"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Entre 2011 e 2015 o mérito do Governo da direita radical [PSD/ CDS] em conseguir o crescimento do PIB na base do aumento das exportações e na aposta no turismo. De 2015 até ontem é um crescimento com pés de barro e de risco porque assente nas exportações e no turismo.
E as pessoas continuam a ser enganadas pelas operadores da televisão por cabo com a oferta de cento e não sei quantos canais pela "módica quantia de ___", quando só vêm 4 e todos reproduzem o mesmo discurso sem diferença entre si que não seja no logótipo.
E quem conseguir ler mais do que o primeiro parágrafo, antes de começar o desfile de imagens dos encontros imediatos entre os turistas tradicionais e dos turistas acidentais, chamemos-lhe assim, sem sentir uma náusea com as declarações dos infelizes dos bifes que pagaram umas férias para se embebedarem até ao coma e ficarem cor de camarão mal-cozido logo no primeiro dia e que afinal têm de gramar com a miséria fruto da aliança militar entre Blair e Cameron e o amigo amaricano, não por causa da miséria ela própria mas pelas férias estragadas e a paisagem desfigurada...
Alguém que tenha uma casa, por exemplo, no Algarve, segunda habitação, herdada, o que quer que seja, desocupada todo o ano, ou ocupada um mês por ano, como queiram, quem é que impede esse alguém de emprestar a casa a um familiar, a um amigo, a um conhecido, como queiram também, xis dias durante o mês ípsilon para passar férias e até como forma de mostrar, para ladrão ver, que há gente ali?
O Estado, para o caso o fisco, vai plantar um fiscal à porta de cada habitação ou moradia a pedir a factura e o recibo do aluguer? "É pá, desculpe lá mas a casa foi-me emprestada por uma amigo", é isso?
E quem é que impede alguém, que pagou o aluguer duma casa para passar férias durante xis dias no mês ípsilon, muito mais barato do que um apartamento, aparthotel, hotel, de dizer, previamente combinado com o alugador, ao fiscal plantado pelo fisco ali à porta, que "não senhor, não paguei um cêntimo de euro pelo usufruto da casa, sou amigo do dono, é uma troca de favores, ocupo a casa durante xis dias durante o mês ipsílon e, enquanto ocupo a casa, além de ajudar na água, no gás e na electricidade, dou nas vistas porque o ladrão vê que há gente aqui"?
O que vai acontecer é que cada vez vai haver mais gente com "amigos" com casa no Algarve onde até fazem o favor de ir passar férias.
Passos Coelho que, depois da Teconoforma, para sacar fundos comunitários e da ONG, para sacar fundos comunitários, quer moralizar e disciplinar o acesso ao uso e ao mau uso dos fundos comunitários, quer também disciplinar a fuga ao fisco e o turismo paralelo, depois das férias "clandestinas" na Manta Rota.
Terra de tradição surfista, com praias paradisíacas, num cenário de arquitectura industrial em ruínas a envolver a memória dos bairros operários, decadentes e ao abandono, e do que foi e podia ter sido o caminho-de-ferro como via de comunicação rápida e limpa, antes de Cavaco Silva, primeiro-ministro, ter avisado que a prioridade era desindustrializar e apostar no alcatrão. A seguir pagam a um filho ou a um neto de Cousteau para mergulhar no antigo cais da Fisipe, "o ecosistema nos fundos lodosos dos metais pesados"?
E a triagem feita em Espanha aos potenciais turistas.
Palácio Real de Sevilha, junto à Catedral e ao Alcazar, mesmo mesmo mesmo no centro histórico da cidade. Exposição Azulejo Português – Diálogos Contemporâneos.
Pergunta ao segurança: Pode-se visitar lá em cima? Resposta: Hummm… poder pode, mas aquilo não tem lá nada...
Numa sala com 300/ 400 m2 o que aparece nas fotos, nem mais nem menos.
Os patrocínios da "exposição" aparecem no cartaz de recepção na recepção.
Há quem esteja a ganhar dinheirinho com a destruição de "a nossa imagem no exterior". Não se sabe se o nome aparece patrocinado no cartaz.
E não lhes ocorreu colocar cabines de portagem, com pagamento automático, Via Verde, e portageiros, escudados na desculpa de mau-pagador, para o efeito renomeada de "problemas técnicos", porque há muitos nós e muitas entradas e muitas saídas e muita falta de vontade.
E cabines de portagem implica investimento que é coisa que está fora do horizonte visual deste Governo que só vê lucro no imediato, portageiros implica criação de emprego e direitos e encargos com a Segurança Social e, por enquanto, o pessoal do RSI só vai trabalhar de graça para as autarquias e IPSS.
