||| O lenço não é imagem de marca porque há o pescoço
Vi uma vez o House, que é doutor, recusar contratar uma especialista, competentíssima, para a sua equipa porque se apresentou na entrevista com uns stilettos calçados que a deixavam em sofrimento. O argumento, do House que é doutor, foi mais ou menos o de que não podia confiar em alguém que abdicava do seu valor intelectual e das suas competências profissionais, em prol da aparência e da primeira impressão, só para conseguir o emprego de que precisava. É a chamada "psicologia" dos sinais exteriores.
E serve esta conversa da treta para perguntar se podemos confiar em alguém, no exercício da actividade política, no desempenho de cargos políticos e/ ou públicos, quando esse alguém esconde permanentemente o seu corpo dos olhares exteriores, dissimula para que aquilo que é não seja visto; podemos confiar que não recorre à mentira e à dissimulação para fazer passar a mensagem política, para esconder, para que aquilo que é não seja?
A demissão de Teresa Leal Coelho não foi da direcção do grupo parlamentar do PSD, não. Ao abandonar o hemiciclo e recusar votar, segundo as suas convicções contra a directiva do seu partido, foi a demissão da cidadania. Nos pratos da balança o carreirismo político e o calculismo sobre os proveitos futuros, de quem teve muito trabalhinho para chegar onde chegou, pesaram mais que o superior interesse da criança.
E isto vale também para todos os outros, bonzinhos e preocupadinhos e envergonhadinhos, das declarações de voto, e para quem os lugarzinhos stilleto de deputado da Nação é a coisa mais peneirenta que pode haver.
[Imagem de Tim Etchells]