"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O taberneiro descaiu-se e afiançou que uma das "forças vivas" do PSD que quer o bando de delinquentes como solução governativa é Ângelo Correia, o pai da criança Passos Coelho, das "gorduras do Estado" e da "subsidiodependência" e da "peste grisalha", o Ângelo Correia que em 24 de Outubro de 2011 aceitava o "corte de 14% nas subvenções vitalícias de ex-políticos que trabalhem no sector privado" mas não a sua eliminação por se tratar de um "direito adquirido" [link morto], o Ângelo Correria que um ano antes, a 14 de Junho de 2010, defendeu nas páginas do Correio da Manha [sem til] que "o direito à saúde, ao ambiente, à habitação e à educação deve estar dependente da capacidade financeira do Estado, que "em boa verdade, e numa democracia, "adquiridos" são os direitos à vida, à liberdade de pensamento, acção, deslocação, escolha de profissão, organização política e outros direitos correlatos" [link morto]. É o que vos espera, todos os direitos são adquiridos mas há mais direitos adquiridos que direitos adquiridos na "limpeza de Portugal".
O inestimável e impagável trabalho que o jornal do militante n.º 1 está a fazer para descredibilizar de uma vez por todas toda e qualquer investigação que venha a ser feita a paraísos fiscais.
Ângelo Correia, que sabe muito mas que, infelizmente, não anda a pé [e merecia], só não faz uma pergunta, curiosamente a pergunta que deve ser feita: porque é que os nossos jovens, como ele diz, as futuras elites, também dito por ele, quando acabam os cursos, pagos com o dinheiro dos nossos impostos e com o esforço dos pais e das famílias, se põem na alheta, dão de frosques, emigram, como já não se via desde os idos do velho de Santa Comba? Porque lhes apetece, porque lhes deu na real gana, porque sim? Pois.
O pormenor é que, ou por silêncios cúmplices ou por omissões desculpabilizadoras, ainda só vamos na fase "o PSD não se preparou para ser Governo", quando passarmos à fase "Pedro Passos Coelho não se preparou" é que vão ser elas.
Dois anos, 900 mil desempregados e 50 mil [oficialmente] novos emigrantes depois, descobre aquilo que toda a gente mais avisada já vinha a avisar antes de acontecer, que "o PSD não se preparou para ser Governo".
Só que o criador, que já não se baba ao contemplar a criação, nunca irá descobrir que a falta de consistência do discurso não é só em relação à Constituição, vista de uma cervejaria em Munique, mas que a falta de consistência do discurso é a falta de consistência do discurso ponto final, cheio de duplicidade de critérios, igual ao discurso do "pai".
«Ângelo Correia é padrinho político de Luís Filipe Menezes e de Pedro Passos Coelho […]». Upgrade: tentou ajudá-los e não conseguiu, tenta agora ajudar Paulo Portas.
Depois da mãe do seu filho, depois do irmão inseparável do filho da sua mãe, o padrinho arrependido e amigo do antigo, mui nobre, sempre leal e invicto, ou como, em menos de um fósforo e sem ir a votos, Paulo Portas arrisca passar de líder da oposição a líder da direita.
Ver Ângelo Correia, esses mesmo, aquele que se baba todo quando lhe dizem que tem ascendente sobre o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, no telejornal do Mário ‘Goes to Washington’ Crespo, insinuar que esta vaga de emigração entre os licenciados se deve às universidades que insistem num modelo de formação desfasado da realidade socioeconómica do país, com claro prejuízo para os formados e para o Estado que investe na sua formação. E Helena Roseta ficou-se…
Leio sempre o Manuel António Pina. Todos os dias. E quando por alguma razão não aparece sinto falta dele. Não sabia era que também era lido pelo Manuel António Pina.