Quando o trabalho escravo for extensível a toda a economia talvez, mas se calhar já é tarde. Para o turismo, para a economia, para o país.
Quem são os destinatários do presidencial apelo? Traduzindo em números e percentagens, a quantos portugueses é que esta “preocupação” presidencial é dirigida? Ah pois…
O senhor Presidente vive no país das equipas de reportagem das televisões acampadas na sala de embarque do aeroporto da Portela de cada vez que á um furacão nas Caraíbas.
(Na imagem Charlie Chaplin and Jackie Coogan in The Kid, 1921)
Num mundo perfeito, ambas as margens do Sado seriam um enorme resort administrado por um engenheiro e o seu clã, livre de desdentados, e habitado por “gente bonita” wearing Gant & Lacoste by day, e Hermés & Saint Laurent by night, servidos por figuras pálidas e andrógenas pagas a recibos verdes.
(Na imagem do fotógrafo setubalense Américo Ribeiro, “Tendas feitas com velas de bateiras, remos e varas na Caldeira de Tróia, década de 1950”, no local onde o senhor engenheiro planeia construir mais um condomínio privado e por onde passam os catamarãs e ferries que não fazem mal nenhum aos roazes corvineiros)
«Se Portugal e a Espanha organizassem a fase final do Campeonato do Mundo de Futebol, em 2018, seria positivo para o turismo português em geral e para o algarvio em particular.
Se o painel tivesse sido alargado às empresas de construção civil, chegar-se-ia à conclusão que era necessário construir pelo menos mais 10 novos estádios de futebol, porque seria positivo para a criação de emprego e para a economia em geral, e para a empresa do Jorge Coelho em particular.
São aqueles lugares onde "não vive" ninguém. E os que por lá (sobre)vivem são assim a modos que mosquitos; estão lá para incomodar os turistas. O que é que se há-de fazer? Não há férias perfeitas…
Todos os anos a história se repete. Dos milhões de pessoas que vêm a suas vidas miseráveis ficarem ainda mais miseráveis por força da intempérie, nos jornais uma linha, daquelas sem virgula; nas televisões a tradicional imagem da enxurrada, mais umas vacas arrastadas, de pescoço de fora d’água, um cão em cima dum telhado. Desconfio até que seja sempre a mesma imagem. Este ano vou gravar para conferir com a do próximo ano.
Mas os turistas! Ah, coitadinhos dos milhares de turistas protegidos no hotel de 5 estrelas à prova de bala! E se forem portugueses então! (Já não bastavam os “mosquitos”…)
O Telegraphon-line tem desde ontem na primeira página, na Picture Galleries, uma entrada intitulada “The best of Portugal” que por sua vez linka para um “Portugal 2008: holiday planning guide”.
À parte sermos mais competitivos que a Espanha no que realmente conta para qualquer bife que se preze, cervejeiramente falando (não sei se existe o termo): uma Heineken por uma libra contra uma e noventa dois pis aqui ao lado; e no regime de pensão completa: 23. 06 libras aqui, para 46. 13 libras em Espanha; o que salta à vista são as imagens seleccionadas para ilustrar a “brochura”.
Com excepção dum interior de hotel, e de um hotel artisticamente encarrapitado numa arriba, são imagens, não digo do tempo de Salazar, mas talvez do tempo de Marcello Caetano. Do tempo em que no Algarve pouco mais havia que algarvios; em que o vinho do Porto era transportado nos barcos Rabelos; um país de humildes casinhas de xisto com roupa a esvoaçar nos estendais e onde os velhos, à falta de melhor, passam os dias a jogar às cartas nas proas dos barcos.
Um país com uma “untouched Atlantic Coast”; esperem aí até levarem com os PIN’s…
Um país onde “many resorts have on-site nannies and all-day activity clubs for children so parents can relax in the spa or play golf”; se os pais da Maddie não fossem burros…
Não sei porque é que insistimos em gastar milhões para promover campanhas West Coast; não sei porque é que avançamos alegremente para a destruição de tudo o que resta na “untouched Atlantic Coast” à sombra dos PIN’s; aliás até sei… estava a lembrar-me das declarações do bastonário da Ordem dos Advogados…
O que “eles” querem não é isso. E para lhes darmos o que querem, damos-lhes fotos dum tempo “antes do tempo”. Andamos a enganar-nos a nós próprios; andamos a enganá-los a eles. Só que o nosso engano trás consequências. Irreversíveis.