Quando o estigma cigano começa no próprio cigano
Entras numa loja de marca numa grande superfície. Griffe, classe média alta/ alta. És atendido por um cigano. Sem nada que o indicie, da cor da pele, à maneira de falar, passando pela barba e corte de cabelo. Extremamente bem parecido e bem arranjado, tipo catwalk Moda Lisboa. Só sabes que é cigano porque o conheces de vista, a ele e à família, aos membros mais velhos, mais tradicionais. Perguntas por um fato, deixa-me cá escrever paletó por causa dos ignorantes do Acordo Ortográfico, medida acima da que está no expositor. Não há. Perguntas se há noutra qualquer loja da marca. Faz check no computador e vira o monitor para ti, "como pode ver não é má vontade, não há mesmo". Voltas com outro fato, outro padrão, a mesma pergunta, a mesma resposta, o mesmo virar de monitor. Nunca ninguém te tinha feito isto em tempo algum em loja alguma em alguma marca. Não há, não há, ponto final, não é preciso o vendedor fazer prova de fé. Sente-se visto como cigano, o que engana as pessoas na feira, por aqueles que não o vêem como cigano e nem sequer sabem que ele o é. Tem de se justificar. Tiraste o cigano da feira mas não tiraste a feira do cigano.
[Imagem de autor desconhecido]