A propósito das 1 000 edições do JL que deixei ontem passar sem uma palavrinha
Eu tenho um problema com o JL; digamos assim, um ódio de estimação. Mais com a forma do que com o conteúdo. Não com a forma física do jornal que até me parece bastante simpática e agradável de ler ao tacto; é daqueles que se pode segurar com ambas as mãos e abrir sem precisar de ter uns braços da largura dos do Cristo-Rei de Almada. Mas a forma como o JL ficou colado a uma determinada fauna num determinado período da vida político-cultural tuga (e agora que penso nisso, ou como eles se colaram ao JL. Adiante). Passo a explicar.
Quando o JL sai para as bancas no Ano da Graça de 1981, não havia cão nem gato com uma boina basca no alto da pinha, uma barba mal semeada, óculos à John Lennon, sapatos de camurça bico-de-pato e uma mala de lona verde à tiracolo, daquelas compradas na Feira da Ladra, que não passeasse pela baixa com ele debaixo do sovaco. E depois fumavam SG ventil, só gostavam ouviam música brasileira e discos da ECM, que insistiam em classificar como jazz. Só de me lembrar já me está a apetecer beber uma garrafa de Água das Pedras!
É que naquela altura, acabadinhos de sair do Punk e a começar a ressacar com a New Wave, ainda calçávamos botas da tropa, fumávamos SG Filtro com mistura, usávamos o cabelo descoberto e arrepiado, e alguns tinham o mau hábito de ler o Expresso, o jornal dos fassistass.
Convenhamos, Cozido à Portuguesa não vai com Galão.