É uma questão de cultura instalada
Nos idos de Salazar e Caetano havia uma coisa chamada Tribunais Plenários onde os presos políticos, depois de dias, semanas, meses de tortura física e psicológica, eram apresentados aos meritíssimos juízes, às vezes com sinais evidentes da violência física sofrida que só um cego não via, onde eram condenados pela pena que os torturadores da polícia política pediam e não se falava mais nisso. Depois deu-se a revolução de 25 de Abril de 1974 e os mesmo juízes que condenavam a pedido, ignorando a vítima e os direitos humanos, fizeram a transição para a democracia, directamente e sem passar pela prisão como no jogo Monopólio, e ainda com o brinde Caixa da Comunidade, com o tempo a contar para efeitos de progressão na carreira e reforma, só não julgando os antigos torcionários torturadores porque em Portugal os pides tiveram como prémio da democracia uma pensão vitalícia. Quase 50 anos passados sobre o dia da liberdade é muito pouco provável encontrar juízes desse tempo na magistratura, nem sequer se podem comparar os de má-memória Tribunais Plenários com os tribunais da democracia no Estado de direito, mas a cultura instalada, o sentimento de impunidade, o Olimpo onde se colocam e se acham por direito, esse continua a ser o mesmo.
[Imagem "Judges" by Jerrold Litwinenko]