias e saudáveis divergências ideológicas à parte, o PSD sabe que a grande maioria da população vê o PCP e o BE como partidos democratas - o que torna perigosa a equiparação com quem não o é.
Dirigentes do PSD vêm agora condenar quem fez legislou com o PCP e BE, procurando desculpar a sua aliança com a extrema-direita. Vêm agora a correr para classificar partidos com quem fizeram a nossa democracia como algo ao mesmo nível de quem preferiria que ela nunca existisse.
Hoje, com todos, festeja a derrota de Trump e dos valores que representa. Em 2013, @RuiRioPSD afirmava: “O que me assusta não é o perigo de uma ditadura clássica, o que me assusta é que não vai haver uma revolução como em 1926 e vamos assistindo à degradação lenta da democracia".
Não sei como se trava a alegada "degradação lenta da democracia", mas de certeza que não é ao lado de quem defende os valores do regime instaurado em 1926. É ao lado de quem o derrotou e depois o enquadrou em 1976. E o foi construindo. Para melhor."
Pelo boneco do partido dos bonecos nos Açores ficamos todos a saber que, a vermelho, podia lá ser de outra cor, desde a Índia ao Paquistão, passando pela oligarquia russa e o Irão dos ayatollas, até ao Brasil de Bolsonaro, é tudo socialismo, ao passo que os países nórdicos, a azul, que têm cargas fiscais das mais altas do mundo, sectores públicos pesadíssimos e um Estado social forte, é tudo liberalismo. Para o cinzento a legenda é omissa, se calhar por ser o "lebensraum", palavra proibida, do capitalismo predatório.
Marcelo esteve ao telefone não-sei-quantos minutos com Trump para falar sobre coisas e sobre as Lajes. Só lhe fica bem, dar uma palavrinha ao homem mais poderoso do mundo, a preocupação com a economia da insularidade, a cooperação institucional entre a Presidência e o Governo, quantos mais melhor. Mas Marcelo publicitou aos quatro ventos que tinha estado não-sei-quantos-minutos ao telefone com Trump. E só podemos imaginar Trump a proferir "fantastic!" e "amazing!", duas expressões que já lhe são imagem de marca, por ter estado ao telefone não-sei-quantos-minutos, a falar sobre coisas e sobre as Lajes, com alguém que meteu a foice em seara alheia, meteu o bedelho onde não era chamado, a discutir com o homem mais poderoso do mundo matérias que não são da sua competência política e institucional.
O Manuel Palito reloaded ao sexto dia na Serra da Freita, o assalto ao hipermercado no Barreiro, e as eleições nos Açores, na região Autónoma dos Açores, parte integrante do território nacional, ao 11.º minuto de telejornal na SIC, num directo de 40 segundos antes da ida para intervalo, o intervalo para onde a TVI foi sem dar notícia do acto eleitoral. O facto de a direita radical ter sido esmagada nas urnas foi, por certo, uma coincidência sem interferência directa no alinhamento noticioso que remeteu para 3.º plano as eleições ganhas por Vasco Cardoso, "um personagem simpático", "num meio pequeno", numa análise onde o PS não foi tido nem achado, por Marques Mendes, ex-líder do PSD.
"Se Deus quiser" o CDS vai ganhar as eleições em S. Miguel. Assunção Cristas, com João Almeida como emplastro, ao lado de Ana Afonso, cabeça de lista pelo círculo eleitoral.
Omnisciente, Omnipotente, Omnipresente e Omnivotante.