O Ângelo Correia que aceita o «corte de 14% nas subvenções vitalícias de ex-políticos que trabalhem no sector privado» mas não a sua eliminação por se tratar de um "direito adquirido", é o mesmo Ângelo Correia que no dia 14 de Junho de 2010 defendeu no Correio da Manhã que o direito à saúde, ao ambiente, à habitação e à educação deve estar dependente da capacidade financeira do Estado, acrescentando que «Em boa verdade, e numa democracia, "adquiridos" são os direitos à vida, à liberdade de pensamento, acção, deslocação, escolha de profissão, organização política e outros direitos correlatos. […] Continuarmos a insistir em "direitos adquiridos intocáveis" é condenar muitos de nós a não os termos num qualquer dia do futuro. E isso seria muito mau.»?
Se calhar por serem Notas ao Fim da Tarde e derivado ao cansaço de um dia de trabalho…
Quem assim fala tem sido um dos principais beneficiários com o estado em que as coisas (ainda) se encontram), com os baixos salários, com a ausência de educação e de cuidados de saúde, com os atropelos aos Direitos Humanos em geral e das mulheres em particular, com a inexistência de um sistema de segurança social, hábil e inteligentemente colmatado por organizações fundamentalistas e terroristas, com a cumplicidade para com as ditaduras corruptas e torcionárias, e a que se convencionou chamar "realpolitik". Para ser levado a sério o artigo devia vir assinado: Ângelo Correia, engenheiro (que a Direita é muito ciosa do estatuto), presidente da Câmara do Comércio Luso-Árabe.
Deixar sair as propostas a conta-gotas, como quem não quer a coisa, para ver a reacção do eleitorado e dos adversários políticos, para ver com o que é que se pode contar, para ver se pega, ao mesmo tempo que se vai preparando as pessoas, criando um clima de aceitação para o que aí poderá vir.
Com o título “Ângelo, o oráculo da tragédia social-democrata”, escreve Ângela Silva hoje no Expresso:
«Mas a convicção nos bastidores do partido é que Ângelo Correia antecipou o desastre que, a crer nas sondagens (a última, publicada no ‘Correio da Manhã’, dá 26% ao PSD), se avizinha. E não quererá ficar associado a ele sem, pelo menos, e caso se confirme, poder afirmar: “Eu avisei!”»
Vamos lá a ver se eu percebi.
Ângelo Correia é aquele senhor que foi ministro da Administração Interna de Pinto Balsemão, e que, a propósito duma Greve Geral, salvo erro a primeira que aconteceu no Portugal pós-25 de Abril – e recorrendo aos termos da jornalista do Expresso – “antecipou” um golpe de Estado, com base nuns pregos espalhados numa estrada não sei onde, e em meia-dúzia de armas encontradas num carro, que se viria depois a confirmar serem pertença de uns caçadores. Apareceu na televisão a “antecipar”; caiu no ridículo; ficou para o anedotário nacional, e meteu licença sabática, com manifestas vantagens para a saúde mental dos portugueses; até que Mário Crespo se lembrou de o ressuscitar como comentador.
Ângelo Coreia é aquele senhor que contra todas as vozes mais lúcidas e avisadas dentro e fora do PSD “antecipou” que Luís Filipe Menezes seria um líder excelente, capaz de levar o José Sócrates e o PS à derrota eleitoral em 2009.
Ângelo Correia é aquele senhor, que, segundo Ângela Silva, “não quererá ficar associado” o erro de casting que dá pelo nome de Luís Filipe Menezes.
Ângelo Correia, e falando português corrente, já está a fugir com o rabinho à seringa.
Ângelo Correia é ele próprio um erro de casting; o exemplo acabado de como é saber movimentar-se dentro da estrutura partidária, num partido de Governo; a única explicação plausível para ter chegado – politicamente – onde chegou.
Ângelo Correia não é "oráculo da tragédia social-democrata"; é mais Laio nas Fenícias de Eurípedes, que, com medo da maldição de Ares, abandona Édipo, filho seu e de Jocasta, na encosta do Monte Cíteron. Todos sabemos como isto acaba.