||| O medo do outro
Corria o ano de 1986, mais própriamente o mês de Setembro, estava a França a ressacar dos atentados terroristas dos anos 70/ 80, Abu Nidal, Fatah, Carlos Martel, Hezbollah - e ainda estava para acontecer o de Fouad Ali Saleh em Paris, andava eu num Interrail e vinha de San Remo, Itália, pela agora famosa fronteira de Ventimiglia, em direcção a Marselha quando, algures entre o Mónaco e Nice, entra no compartimento que partilhava com um casal e respectiva filha, 5/ 6 anos de idade, um fulano de tez escura, assim a atirar para o marroquino/ argelino e com muito muito muito mau aspecto, demasiado mau aspecto até mesmo para os padrões de quem faz Interrail com mochila às costas. Sem se dignar a um bonjour, empurra a menina e senta-se, mais o seu mau aspecto e também falta de educação, com uma mala de viagem entre as pernas. Levanta-se passados 15/ 20 minutos, sai do compartimento e deixa ficar a mala que trazia em cima do banco. Assim que fecha a porta atrás de si diz-me o francês, do casal, pai da menina, “se ele não voltar dentro de 5 minutos deito a mala pela janela”. Mas voltou, saiu algumas estações depois com o mau aspecto com que tinha entrado e lá foi à sua vida. É este o trunfo do terrorismo, o medo do outro, a começar por quem foge aos padrões estabelecidos pela sociedade
"Enquanto aguardava pelo embarque estive a fazer meditação com um cronómetro e tinha no telemóvel caracteres tibetanos, que estive a recitar. Um casal pensou que eu estava a ler passagens do Corão"
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