O Pátio dos Impostos
Que uma casa no Chiado não vale o mesmo que uma casa em Chelas já toda a gente sabe, há muitos anos até, foi por isso que começou a haver barracas em Chelas, no tempo em que as pessoas que podiam comprar uma casa iam morar para Santo António dos Cavaleiros, que morar no Chiado era uma coisa dos filmes com o António Silva e o Vasco Santana e, vendo as coisas pela positiva, até foi bom que assim acontecesse porque esteve na origem de uma quantidade de profissões e na criação duma quantidade de empregos dedicados ao estudo sociológico e psicológico e analógico e patológico e "insertor" social dessa nova espécie humana que vivia nos subúrbios e nos subúrbios dos subúrbios, para chegarem, todos, os sociólogos e os psicólogos e os analistas e os assistentes, ao mesmo tempo à mesma conclusão, que as pessoas não viviam no centro de Lisboa porque os preços eram incomportáveis, exactamente como começou o post e o que esteve por detrás da ida das pessoas acampar campismo selvagem para Chelas e deprimir para Santo António dos Cavaleiros e inaugurar uma quantidade de esquadras de polícia, o que só vem dar razão à teoria marxista de que o crime faz a sociedade andar para a frente, podiam era ter poupado uma quantidade de anos de trabalho e de investigação se perguntassem directamente às pessoas "olhe, o senhor, fachavor, porque é que veio armar uma barraca em Chelas?", "olhe, fachavor, a senhora, porque é que veio com os seus dois filhos para uma T3 numa torre com 9 andares com frente, esquerdo e direito e com a casa da porteira alugada a um casal cabo-verdiano com sete filhos?".
Agora que em Chelas, no lugar onde dantes haviam barracas, há habitação e não uma habitação qualquer mas habitação a apanhar sol todas horas que o dito está no ar e com uma vista maravilhosa para o Tejo e para as duas pontes, é taxar o conforto de Chelas que espaço para construir barracas é o que para aí não falta. E nem sei se estão a ver isto transposto para o Rio de Janeiro, favela acima, é sempre a subir o IMI, ainda mais força ganha a canção do Gabriel, O Pensador, "eu queria morar numa favela".
Esquerda impostora, de invenção de impostos e também de patranheira e embusteira, era só o que faltava e vem mesmo a calhar para a direita impostora fazer esquecer a direita impostora. E já nem é anedota o "qualquer dia até o ar que respiramos paga imposto", é caso mesmo sério, já ninguém se ri, a começar pelos que optaram morar no campo pelo preço das casas e pela qualidade de vida.
[Na imagem Favela da Mangueira, Rio de Janeiro]