Sinais exteriores de riqueza
Cresci num bairro de pescadores em Setúbal onde a miséria era mais que muita, eles "ao mar", elas nas fábricas de conservas, ou "a dias", como então se dizia, os filhos na escola até à 3.ª/ 4.ª Classe e ala para o mar ajudar o pai na traineira, ou o orçamento familiar, que se faz tarde, com muito boa sorte aprender um ofício que lhes permitisse fugir às redes e a andar descalço ou de chinelos de enfiar no dedo antes de haver havaianas. Quando a vida melhorava para alguns, o "elevador social" como agora se usa, o sinal exterior de riqueza era um carro, de preferência 'amaricano', os europeus não davam nas vistas e os japoneses tinham a chapa que era uma merda, um toque e ficava tudo amassado, bate-chapas e tinta Robiallac, quem era pobre, um degrau acima de miserável, andava de pasteleira. Lembrei-me disto por ver a reportagem no El Mundo sobre Salt e Gerona, "Ciudad pobre, ciudad rica", ilustrada por uma foto onde o símbolo da riqueza é ir de bike com o filho à pendura. As voltas que o filho da puta do mundo dá.